O dia com sua melhor amiga havia sido rebaixado à apenas uma manhã. Rebeca recebeu uma ligação, estava sendo convidada para fazer algum trabalho de modelo ou algo do tipo, Jéssica não entendeu muito bem e a amiga quase não conseguia falar, tamanha era empolgação. Estava dando tudo certo para ela nessa parte, já pensava em ter um empresário para investir de vez na carreira.
Jéssica já não tinha nada para fazer à tarde, pensou em suas opções e só lhe restou voltar para casa, provável que faria algo com Victória, assim como sua irmã já havia sugerido. Era isso ou... "Não..." se reprimiu antes que a ideia a dominasse. Suspirou e tomou mais um pouco do milk-shake de morango com crocante de chocolate. Desde a manhã daquele dia, a vontade de enviar algo para João havia aumentado consideravelmente. Sentia falta das risadas, da convivência, do sexo... João era mais que um namorado, era também seu melhor amigo dentre todos os poucos amigos homens. Ela resistia, só não sabia até quando.
Passou em frente à igreja e fez o sinal da cruz, como de costume, mesmo não frequentando ou praticando a religião. Lembrou de todas as coisas das quais fez parte, coisas boas que ajudavam outras pessoas. Era uma época de paz espiritual, mas de guerra emocional, brigava com os sentimentos, brigava com fatos e, de tabela, brigava com ela mesma. De certa forma, apesar de estar confusa, sentia-se mais livre do que nunca, como se naquele momento fosse ou estivesse prestes a ser aquilo que sempre quis ser.
Viu uma garota saindo lá de dentro da igreja, usava um vestido preto até as canelas, véu na cabeça e uma cruz de madeira no pescoço. Nunca havia a visto na igreja, mas a viu muito no espelho. Olhou para si mesma, naquele momento usava um short branco e uma regata rosa, com um decote moderado. Sorriu para a garota, enquanto ela passava e recebeu de volta um olhar desconfiado. Jéssica deu uma última olhada para a igreja e seguiu seu caminho.
Sentiu algo estranho quando chegou na calçada do prédio, era o desânimo de voltar para casa tão cedo. Suspirou e entrou, contando os degraus um a um, com o tédio já a abraçando.
– Se pelo menos eu ainda tivesse aquele milk-shake.... – Lamentou com as paredes. Raramente encontrava alguém pelas escadas e corredores, aquela seria uma boa hora para esbarrar em algum vizinho, conversar, fazer uma nova amizade... A verdade é que os vizinhos se não eram tão antipáticos quanto sua irmã, eram idosos. Isso dificultava.
Chegou ao topo e se sentou, olhando para o nada, girando o celular na mão. Ainda debatia com ela mesma se devia ou não enviar uma mensagem para João. Talvez fosse um sinal para ela enviar mesmo, fazer as pazes, perdoar, reatar o namoro ou ao menos uma amizade.
– Sinal... – Repetiu seu pensamento em voz alta e balançou a cabeça rindo do quanto aquilo lhe pareceu idiota. Mesmo assim enviou uma mensagem. Esperou, olhando atentamente para a janela de conversa, nada aconteceu. Jéssica então apagou a mensagem, se sentindo boba demais por ter a enviado e se levantou. Terminaria seu percurso para dentro do apartamento.
Deixou a chave cair duas vezes antes de conseguir acertar a fechadura. Quando acertou e entrou, foi recebida pelo ar abafado e quente de dentro do apartamento. O ambiente estava escuro, notou a porta da varanda fechada. Havia algo anormal no clima.
Caminhou pela meia luz, esperando algo ou alguém saltar de um canto mais escuro para assustá-la.
– Vai... – Ouviu a voz de Victória. – Acho que não aguento por muito tempo.
Vic parecia ofegante enquanto falava, como se estivesse fazendo algo que custasse muito esforço físico.
''Ela deve estar... Transando." pensou com um sorriso travesso nos lábios. Aquele dia tinha melhorado consideravelmente, continuou andando, com mais cuidado do que antes para não ser notada. Uma fresta da porta estava aberta, seria o suficiente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cidade do Éden
Romance*Romance Erótico* No livro um de Cidade do Éden: Jéssica tenta se descobrir e se libertar, Victória só quer saciar seu desejo e se divertir e João ficará dividido entre as duas irmãs nesse triângulo amoroso quente. A temperatura nunca esteve tão al...