CAPITULO 2- HOSPITAL.

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- Frida? - Ouço uma voz chamando

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- Frida? - Ouço uma voz chamando. É minha mãe. Abro os olhos e ela me abraça desesperada.
- O que aconteceu? - Pergunto quando percebo que algo está incomodando meu braço. Uma agulha. Puta que pariu, tem metade de uma agulha dentro do meu braço.
- Sua amiga me ligou do hospital, você teve uma reação alérgica. - Minha mãe diz a palavra "amiga" com ênfase, sorrindo.
- Amiga?
- Oi, Frida - Uma voz doce surge no fundo e eu me levanto um pouco pra observar Maisie de braços cruzados e um sorriso calmo.
O quarto em que estou é azul e não há ninguém além de Maisie e minha mãe, ambas preocupadas.
- Mãe, ela não é minha amiga, é uma garota da minha turma de História. Maisie - digo, dessa vez encarando os grandes olhos azuis da menina - você pode ir embora já. Não precisa se incomodar, tá tudo bem.
- Frida! - Minha mãe me corrige com um tapinha no ombro, mas não sei bem o que fiz de errado. - Ela estava muito preocupada com você, devia ao menos agradecer.
- Ah, obrigada, Maisie.
A menina sorri e acena com a cabeça, murmurando um "de nada". Parte de mim achou bonitinho ela ter me ajudado mas a outra parte sabe que ela faria isso por qualquer um e que eu não sou especial. Por que ela estava falando comigo, pra começo de conversa?
- Veja só...eu preciso ir conversar com o seu médico. - Mamãe começa enquanto acaricia o topo da minha cabeça - mas Maisie te fará companhia. Descobri que ela mora a apenas cinco casas de distância da gente, espero que seja uma visita frequente.
- Obrigada, Senhora Wolf, também espero.
Minha mãe aperta a mão de Maisie com carinho antes de deixar o quarto.
- Não espera nada. - Digo.
- Como? - Maisie se aproxima.
- Quer dizer, é legal da sua parte estar aqui, ter me socorrido e tudo mais, mas não precisamos ser amigas.
Ela parece assustada.
- Sério - continuo - você pode fingir que isso nunca aconteceu. Você não tem, sabe, alguma dívida comigo por eu ter apagado na sua frente. Está tudo bem, sem ressentimentos, você pode ir. - Tento parecer amigável, mas Maisie franze as sobrancelhas como quem acabou de tomar um pé na bunda.
- Frida. - Ela me olha com atenção enquanto solta os cabelos e os prende novamente em um rabo de cavalo bem feito. - Eu não estou sendo boazinha com você por obrigação. Eu gosto de você, acho que tem grande potencial para ser minha melhor amiga. Afinal, vi você sentada sozinha no intervalo e pensei "Graças a Deus, encontrei alguém que, assim como eu, não sabe interagir".
- Como é que é?
- Sabe, você não tem ninguém. E não se ofenda, porque é verdade. E eu gosto de ser sozinha também. Então acho que podemos ser sozinhas juntas. Gosto do seu estilo.
- Gosto do seu cabelo. Eu teria uma amiga loira.
Ela sorri imediatamente quando cito seu cabelo e eu anoto mentalmente: Sempre lembrar Maisie que seu cabelo é lindo. Amigas devem elogiar, né?
Da porta de vidro, vejo minha mãe sorrindo ao observar sua filha sendo simpática com outro ser humano que não fosse ela.
- Pode desfazer o sorriso, mãe. A Frida aqui ainda queria estar morta.
- FRIDA! - Minha mãe repreende com os olhos arregalados e sinto que ela mesma vai tirar a minha vida.
- Calma, mãe, pelo amor de Deus, é só um meme.
- Um o que? - Ela franze as sobrancelhas.
- Você entende de memes? - Maisie entra na conversa.
- Eu tenho um blog. - Sorrio e me arrependo logo depois.
