Victória

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Um beijo. Um único beijo lento, mas não muito demorado (na opinião dela), foi o responsável por bagunçar sua manhã. Sentia o desejo queimando-a de dentro para fora e sentia frustração também, do que adianta a existência dos desejos e não poder realizá-los?

Novamente, como de costume, procurou a solução em sua caixa. A caixa responsável por tantos e tantos orgasmos, não foi o suficiente naquele dia. Victória usou mais de um dos seus brinquedos e várias combinações, mas não adiantou, nada resolvia sua situação.

Aquela foi a primeira vez na qual um beijo havia deixado-a excitada, era isso que a deixava ainda mais frustrada. Detestava todas as situações nas quais não tinha o controle. Mais do que isso, detestava não conseguir se satisfazer sozinha.

Um único beijo, lhe causou pensamentos e vontades impróprias pelo resto daquele dia. Victória não tinha vontade alguma de ir trabalhar, mas era sábado, ela não poderia faltar por conta do movimento do cinema. Uma parte dela se prendeu à esperança de conseguir distrair a mente no máximo de trabalho que conseguisse.

...

É comum em qualquer cinema o número elevado de pessoas quando é noite de sexta e durante o fim de semana. O cinema onde Victória trabalhava já não estava mais sem seus tempos de glória, havia ficado obsoleto, mas ainda rendia algo em determinados eventos e épocas do ano. Estavam próximos do natal, isso significava mais famílias e mais crianças e, claro, mais sujeira para limpar.

–Refrigerante no chão da sala três – Alguém comunicou no rádio.

– Deixa comigo – Victória que já limpava um dos corredores, pegou seu esfregão e balde e foi se ocupar um pouco mais.

A sala, já vazia, estava com todas as luzes ligadas, a tela estava apagada. Ela teria de localizar, já que o alerta chegou sem detalhamento, e limpar o mais rápido e eficiente possível, pois a próxima sessão começaria dentro de dez minutos.

– Porque ao invés de comunicarem as pessoas simplesmente já não limpam? – Perguntou Elias surgindo na entrada da sala. Victória estava no meio da sala, onde havia localizado o refrigerante no chão.

– Pior que isso só o rio de refrigerante para limpar. – Respondeu Victória tentando secar o chão – Não te vi quando cheguei...

– Cheguei há pouco. No momento em que você se oferecia pra limpar isso. – Elias já se encontrava na mesma fileira que ela. – Estou meio surpreso... Você se oferecendo do nada para fazer algo, se sente bem?

– Claro que me sinto bem, idiota. – Victória respondeu rindo. – É que... eu preciso me distrair o máximo que der...

– Quer ajuda? -– Perguntou Elias vendo o pouco sucesso da colega em secar o chão.

– Talvez... – Victória respondeu entregando o esfregão para ele.

– Mas diz aí quer se distrair do que? – Perguntou Elias já focado na limpeza.

Victória não queria responder, por que para ela, mais irritante que perder o controle era os outros tomarem conhecimento disso.

– De algumas coisas... – Respondeu genericamente. Logo as pessoas começariam a entrar na sala, o filme que passaria ali era de terror. Um que ela nem sequer tinha ouvido falar. – Você não devia estar fazendo outra coisa em outro lugar? Não precisa se encrencar por minha causa.

– Ah, não. Para falar a verdade meu turno de hoje só começa daqui a vinte minutos, já que abri mão do jantar para entrar mais tarde.

– Quem entra vinte minutos antes para trabalhar depois de abrir mão desses mesmo vinte minutos? Você é estranho... – Victória comentou enquanto reparava em como suas unhas estavam desleixadas, já que todas estavam com um resto mínimo de esmalte vermelho.

– Não tinha muito o que fazer fora daqui... – Elias deu de ombros e devolveu o esfregão. – Pronto.

– Obrigada. – Victória agradeceu e enquanto pegava o cabo do esfregão lhe ocorreu uma ideia... Uma ideia que faria o calor se multiplicar pelo seu corpo.

– Bom... Agora já vou indo. Passei só para dar um alô. – Disse Elias depois de um curto espaço de tempo no qual se encaravam em silêncio.

– Espera... – Victória o segurou pela mão e se aproximou até estarem a um palmo de distância. – Você ainda tem um tempinho... Eu posso enrolar um pouco mais...

– Na-não. – Era a primeira vez que Elias gaguejava naquela noite. O nervosismo já costumeiro de estar perto de Vic ia tomando conta da fala, do olhar e dos gestos do garoto.

– Shiiii. – Victória o calou colocando o dedo indicador em sua boca e o empurrou em direção a cadeira mais próxima.

– A se-sessão já vai co-co-começar. – Elias alegou, para que Victória parasse. Ela podia ver o medo de ser flagrado refletido no olhar do gago.

– Ainda temos um tempo. – Victória disse sentando em seu colo. – E pelo que sinto, você quer tanto quanto eu...

– Va-vão nos ver. – Elias ainda tentou dialogar, mas queria que aquilo acontecesse independente das consequências.

– Seremos rápidos – Victória disse beijando seu pescoço, causando arrepios no rapaz – Dessa vez.

Victória desafivelou o cinto de Elias, baixou a calça e a roupa de baixo, apenas o suficiente. Desceu suas próprias roupas o mesmo tanto e o conduziu para dentro dela. Ele estava frio ou ela quente demais, não soube distinguir, mas ela pode sentir um choque e gostou. Suas arremetidas não mudaram nada do começo ao fim, ela precisava se saciar e assim faria de um jeito nada delicado. Victória subia e descia com o máximo de velocidade que conseguia, com o máximo de força possível.

Elias a todo custo tentava reprimir seus gemidos. Victória gemia o tanto que queria e ecoava pela sala vazia, juntamente ao som de impacto de seus corpos. Ela não se importava de ser vista ou ouvida desde que conseguisse o orgasmo que desejava desde o início daquele dia, desde aquele único beijo rápido.

Era João que ela imaginava, era disso que tirava sua vontade e a raiva suficiente para manter o peso de suas descidas. Quando não estava com os dentes cerrados encarando sua visão de João, estava o mordendo do pescoço até as orelhas.

– AI! – Elias a acordou de sua fantasia.

– Desculpa. – Disse se afastando da orelha de seu colega gago. Agora o calor de ambos se misturavam em um único que subia um pouco mais toda vez que ela descia em sua insaciável quicada.

– E-eu... – Elias começou a dizer, mas não precisou completar, ela sabia.

– Aguenta, que hoje não é um dia bom para isso. – Desceu do colo de Elias e o envolveu com a boca, não demorou muito para sentir o líquido quente e salgado passear por sua língua.

Victória se recompôs rapidamente, pronta para outra. Mas antes que pudesse ter qualquer ideia que fosse, as primeiras pessoas começaram a entrar na sala. Elias rapidamente subiu sua roupa, apesar de aparentar cansaço. Um filete de sangue descia pela lateral de seu pescoço e ambas as orelhas pareciam vermelhas demais. Victória era a culpada.

Estava bom, foi bom, mas aquilo não a saciou, apenas aumentou sua vontade. Seu desejo era sede, que apenas uma fonte poderia saciar.

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