Victória

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Eram poucas as casas e moradores que dispunham de um olho mágico em suas portas dentro da residência. No prédio de Jéssica e Victória, todas as portas da frente dos apartamentos tinham um olho mágico, mas apenas um único quarto de um único apartamento continha aquele pequeno detalhe, com o único intuito de melhorar a estética da porta. Era por esse olho mágico que Victória observava naquele momento o movimento no corredor.

João e Jéssica se beijavam a caminho do quarto. "Danadinhos... pelo visto, hoje tem." pensou ao assistir a cena. Aquilo definitivamente iria melhorar sua sexta de forma considerável. Sorriu enquanto imaginava o quanto aquilo poderia lhe divertir.

– A gente não vai comer nada antes? – Ouviu João perguntar, quase não conseguindo completar sua pergunta. Jéssica estava voraz, do seu próprio jeito, mas voraz.

– Você vai poder saciar a sua fome depois que saciar a minha. – Respondeu Jéssica. Victória ficou impressionada com a resposta. Para alguém tão recatada, aquela era uma frase que não constava no vocabulário de sua irmã mais nova até pouco tempo. – Tenho uma surpresa para você.

Aquilo estava ficando cada vez mais interessante, sua curiosidade foi ativada pela surpresa que Jéssica tinha para João. Mas tinha de se controlar, para não ser vista. Teria de ir na ponta dos pés, com a leveza de uma felina. Comemorou o fato da porta ter sido deixada semi-fechada, pois pelo vão ela conseguiria assistir à cena toda.

Girou a maçaneta de sua porta o mais devagar possível, evitando qualquer rangido que o movimento pudesse causar. Abriu a porta e esperou por um instante para ter certeza de que não foi ouvida por ninguém. Não houve nenhuma movimentação diferente vinda de dentro do quarto, então ela seguiu. Três passos depois e lá estava ela observando pelo vão entre porta e batente.

– Feche os olhos. – Ouviu Jéssica dizer lá de dentro. João estava sentado à beira de sua cama, obedeceu o que lhe foi ordenado.

Depois dos olhos fechados do namorado, Jéssica retirou seu vestido pela cabeça e isso a deixou apenas de lingerie. Era uma peça cor vinho, completamente linda, que combinou perfeitamente ao corpo dela. "Mas olha que safadinha..." Victória pensou. Aquilo também foi surpresa para ela tanto quanto tinha sido para João. "Até pouco tempo só usava roupa íntima grande e bege. Crescem tão rápido". Ela sorria perversamente enquanto assistia de camarote o casal. Esteve lá no mesmo lugar se acariciando e curtindo do começo ao fim, sem fazer nenhum ruído até um último deslize quando eles já estavam terminando.

Victória no auge de sua líbido, descobria pouco a pouco o quanto gostava de ver, estava se tornando uma voyeur. Isso um dia viraria um vício em sua vida. Quando seus dedos melados conseguiam fazê-la chegar ao tão esperado clímax, deixou escapar um gemido e esbarrou na porta com o cotovelo. Nada que fizesse a porta se mexer tanto, mas o suficiente para ser ouvida. Tapou a boca e esperou.

– Você ouviu algum barulho na porta? – Perguntou João. Victória sentiu um frio percorrer o seu corpo

– Não ouvi nada... – Respondeu sua irmã com uma voz cansada e lenta. Aquilo era o alívio após o susto. – Só estamos eu e você acordados, amor. Deve ter sido engano seu.

– É verdade! – Concordou João. Victória riu, mesmo se reprimindo para não emitir mais nenhum som, e correu na ponta dos pés para seu quarto.

Em sua cama, ainda com a adrenalina percorrendo seu corpo, notou que ainda não estava satisfeita. Sentia a calcinha ensopada, poucas vezes se sentiu tão excitada quanto naquele dia e sabia o porque. Victória era quem ditava as regras em qualquer relacionamento que estivesse, se excitava mais com qualquer um que tinha a confiança abaixo da sua na hora do sexo. Esteve observando seu cunhado com sua irmã, e o que mais tinha a excitado era o quanto João foi submisso à Jéssica. Não havia nada que a deixasse mais excitada do que alguém recebendo e executando as suas ordens. Ela sempre adorou mandar.

Levantou, trancou sua porta, só por garantia, foi até seu guarda-roupa e pegou seu maior tesouro material; sua caixa de prazeres. Para se satisfazer escolheu um vibrador de mais ou menos quinze centímetros na cor roxa. Percebeu, olhando para o objeto em sua mão, que o pênis de João tinha um tamanho semelhante, "mas o pau dele é mais grosso", completou a comparação mordendo o lábio inferior.

