Frida tem 17 anos e jura que sua vida é um inferno (e de fato é), mas ela é preguiçosa demais pra mover um dedo sequer pra mudar isso. Não que ela seja má, ranzinza ou reclamona, ela só está bem em sua zona de conforto onde bolos de nozes, chás de h...
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- Frida? - Ouço uma voz chamando. É minha mãe. Abro os olhos e ela me abraça desesperada. - O que aconteceu? - Pergunto quando percebo que algo está incomodando meu braço. Uma agulha. Puta que pariu, tem metade de uma agulha dentro do meu braço. - Sua amiga me ligou do hospital, você teve uma reação alérgica. - Minha mãe diz a palavra "amiga" com ênfase, sorrindo. - Amiga? - Oi, Frida - Uma voz doce surge no fundo e eu me levanto um pouco pra observar Maisie de braços cruzados e um sorriso calmo. O quarto em que estou é azul e não há ninguém além de Maisie e minha mãe, ambas preocupadas. - Mãe, ela não é minha amiga, é uma garota da minha turma de História. Maisie - digo, dessa vez encarando os grandes olhos azuis da menina - você pode ir embora já. Não precisa se incomodar, tá tudo bem. - Frida! - Minha mãe me corrige com um tapinha no ombro, mas não sei bem o que fiz de errado. - Ela estava muito preocupada com você, devia ao menos agradecer. - Ah, obrigada, Maisie. A menina sorri e acena com a cabeça, murmurando um "de nada". Parte de mim achou bonitinho ela ter me ajudado mas a outra parte sabe que ela faria isso por qualquer um e que eu não sou especial. Por que ela estava falando comigo, pra começo de conversa? - Veja só...eu preciso ir conversar com o seu médico. - Mamãe começa enquanto acaricia o topo da minha cabeça - mas Maisie te fará companhia. Descobri que ela mora a apenas cinco casas de distância da gente, espero que seja uma visita frequente. - Obrigada, Senhora Wolf, também espero. Minha mãe aperta a mão de Maisie com carinho antes de deixar o quarto. - Não espera nada. - Digo. - Como? - Maisie se aproxima. - Quer dizer, é legal da sua parte estar aqui, ter me socorrido e tudo mais, mas não precisamos ser amigas. Ela parece assustada. - Sério - continuo - você pode fingir que isso nunca aconteceu. Você não tem, sabe, alguma dívida comigo por eu ter apagado na sua frente. Está tudo bem, sem ressentimentos, você pode ir. - Tento parecer amigável, mas Maisie franze as sobrancelhas como quem acabou de tomar um pé na bunda. - Frida. - Ela me olha com atenção enquanto solta os cabelos e os prende novamente em um rabo de cavalo bem feito. - Eu não estou sendo boazinha com você por obrigação. Eu gosto de você, acho que tem grande potencial para ser minha melhor amiga. Afinal, vi você sentada sozinha no intervalo e pensei "Graças a Deus, encontrei alguém que, assim como eu, não sabe interagir". - Como é que é? - Sabe, você não tem ninguém. E não se ofenda, porque é verdade. E eu gosto de ser sozinha também. Então acho que podemos ser sozinhas juntas. Gosto do seu estilo. - Gosto do seu cabelo. Eu teria uma amiga loira. Ela sorri imediatamente quando cito seu cabelo e eu anoto mentalmente: Sempre lembrar Maisie que seu cabelo é lindo. Amigas devem elogiar, né? Da porta de vidro, vejo minha mãe sorrindo ao observar sua filha sendo simpática com outro ser humano que não fosse ela. - Pode desfazer o sorriso, mãe. A Frida aqui ainda queria estar morta. - FRIDA! - Minha mãe repreende com os olhos arregalados e sinto que ela mesma vai tirar a minha vida. - Calma, mãe, pelo amor de Deus, é só um meme. - Um o que? - Ela franze as sobrancelhas. - Você entende de memes? - Maisie entra na conversa. - Eu tenho um blog. - Sorrio e me arrependo logo depois. - Você tem o que? - Ela se espanta e segura o riso. Jesus Cristo. O que foi que eu fui fazer? - Eu não acredito que você tem um blog! Isso é tão legal! Qual o nome? - Maisie se senta na maca, ao lado do meu pé. - É... não é bem um blog. - Não? É o que? - Eu só escrevo umas coisas, não é nada de mais. - Acho tão legal