Jéssica

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A semana que antecedia a festa foi de muita expectativa. Era o único assunto durante as aulas, os intervalos, nas entradas e saídas. Alguns estavam mais ansiosos que outros, mas compartilhavam a alegria de as aulas estarem terminando. Pela última vez no colegial, sairiam pelos portões da escola. Onde a maioria deles, jamais voltaria a pisar.

A animação de Jéssica era diferente, seria a primeira vez que iria a uma festa de sua escola, não tinha com ela o costume de sair, a não ser, claro, quando tinha de ir para a igreja. Mas isso, ela sentia, já não fazia mais parte dela. Nem ao menos sabia se aquilo realmente tinha feito parte dela algum dia.

Naquele momento ela estava junto da irmã que a prometeu uma fantasia bonita para a festa. As duas já não faziam ou saíam tantas vezes juntas. Jéssica já não era mais criança, Victória já não era mais adolescente e seus interesses já não se alinhavam tanto quanto se alinhavam antes. Nem mesmo as ideias e opiniões eram semelhantes...

– Eu não sei, isso está muito ousado. – Disse Jéssica olhando para o espelho do provador. Estava vestida com um fio dental vermelho, com um rabinho estilizado atrás na parte debaixo.

– Você falou que não seria tão mente fechada. – Reclamou Victória. – Cê tá linda...

– Não tem como eu ir na festa desse jeito, Vick. – Constatou Jéssica. Concordava que estava linda, mas aquilo parecia íntimo demais. – Chega a ser vulgar. Olha.

– Quem disse que é para você usar esse na festa? – Perguntou Victória. Com um sorriso malicioso. Jéssica ainda se impressionava com o tanto de pensamentos impróprios existentes em sua irmã.

– Bom... para outra ocasião... – Começou a dizer se olhando no espelho. Seus peitos pareciam maiores, assim como sua bunda. – Pode ser uma boa.

– Nossa... – Victória pareceu surpresa. – Até pouco tempo você me xingaria por sugerir essas coisas ousadas.

– É... São outros tempos. – Resumiu Jéssica. Outros tempos, guiados pelas experiências novas.

– Vamos levar. – Decidiu Victória saindo do provador antes que Jéssica pudesse dizer qualquer coisa em protesto.

Passaram por mais algumas lojas antes que Jéssica ficasse completamente satisfeita com uma fantasia.

– Era disso que eu estava falando. – Falou se olhando no espelho. Estava com um vestido tomara que caia vermelho com detalhes em preto, chegava na altura da metade de sua coxa. Junto com a fantasia, ela levaria um pequeno tridente vermelho, um arco de chifres e luvas vermelhas que se estendiam até a metade de seu antebraço. Comprou separadamente uma meia calça vermelha, para não deixar as pernas desnudas, e Victória lhe emprestaria o salto alto para completar. Assim conseguiria se imaginar sensual, mas não vulgar.

Já sua irmã não obteve o mesmo êxito. Saiu de casa sem ideia alguma do que queria para vestir. Queria que algo a surpreendesse, mas não aconteceu. As fantasias que encontrou pelo caminho ou eram sem graça ou recatadas demais. A ideia viria mais tarde naquele mesmo dia, mas só depois de já ter chegado em casa.

– Agora só falta a máscara... – Disse Jéssica olhando para dentro da sacola onde sua fantasia estava.

– Máscara? Fantasia de diabinha não tem máscara, Jés. – Victória a olhava sorrindo como se aquilo que ela tivesse falado fosse um absurdo. Mas ela queria uma máscara, então ela teria uma máscara.

– A minha vai ter. É o toque de mistério que falta.

– E quem foi que disse que é necessário um toque de mistério? – Perguntou Victória.

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