Mesmo tendo suas diferenças, quando ela enfiou o vibrador em seu interior, era no cunhado que ela estava pensando. Fechou os olhos e por um minuto pensou que ele estava ali, vendo-a se masturbar ou até mesmo metendo nela o mais rápido e forte possível.

Enquanto o vibrador entrava e saía, ela brincava com seu clitóris. Sabia mais do que ninguém seus caminhos até o prazer. Sabia como, quando e onde conseguia chegar ao clímax, por isso não se limitava quando o assunto era gozar. Mas sentia falta de alguém para compartilhar esse prazer. Já fazia muito tempo que não namorava e um outro tanto de tempo que não fazia sexo. Gostava do casual, mas era seletiva. "Não achei minha xota no lixo", era uma de suas frases prediletas.

Novamente ela gozou, sozinha, no escuro de seu quarto, com o corpo todo suado e com a respiração ofegante. Seus lençóis novamente estavam remexidos, retorcidos e molhados. Novamente ela adormecia com o objeto vibrando ao lado dela.

...

Victória despertou ainda na madrugada. Segundo seu celular faltavam vinte minutos para as três da manhã. Notou uma luz passando por debaixo da porta, aliou isso à sede que sentia e levantou rumo a cozinha.

A porta do quarto de Jéssica ainda estava meia aberta, em um silêncio e breu absolutos. Assim também estava o banheiro e a sala, mas ao fundo era possível ver a luz que emanava da cozinha. Lá de costas, uma figura masculina abria e retirava algo de dentro da geladeira. Ela se aproximou o mais e silenciosa possível.

– Olá, cunhadinho. – Cumprimentou passando o braço por cima dos ombros de seu cunhado. – Deu sede também?

A resposta por sua vez veio em um engasgo. João demorou a se recuperar do susto e ela percebeu que boa parte daquele quase afogamento era culpa da presença dela. Isso sempre a divertia.

– O-oi. – Retribuiu de forma desajeitada, ainda um pouco engasgado. – De-desculpe mexer assim na geladeira...

– Não precisa se desculpar, cunhadinho. Você já é de casa, não é verdade? – Disse ela sorrindo, olhando nos olhos confusos do garoto.

– Mesmo assim... fico sem... – João se interrompeu. Havia reparado em algo que nem mesmo Victória tinha reparado. Ela estava usando uma regata branca que chegava até a altura do umbigo e mais nada.

– Putz... Esqueci minha calcinha no quarto. – Se lamentou verdadeiramente, apesar de estar com o semblante satisfeito. – Mas é como eu disse... Você é de casa, não se incomode com isso. Para falar a verdade, acostume-se. É melhor.

Victória passou a frente de João e abriu a porta da geladeira. Olhou tudo o que tinha lá dentro e localizou a água na parte debaixo. Se inclinou o suficiente (até mais que o suficiente), empurrando assim seu cunhado que estava atrás dela. João ainda estava parado estupefato, mas, pelo que ela pôde sentir, não estava alheio. Encostada no garoto ela sentiu a ereção que acontecia naquele exato momento. Pegou a garrafa d'água e se ergueu, triunfante.

– Qua-qual o seu problema? – Perguntou João com a expressão incrédula.

– Um dia eu te conto. – Respondeu sorridente, de frente para João. Se inclinou para frente, se ergueu um pouco mais e ao pé do ouvido do garoto sussurrou: – Mas só se você prometer que vai me ajudar a resolver. – Finalizou com um beijo que mais acertou o canto da boca do cunhado do que a bochecha.

– Boa... Noite. – João se despediu e andou o mais rápido que pôde para o quarto de Jéssica, como se Victória a qualquer momento pudesse agarrá-lo e comê-lo vivo. O desejo dela não era comer, era ser a comida.

Bebeu quase um litro d'água, sentia a garganta seca. Reabasteceu a garrafa e a colocou no mesmo lugar onde achou. Quando já estava prestes a voltar para seu quarto, viu um flyer em cima da bancada. Aquele flyer que foi esquecido ali quando Jéssica secava as roupas de seu namorado, ainda um pouco molhado e esturricado, era a propaganda da próxima festa da escola para alunos e ex-alunos.

Victória adorou a ideia e temática da festa. Ela adoraria outras coisas mais que aconteceriam nela. Aquela festa mudaria muitas coisas entre aqueles três moradores do Éden...

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