Jéssica

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Bom dia! – Ela saudou o namorado em uma mensagem de celular. Percebeu que a última mensagem daquela conversa tinha sido a dela na noite anterior, João havia apenas visualizado. – Depois que acordar me diz como foi a festa.

Levantou sem se lembrar de como havia chegado ao quarto. Sua última lembrança do dia anterior era estar no sofá, encolhida por conta de uma forte dor de cabeça, que já não estava mais lá.

Dentro do quarto tudo ainda era breu e calor. O ventilador estava desligado, Jéssica acordou ensopada de suor, se perguntou por que não tinha ligado antes de dormir e porque havia deixado a janela totalmente fechada. Mas se lembrou que ainda continuava sem saber quando e como chegou ali.

Sentia que seu corpo ainda estava adormecido, seus movimentos eram lentos e preguiçosos. Mas não sabia se isso significava ter dormido muito ou ter dormido pouco. Seus pensamentos também estavam lerdos para tentar raciocinar, por fim decidiu que tiraria a dúvida olhando as horas. Seu celular indicava que eram seis e quinze da manhã, mas ela não acreditou. Decidiu que veria no relógio da sala.

O quarto de Victória estava fechado e silencioso, esse era um dos indícios que havia acordado cedo, Vic odiava levantar antes do meio-dia. "Provavelmente ela quem me trouxe para o quarto", pensou ainda encarando a porta à sua frente. Lembrou também do comprimido que Victória havia lhe dado, esse provavelmente era o responsável pelo seu sono. Não pôde evitar a chateação.

O relógio da sala indicava que eram seis horas da manhã, cravados e quinze minutos mais cedo que seu celular. Era quase o mesmo horário em que ela acordava todos os dias úteis para ir à escola, mas aquele era um sábado e não tinha motivo para acordar tão cedo. Mas aí outra coisa lhe ocorreu, Vic havia lhe dado o remédio por volta de seis horas, início da noite de sexta. Apesar de ainda sentir um pouco de sono, ela havia dormido por aproximadamente doze horas, não contando alguns minutos despertados mais para noite.

Despejou cereal em uma tigela e a encheu de leite. Estava com fome, mas não queria comer nada além disso. Ao invés de ir para o sofá, preferiu comer seu desjejum na varanda, o lugar mais fresco da casa naquele momento. Mesmo assim ainda se sentia quente.

Na rua logo abaixo, o paraíso acordava a passos lentos, assim como ela. Era o movimento comum de qualquer cidade aos fins de semana, no Éden não era diferente. O dia era lento, silencioso, mas naquela cidade, os hábitos eram noturnos.

Voltou para dentro do apartamento ao final de sua porção de cereal, se sentindo satisfeita. Buscou o celular na esperança vã de já ter recebido alguma resposta de João, mas ainda estava longe do momento no qual João acordaria. Jéssica então decidiu ficar no quarto e se misturar novamente ao breu completo de lá de dentro. Adormeceu.

Sonhou que estava em um imenso jardim, o verde se estendia até além de onde ela conseguia ver. Não havia flores, mas havia muitas árvores, pássaros que cantavam no céu, um lindo céu azul, e a brisa... A mais fresca de todas as brisas.

Ela caminhou por entre as árvores, fileiras e mais fileiras de macieiras praticamente do mesmo tamanho, exceto uma delas. Pôde avistar de longe e teve certeza que independente da distância ou angulação, conseguiria vê-la da mesma forma. A árvore era rodeada pelas outras menores, mas era três vezes maior do que qualquer uma outra que já tinha visto em toda a sua vida. Estava repleta de maçãs douradas de aparência suculenta.

– Aproxime-se. – Chamou uma voz lenta que parecia estar dentro de sua cabeça. – Venha e dê uma mordida.

Ela foi. Caminhou lentamente sentindo o toque da brisa e um calor que aumentava conforme se aproximava da árvore maior.

– Venha, Jéssica... – A voz a chamou de novo, ela ficou sem entender como a voz sabia de seu nome. Ainda não sabia de onde saía ou a quem pertencia. Notou também um sibilar no S de seu nome quando pronunciado. - Venha, Jéssica.

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