Victória

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Vamos falar com a próxima ouvinte, aqui o telefone não pára. – Anunciou o locutor. Victória abriu os olhos.

Tinha chegado tão cansada da noite passada que nem ao menos tirou o fone do ouvido. Naquele momento o 'Fruto Proibido' estava tocando, encarou isso como um bom presságio.

Levantou, se livrando dos fones, e se viu no espelho. Ainda usava o uniforme do trabalho, exceto pelos pés descalços. Procurou na mente o motivo de ter chegado e dormido com as mesmas roupas com as quais tinha trabalhado. Lembrou-se da sala três com um sorriso perverso, todo e qualquer outro motivo para seu cansaço não a interessava. Aquele foi o sábado que mais gostou, em todo o tempo no qual trabalhou no cinema da cidade.

"Sexo no trabalho deveria ser tão essencial quanto o horário de almoço." Pensou enquanto ria. Seu olhar faiscava, era como se estivesse em chamas. Aquele era o brilho do triunfo, o fim de semana havia sido perfeito até aquele ponto.

Victória se despiu preguiçosamente. Apesar da fome, sentia que precisava de um banho, desesperadamente. Daqueles quentes, capazes de fazer uma névoa no banheiro, mesmo que fosse insuportável ficar debaixo d'água. Já nua andou pelo quarto e foi de encontro à sua caixa. Aquela caixa. Revirou o grupo de objetos roxos, sua cor favorita, até achar o que procurava. Um pênis de dezoito centímetros, feito especialmente para se parecer com um real em sua textura. Aquele era o melhor de seus 'brinquedos' para brincar debaixo do chuveiro, sempre que o usava era com ele preso por sua ventosa na parede do box. A partir daí, seus movimentos e a imaginação faziam o resto.

Puxou sua toalha pendurada em um gancho na porta, abriu e saiu do quarto. Quase que simultaneamente a porta do quarto de Jéssica também se abriu.

– Bom dia. – Jéssica saudou sem entusiasmo, ainda coçando os olhos.

– Bom dia, irmãzinha. – Respondeu surpresa, já vendo sua irmã ir em direção à cozinha sem qualquer reclamação à sua nudez, nem sequer pareceu ter notado. Victória deu de ombros, sorriu e seguiu com seu trajeto rumo ao banheiro.

– Que mulherão da porra... – Disse ao se ver no espelho do banheiro. Não tinha o corpo das modelos que posavam para a revista Playboy, mas suas curvas eram bem definidas. A autoestima de Victória sempre foi sua maior aliada na vida, era isso que a tornava ainda mais bonita e desejada. Era segura e bem resolvida com ela mesma, isso a fazia se sentir maravilhosa.

Plugou o 'brinquedo' escolhido na parede do box e o molhou, para lubrificar e facilitar a entrada. Ajoelhou, ficando com o consolo mais ou menos na altura de seu nariz, fechou os olhos, envolveu-o em sua mão direita e fez o movimento como se estivesse o masturbando. Isso fazia parte de sua brincadeira. Sua imaginação ajudava. Em seguida chupou o objeto emborrachado, assim como faria em uma situação real.

– Agora a parte principal... – Disse se levantando e se posicionando de costas para o objeto roxo. Sentia o roçar entre suas pernas, passando centímetro por centímetro em seus lábios vaginais. Aquilo fazia sua ânsia aumentar, precisava ser penetrada.

Se divertiu sozinha, como tantas outras vezes nas quais fez a mesma coisa, seja com aquele objeto ou com qualquer outro encontrado dentro de sua caixa. Mas daquela vez foi diferente, a diversão foi menor, parecia que algo faltava. Aquilo já não bastava para saciar sua vontade completamente. Não conseguia ver isso com bons olhos, uma vez que preferia estar no controle de seu corpo e não depender de outras pessoas. Algo, talvez, tenha criado uma trava ou uma barreira dentro dela.

Saiu do banho vinte minutos depois que tinha entrado, sentia-se mais fresca e limpa, bem diferente de quando acordou ainda com seu uniforme usado na noite anterior. Notou que alguns pontos de seu corpo pediam por mais descanso, seus braços e nádegas principalmente, além de partes do braço e abdômen. Mesmo assim não se arrependia do que havia feito. "Foi um experiência enriquecedora" pensou perversamente.