quem escreve! - A voz empolgada dela começa a me irritar. - O que você escreve? - Eu comecei hoje de madrugada, na verdade, só tem duas postagens e noventa por cento delas são reclamações. - Como chama? Qual o link? - Bom - Minha mãe interrompe, me salvando - vejo que vocês estão se dando bem. Preciso ir trabalhar. Frida, está tudo bem com você, o médico disse que pode ir pra casa daqui a uma hora. - Por que não posso ir agora? - Ele deve voltar antes pra fazer mais alguns exames. Maisie, pode dar carona a ela depois? - Claro, Senhora Wolf. Minha mãe da um sorriso e se aproxima pra me dar mais um beijo na testa. - Me ligue quando chegar em casa. Use o telefone da sala. Amo você. - E então ela se aproxima do meu ouvido e sussurra para que Maisie não ouça. - Ela é interessante, faça uma amiga. - E se levanta, me deixando com uma garota loira com cara de quem está sempre ouvindo piadas. - Também te amo, mãe. - Tento sorrir, sei que ela está se esforçando pra não me pressionar, mas minha mãe precisa que eu tenha alguém além dela, então resolvo dar uma chance a Maisie. - Vocês são tão parecidas... Gostaria de ter conhecido minha mãe. - Ela morreu? - Pergunto e me arrependo logo depois. Droga, Frida, isso não é da sua conta. - Desculpa, você não precisa responder. - Não, não tem problema não. Ela faleceu quando eu era um bebê, não sobreviveu ao parto. Mas fui criada pela minha madrasta e meu pai. - Então você é quase uma Cinderela. - A Cinderela não tem pai, Frida. - Mas ela tem uma madrasta. - Minha madrasta é boa e minhas duas irmãs também. - Irmãs? Isso é legal. - Kate e Alice, gêmeas, elas têm 5 anos. E você? - Eu tenho 17. - Irmãos, Frida. - Ah! - Solto uma risada por ser tão lerda. - Nenhum. O médico entra na sala e Maisie levanta da maca enquanto ele me examina, tirando e colocando agulhas na minha veia, colhendo meu sangue sem me pedir licença, como se eu fosse um vegetal e não estivesse sentindo incômodo algum com aquela palhaçada. Ele nos deixa e volta cinco minutos depois. - Frida Wolf? - Sério que ele estava me furando esse tempo todo sem saber meu nome? - A própria. - Você deve cortar o limão. - Ok, cadê a faca? Maisie solta uma risadinha pelo nariz e o médico me olha com cara de tédio. Quantas pessoas devem fazer essa piadinha ridícula por dia? Sinto dó do cara. - Você é alérgica a limão. Comeu algo que continha nesses últimos dias? - Eu tomo chá de hortelã com limão todos os dias. - É, agora não toma mais. - Ele diz com os olhos na prancheta, escrevendo a receita com alguma letra que sei que sofrerei pra entender depois. - Deve tomar esse comprimido de 8 em 8 horas até a vermelhidão do ombro passar. - Ele me entrega o papel. - Está liberada. - Obrigada. - O mal educado apenas acena com a cabeça e sai do quarto. - Vamos, sua mochila está no meu carro. - Você tem um carro? - Arregalo meus olhos. - Frida, metade da escola tem carros. Nós já temos 17 anos. - Eu não tenho. - Você não tem nem celular. - Não é necessário pra mim. Ela sorri e me estende sua mão branca pra me ajudar a levantar. Não sei pra que, afinal, não estou aleijada, mas seguro nela e a sigo até estacionamento do hospital. Maisie aperta um botão no controle e um conversível vermelho faz pi-pi. - Vermelho? - Pergunto. - O que? Não gosta? - Acho bonito, mas se eu tivesse um carro ele seria azul. - Azul é cor de menino, Frida. - Ah, por favor, e cor agora tem pinto? - Abro a porta e entro no carro enquanto Maisie nem se dá o trabalho, apenas pula a porta e se senta no banco de couro bege, rindo do que acabei de dizer. Ela puxa um óculos de sol da bolsa e o coloca. - E então, pra onde você quer ir? - Pra casa? - Afirmo perguntando. - Ah, ainda temos metade do dia. O sol vai se por já já, vamos passear por Harvey. Assinto quando percebo que jamais ganharia uma discussão com Maisie. Coloco o cinto e ela liga o som, dando partida logo em seguida.
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