João

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A sexta-feira da festa enfim havia chegado. Aquele dia também marcaria o fim não-oficial do ano letivo, uma vez que iria haver aulas, mas os alunos em sua grande maioria já não as frequentariam. João faria parte dessa grande maioria, seu único motivo para ir era se Jéssica fosse. Ela também não iria.

Seu ânimo para ir às festividades de mais tarde estava completamente diferente. Ainda estava relutante em ir, apesar da animação de todos à sua volta. Sentia algo estranho, um frio na barriga incomum, como se algo muito ruim (ou muito bom) fosse acontecer naquela noite. Mas prometeu para Jéssica e Henry que iria e tentaria se divertir. Esperava não se arrepender disso.

Jéssica, Henry e até mesmo sua cunhada Victória, já estavam de fantasias compradas, mas João não. Até procurou, mas não encontrou nada que o agradasse em sua casa. Suas primeiras opções eram as fantasias de Darth Vader ou Storm Trooper, mas essas ideias foram descartadas. João constatou que 'assaria' dentro de qualquer roupa muito fechada.

– Você é muito exigente, cara. – Comentou Henry. – Na moral, quer uma sugestão de fantasia fechada, mas não tão quente?

– Diga. – João já sabia que o que viria seria uma besteira qualquer.

– Vai de fantasma. É só pegar um lençol, fazer dois furos para os olhos e se cobrir com ele. – Henry quase não conseguiu terminar sua frase de tanta risada que deu enquanto falava. – Você vai ter a fantasia e o mundo vai se livrar da sua feiúra por um tempo. Todos saem ganhando.

– Mas que engraçado, hein?! – Disse João fingindo uma risada. – Acho que ali dá para achar algo.

A melhor parte de andar com Henry, na opinião de João, era a descontração e o 'poder de invisibilidade'. Ele nunca foi de atrair muitos olhares, muito menos almejar isso. Já Henry era um ímã de atenção, isso fazia com que quem estivesse ao seu lado quase nunca fosse notado.

Aquela era apenas a segunda loja de fantasia que entravam, mas o sol os fazia querer voltar para suas casas, sem ter feito pesquisa alguma. A previsão, para aquela noite era de chuva forte, mas enquanto ela não vinha o sol reinava absoluto.

A loja onde entraram era pequena, de baixo movimento e um pouco mais escondida. Ficava dentro de uma galeria com algumas outras lojas. Uma senhora magra e de cabelo cinza sorriu ao vê-los, como se aquilo fosse algo raro. Seu sorriso era amarelo e ela cheirava a cigarros.

– O que procuram? – Perguntou por trás do balcão.

– Uma fantasia interessante para um amigo tonto e indeciso. – Respondeu Henry, levando um soco de João no braço.

– Temos as coisas certas para atender tontos e indecisos. – Disse a atendente contornando o balcão. – Tem preferência por algo?

– É... – João começou a falar, mas foi interrompido.

– Vou dar uma ajuda para você, amiguinho. – Disse Henry passando a sua frente. – Algo relacionado a Star Wars ou Senhor dos Anéis, meu amigo aqui é conhecido por adorar o Smeagol.

– É uma pena, não terei nada relacionado a Senhor dos Anéis. – Disse a mulher olhando ao redor. As paredes eram tomadas por sacos plásticos contendo fantasias. João desconfiava que não encontraria nada ali, e se encontrasse, já esperava não servir nele. – Mas tenho algumas de Star Wars, sim.

– Chewbacca ou Princesa Léia, para ele está bom. – Sugeriu Henry rindo da própria piada.

– Eu acho que tem uma que será perfeita – Disse a mulher abrindo espaço entre eles e procurando em meio aos plásticos. João se perguntou como ela conseguia achar algo ali. – Aqui está!

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