João

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A mensagem vinha do celular de Jéssica, parecia com o jeito dela de escrever e dizia que estava com saudades. A primeira reação dele foi sorrir, a segunda foi se colocar de pé e procurar algo para vestir, mas parou e fechou o sorriso enquanto escolhia qual cor e modelo de camisa vestir. E se fosse Victória novamente? Estremeceu com o pensamento, ainda não acreditava que Vic fosse capaz de fazer o que fez, não acreditava que tinha sido enganado tão facilmente, mas o que mais o deixava incrédulo é o quanto ele havia gostado. Um arrepio o percorreu trazido pelas lembranças das sensações que tinha sentido... Desde ser amarrado, até a voracidade de sua cunhada. Ele podia ver o desejo queimando nos olhos brincalhões dela, mesmo em uma recordação, mesmo com a iluminação baixa no ambiente em que estavam.

Por toda a dúvida que o cercou, decidiu pedir uma prova. Ele gostou do dia com Vic, mas ainda tinha alguma esperança com Jés, sua doce e pura Jés, mesmo que as chances fossem remotas. Aquela mensagem, se realmente era ela, tinha que significar algo.

Recebeu sua prova pouco tempo depois, Jéssica o enviou uma foto de seu rosto sorrindo de boca fechada e com uma das sobrancelhas levantadas. Era ela, então ele foi.

Ele não se lembraria muito do que conversaram aquele dia, o que se fixou em sua mente era o como a Jés, sua Jés, era linda. Ela contou as novidades, falou de Rebeca, falou dos planos, falou do passado e revelou estar com saudade. Ele falou das mesmas coisas, mas só conseguia prestar a atenção nos olhos dela, aquele belo par de olhos.

João no entanto percebeu que aquela já não era mais a sua Jéssica, não era mais a mesma pessoa de meses atrás. Ela tinha agora um jeito mais seguro de falar, mais leve, nada parecia prendê-la. Não era mais uma menina inocente, de sorriso frágil, era uma mulher com um calor diferente na voz, no olhar e nos gestos corporais. Estava impressionado.

– Você não acha que já me encarou demais? – Perguntou Jéssica apoiando o rosto em uma das mãos enquanto reparava nele.

– Estou com saudades, Jés... – Disse olhando nos olhos dela. – Mas sei dos erros que cometi e sei da culpa que tenho para o nosso fim...

– Todo mundo erra, meu bem. Eu já não me importo tanto com quem é ou não culpado. – Disse Jéssica, surpreendendo João. Ela ajeitou o cabelo para trás da orelha. – Estou passando por algo que só poderia passar sozinha mesmo... Estou aprendendo o que é o amor próprio.

Aquela era a versão definitiva de Jéssica, o caminho emocional percorrido não pareceu tão difícil visto de fora, mas para se libertar de suas amarras a garota teve de se livrar quase por completo de seu antigo eu, até mesmo de sua religião havia abdicado. Já não sentia mais culpa pelas roupas que vestia ou pelo que consumia na TV. Suas definições de pecado e de seu Deus mudaram drasticamente, ao ponto dela definir que apenas crer, já lhe era o suficiente.

– Então nós dois, como namorados... – João começou a dizer com tom desesperançoso.

– Nunca mais existiremos, meu bem. Eu nem sei se algum dia irei querer isso de novo. – Jéssica completou antes dele, com uma mão, agora, pousada em seu rosto. – Mas isso não impede de termos uma amizade... Uma amizade um pouco diferenciada.

Jéssica se aproximou um pouco mais dele, deslizou a mão que estava pousada no rosto para a nuca e lhe deu um beijo. Era bom e estranho ao mesmo tempo sentir a boca dela de novo. O beijo era familiar, mas ele estava desajeitado como se fosse o primeiro. De qualquer forma, a sensação de ter a boca dela junto a dele, era uma das melhores que já havia sentido.

E foi assim que a saudade começou a ser diminuída, beijo após beijo, o tempo esquentou uma vez mais dentro daquele pequeno apartamento. A culpa era deles, que antes eram consumidos pela paixão... Naquele momento eram puro desejo.

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