João

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Sentia frio, mesmo com as temperaturas subindo novamente. Sentia um vazio imenso, mas não sabia do que. Não conseguia ver graça nas coisas nos últimos dias, pensamentos tomavam conta de seu humor e ultimamente não eram bons. Fazia pouco tempo, mas sentia falta de Jéssica, ao mesmo tempo que sentia falta de Victória, sem saber o porque.

Entrou na cozinha com os pés descalços, ainda vestia a calça de moletom e a camisa manga longa que usou para dormir. Bocejou olhando ao seu redor, tentando ter uma ideia do quê preparar para o seu desjejum. Já havia se acostumado a tomar café e almoçar sozinho, mesmo acordando mais tarde em épocas de férias escolares, não tinha a companhia da mãe que dormia para se recuperar do trabalho. Decidiu por fim bater alguns morangos com leite no liquidificador e comer dois pães, que não sabia de quando eram.

Enquanto o liquidificador fazia seu trabalho na cozinha, foi à sala e ligou a televisão, pulou os canais de noticiário, os de esporte, pulou as séries até chegar a algum canal voltado para desenhos animados. Para ele, café da manhã só era completo quando podia sentar e assistir a desenhos animados enquanto comia. Seu celular vibrou nesse momento, mas ele estava distraído demais para notar ou até mesmo lembrar de onde havia deixado o aparelho. Fazia um tempo que nem tocar em seu telefone ele tocava.

Pegou sua vitamina e os pães e se dirigiu para o sofá de frente para a TV. Aquilo era algo que conseguia distraí-lo um pouco da realidade, era disso que precisava. Sabia que se fosse algo mais complexo, não conseguiria acompanhar, mas essa era a parte boa dos desenhos animados, às vezes você só precisava rir e não procurar sentido.

Lavou a louça que havia acabado de sujar, parou e pensou no que tinha para fazer naquele dia. Queria novamente ficar trancafiado em seu quarto, mas sabia que isso não lhe era saudável, precisava de ar puro, ver e falar com pessoas. Sentou novamente no sofá decidido a pensar em algo, foi neste momento que notou o celular desprezado em um dos lugares do móvel.

– Olha você aí... – Pegou o celular com uma pitada de esperança de que haveria alguma mensagem de Henry ou qualquer outro amigo para fazer algo naquele dia. O aparelho estava com cinco por cento de bateria, como ele pôde notar pelos avisos sonoros, e uma notificação de mensagem, mas não era de Henry. Para sua surpresa, era uma mensagem de Jéssica.

Porquê não vem aqui em casa hoje? Estaremos sós... Poderemos matar a saudade...

O coração disparou, a ansiedade subiu. Estranhou por um momento, mas a vontade de fazer as pazes com sua Jés era maior do que qualquer desconfiança do que aquilo poderia ser ou não.

Levantou de um pulo do sofá e foi direto para o banheiro. Tomou um banho quente e demorado, se arrumou da forma que julgava ficar mais bonito e ficou o mais cheiroso possível, estava muito animado com aquela mensagem e com a chance de passar um tempo que fosse perto de Jéssica. Não se demorou para sair.

O caminho já costumeiro para ele, lhe parecia estranho, como se fosse a primeira vez que estivesse indo na casa dela. A verdade é que esse estranhamento não era por causa do caminho que estava fazendo, mas sim porque sair na rua tinha se tornado algo raro para ele desde o término do namoro com Jés.

Tudo parecia diferente, fachadas, carros, pessoas... Mesmo estando tudo igual, exceto por alguns rostos que passavam por ele. Era a mesma cidade de sempre, até a mudança de clima que ameaçava esfriar o tempo havia desaparecido e perecido ao calor característico.

Subiu os degraus de dois em dois, tropeçando mais de uma vez até chegar ao andar desejado. O sorriso estampado no rosto, o coração pulando do peito e a ansiedade corroendo-o. Parou de frente para a porta do apartamento, bateu e esperou. De dentro, som algum saía, até que passados alguns segundos ouviu passos e o barulho da porta da varanda ser fechada. Após isso não demorou muito para ouvir a tranca da porta se abrir, porém nada além disso aconteceu.

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