João

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– CHUUUUUUUUPA! – Gritou Henry. Era o gol da virada em uma partida bem disputada de FIFA no PlayStation.

– Shhhhhhhhhh. Comemora baixo. – Recomendou João. – Minha mãe está dormindo agora.

– É verdade! – Disse Henry encolhendo os ombros. Em seguida gritou: – DESCULPA!

– Idiota. – Comentou João enquanto ria.

Henry era capaz de melhorar qualquer ambiente e apesar de não ser o mais indicado para aconselhar, foi com ele que João compartilhou, mesmo que de forma receosa, os últimos acontecimentos envolvendo ele e sua cunhada. Nisso, ao menos, Henry tinha certa experiência. Era bem mais malandro que João. Passar um tempo com o amigo sempre lhe rendia algo novo para refletir em relação a sua vida e a de pessoas ao redor.

O tempo da conversa entre os dois nunca era medido em horas, mas sim quantidade de partidas e jogos jogados. Foram algumas partidas FIFA, quando João havia relato tudo o que queria relatar, já estavam em um outro jogo.

– Primeiramente, sua cunhada é uma mulher espetacular. Sério... – Começou falando logo depois de João ter terminado a história. Henry nem sequer esboçou qualquer sinal de surpresa. – Se fosse uns dois ou três anos mais velha, eu me arriscaria...

– Pensei que seu público alvo era acima de trinta. – Comentou João rindo.

– E é. – Concordou Henry. – Mas às vezes precisamos abrir uma exceção aqui e ali...

– E por que essa fixação em mulheres mais velhas? – Perguntou João, percebendo que nunca tinha parado para pensar nos motivos do amigo. – As garotas da nossa idade não te atraem?

– Atraem... E como atraem... – Começou a responder com um tom reflexivo. – Mas prefiro mais aprender do que ensinar... Se é que você me entende.

– Prefere aprender... Quando a mulher é professora fica mais fácil? – Perguntou João rindo.

– Pode ser que sim... – Assuntos relacionados à professora tinham o poder de deixar Henry um pouco desinquieto. Talvez pelo simples fato de ser algo proibido. – Mas voltando ao assunto principal da conversa, antes que você desvie o curso da embarcação novamente. Sua cunhada parece ser uma mulher pautada pelo desafio...

– Como assim? – João pouco entendia dessas coisas.

– Tipo... – Começou, paralisando o jogo ao qual jogavam. Henry se levantou do chão e se sentou no sofá à esquerda do qual João estava sentado. – As pessoas se atraem por diferentes motivos, o mais comum dentre esses motivos é a aparência. Mas há quem curta outras coisas, como a inteligência ou alguma determinada parte do corpo. Isso vira um fetiche quando a atração evolui para a excitação. Nunca conversei muito com sua cunhada, nem sequer a vejo com frequência, mas há algo no olhar dela que me diz isso. Ela tem um jeito de encarar bem as pessoas semelhante ao de um carnívoro observando a sua presa. Repara nisso com um pouco mais de atenção e verá que tenho razão. Ela parece ver em tudo um desafio ou uma oportunidade de desafiar. Como se tudo fosse um jogo.

Até aquele ponto, isso foi o mais esclarecedor que Henry tinha sido em todos os anos de amizade entre os dois. Foi a parte mais valiosa da conversa daquela tarde, a que mais fez João pensar também. Não sabia se o amigo estava certo, mas de uma coisa ao menos ele sabia, o olhar de Victória era exatamente como Henry descreveu, sempre que João a encarava podia notar um brilho diferente. Além da malícia, algo sempre presente, ela ostentava, também, toques de curiosidade.

– O que ela faz ou deixa de fazer, é resultado de seu desejo. As coisas que ela fala, o jeito que ela age, são como jogos de sedução. É como se fosse a encarada final antes do bote. – Assim Henry finalizou seu raciocínio. – Se isso te incomoda, é melhor conversar com ela sobre. Às vezes a conversa pode resolver ou...

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