Jéssica

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– Ela disse assim? Deste mesmo jeito? – Rebeca exibia a expressão de maior surpresa desde que Jéssica lhe conhecia.

– Sem pestanejar, nem gaguejar. – Respondeu Jéssica com uma voz cansada. – Do mesmo jeito que me diria 'comi o último pedaço de bolo'.

– Gente... Eu estou chocada. Literalmente – Foi o que Rebeca conseguiu falar após ouvir toda a história contada por Jéssica. – Você sabe que é difícil algo me surpreender nessa vida. Sua irmã conseguiu...

– Eu sei... Mas não me surpreendi. – Jéssica caminhava e olhava para seus pés.

– Estou surpresa com a sua reação também... Se fosse comigo, eu deitava no soco. – Disse Rebeca socando a própria mão, Jéssica riu imaginando a amiga numa briga. – Como desconfiou?

– Além da diabinha que você viu na festa? – Rebeca confirmou com a cabeça, Jéssica prosseguiu. – Eu notei o jeito que ela olha pra ele, não parece ser algo sentimental, parece mais uma espécie de desejo... João também olha pra ela de um jeito diferente. Isso me pôs a pulga atrás da orelha.

– Você acha que o remédio que ela te deu foi pra te fazer dormir?

– Não, isso não. Acho que isso ela não seria capaz de fazer. Ela sabia que eu queria ir na festa, parecia até um pouco animada com isso...

– Que doidera, amiga... – Rebeca ainda tentava digerir, como se o assunto fosse um alimento que tivesse lhe caído mal. – Como você está?

– Eu não sei... – Ambas caminhavam sem direção e nem destino definido. – Quero dizer... eu sei como deveria estar me sentindo. Eu deveria estar com vontade de matar os dois de alguma forma cruel, mas apesar da Vic me irritar em diversas coisas e situações, de uns tempos para cá não consigo me irritar com ela a esse ponto. É a única família que tenho por perto. Então, por mais que isso seja grave, eu só fiquei triste e um tantinho confusa.

– Confusa? – Rebeca não imaginava o porquê de a amiga sentir confusão. – Como assim, confusa?

– Eu não sei se saberei explicar o que senti quando ela me deu a confirmação. – Pararam de andar, Jéssica pegou no braço de Rebeca e diminuiu o tom. – Quando ela confirmou e eu imaginei os dois fazendo... enfim... Ao invés de ficar furiosa, eu meio que... Me excitei.

– VOCÊ O QUÊ? – Rebeca perguntou praticamente gritando.

– Fala baixo... Eu sei que é estranho... Isso que me deixou confusa. – Conseguia ver mais uma vez a surpresa estampada na expressão de Rebeca.

– Agora entendi o motivo da confusão. E sim, é estranho demais... Para os seus padrões de castidade. – Rebeca já exibia sua expressão habitual. – Para outras pessoas, até que não é tão estranho assim...

– Como não? – Jéssica já nem se lembrava mais da tal castidade. Era como amarras que lentamente iam afrouxando até deixarem de existir.

– Sinceramente? Eu acho que no seu lugar, de uma pessoa normal, também me excitaria. Eu até toparia um sexo a três... – Rebeca falava e se olhava no espelho para mais uma de tantas arrumadas no cabelo castanho.

– Você se inclui nas pessoas normais? Sério? – Jéssica perguntou rindo.

– Obviamente. É como eu te disse... são novos tempos. Ao invés de disputar, porque não dividir? É muito mais simples, rápido e prazeroso.

– Você é maluca... – Foi tudo o que Jéssica conseguiu dizer naquele momento. – Aonde estamos indo?

– Eu estava pra te perguntar a mesma coisa, mas já que você também não sabe. Vamos pra Eva. – Definiu decidida. – Preciso de lingeries novas e você também.

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