Entrou em seu quarto com a toalha amarrada no topo da cabeça, cantarolando alguma coisa qualquer, a qual ela mesma não reconhecia. Guardou seu objeto roxo novamente na caixa em seu guarda-roupas e escolheu um vestido leve, mesmo que a brisa soprasse um pouco fria. Não importava. Victória estava com um bom humor tão grande que quase tentou cantar junto com os pássaros como as princesas fazem nos contos de fadas.

Na sala, Jéssica olhava inexpressivamente a TV, que curiosamente estava desligada. Sem qualquer sinal de ter sido ligada naquela manhã.

– Aproveitando a programação dominical, irmãzinha? – Perguntou rindo enquanto se dirigia à cozinha. Não obteve resposta, Jéssica nem sequer se moveu. Então ela continuou. – Quer sair hoje? Tomar um sorvete, dar algum rolê de irmãs... Sei lá.

– Qual fantasia você usou para ir à festa na sexta-feira? – Jéssica perguntou num tom frio sem olhar para trás e nem responder o que lhe foi perguntado.

– Por que isso agora? – Victória perguntou enquanto procurava uma caneca qualquer para se servir de café.

– Por que eu quero saber. – Jéssica respondeu, agora já estava de pé indo também em direção à cozinha. Exibia um semblante sério demais até para ela. Mas Victória não via mal em responder àquilo.

– Bom... Já que eu não tinha conseguido te acordar, meio que peguei a sua emprestada. Você não iria usar mesmo... – Respondeu dando de ombros.

– E o que você e João faziam dentro da escola? – Jéssica perguntou de olhos fechados, como se já soubesse a resposta.

– E quem lhe contou isso? – Aquilo era uma surpresa para ela.

– Rebeca viu você saindo correndo de dentro da escola e logo atrás João a seguia.

– Mas que dedo duro... – Victória zombou enquanto começava a beber o café. – Tá horrível essa merda.

– Tá igualzinho ao meu humor. Responda! – Insistiu cruzando os braços.

– Bom... Já que insiste... – Começou, pousando a caneca no balcão. – Não fizemos nada demais... Só transamos. Coisa normal da vida, da espécie e de uma relação saudável entre cunhados...

– Mas o que? – Jéssica não estava surpresa com a resposta, mas sim com a forma como foi dita. – Como assim 'só transamos'?

– É... Só transamos. Ele não sabia que não era você, não precisa fazer tempestade num copo d'água. – Victória respondeu revirando os olhos e passando pela irmã para ligar a TV.

– Tempestade num copo d'água... – Jéssica repetiu ainda incrédula. – Como pode ter feito isso? Sou sua irmã...

– Ao meu ver agora estamos quites... – Victória respondeu virando para trás e depois para frente novamente, o controle não a obedecia. – Malditas pilhas!

– Por... – Começou a pergunta, mas uma lembrança veio em sua mente. – Não vai me dizer que ainda é por causa daquele maldito vibrador?

– Eu disse para não ficar brava quando eu matasse minha curiosidade...

– Isso é completamente diferente, Vic! – Jéssica não parecia nervosa, tinha o tom cansado. – O João é meu namorado, não um objeto qualquer.

– Para mim não há diferença alguma. Vibradores, homens... Nomes diferentes para uma única finalidade. – Victória desistiu de tentar ligar a televisão após vários tapas no controle com as pilhas fracas. – Não quer mesmo sair?

– Sabe... Não estou surpresa, mas estou decepcionada, com você e com ele. – Jéssica finalizou o assunto já indo em direção à porta. – E não, não quero sair... Com você. Até mais tarde.

– Até... – Victória não sentia contentamento por desapontar Jéssica, mas também não sentia nem um pouco de culpa pelo que havia feito. Decidiu ir tomar café em alguma padaria do Éden, como se nada tivesse acontecido naquele apartamento.

Mais de suas travessuras ainda estariam por vir.

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