- Você tem o que? - Ela se espanta e segura o riso.
Jesus Cristo.
O que foi que eu fui fazer?
- Eu não acredito que você tem um blog! Isso é tão legal! Qual o nome? - Maisie se senta na maca, ao lado do meu pé.
- É... não é bem um blog.
- Não? É o que?
- Eu só escrevo umas coisas, não é nada de mais.
- Acho tão legal quem escreve! - A voz empolgada dela começa a me irritar. - O que você escreve?
- Eu comecei hoje de madrugada, na verdade, só tem duas postagens e noventa por cento delas são reclamações.
- Como chama? Qual o link?
- Bom - Minha mãe interrompe, me salvando - vejo que vocês estão se dando bem. Preciso ir trabalhar. Frida, está tudo bem com você, o médico disse que pode ir pra casa daqui a uma hora.
- Por que não posso ir agora?
- Ele deve voltar antes pra fazer mais alguns exames. Maisie, pode dar carona a ela depois?
- Claro, Senhora Wolf.
Minha mãe da um sorriso e se aproxima pra me dar mais um beijo na testa.
- Me ligue quando chegar em casa. Use o telefone da sala. Amo você. - E então ela se aproxima do meu ouvido e sussurra para que Maisie não ouça. - Ela é interessante, faça uma amiga. - E se levanta, me deixando com uma garota loira com cara de quem está sempre ouvindo piadas.
- Também te amo, mãe. - Tento sorrir, sei que ela está se esforçando pra não me pressionar, mas minha mãe precisa que eu tenha alguém além dela, então resolvo dar uma chance a Maisie.
- Vocês são tão parecidas... Gostaria de ter conhecido minha mãe.
- Ela morreu? - Pergunto e me arrependo logo depois. Droga, Frida, isso não é da sua conta. - Desculpa, você não precisa responder.
- Não, não tem problema não. Ela faleceu quando eu era um bebê, não sobreviveu ao parto. Mas fui criada pela minha madrasta e meu pai.
- Então você é quase uma Cinderela.
- A Cinderela não tem pai, Frida.
- Mas ela tem uma madrasta.
- Minha madrasta é boa e minhas duas irmãs também.
- Irmãs? Isso é legal.
- Kate e Alice, gêmeas, elas têm 5 anos. E você?
- Eu tenho 17.
- Irmãos, Frida.
- Ah! - Solto uma risada por ser tão lerda. - Nenhum.
O médico entra na sala e Maisie levanta da maca enquanto ele me examina, tirando e colocando agulhas na minha veia, colhendo meu sangue sem me pedir licença, como se eu fosse um vegetal e não estivesse sentindo incômodo algum com aquela palhaçada.
Ele nos deixa e volta cinco minutos depois.
- Frida Wolf? - Sério que ele estava me furando esse tempo todo sem saber meu nome?
- A própria.
- Você deve cortar o limão.
- Ok, cadê a faca?
Maisie solta uma risadinha pelo nariz e o médico me olha com cara de tédio. Quantas pessoas devem fazer essa piadinha ridícula por dia? Sinto dó do cara.
- Você é alérgica a limão. Comeu algo que continha nesses últimos dias?
- Eu tomo chá de hortelã com limão todos os dias.
- É, agora não toma mais. - Ele diz com os olhos na prancheta, escrevendo a receita com alguma letra que sei que sofrerei pra entender depois. - Deve tomar esse comprimido de 8 em 8 horas até a vermelhidão do ombro passar. - Ele me entrega o papel. - Está liberada.
- Obrigada. - O mal educado apenas acena com a cabeça e sai do quarto.
- Vamos, sua mochila está no meu carro.
- Você tem um carro? - Arregalo meus olhos.
- Frida, metade da escola tem carros. Nós já temos 17 anos.
- Eu não tenho.
- Você não tem nem celular.
- Não é necessário pra mim.
Ela sorri e me estende sua mão branca pra me ajudar a levantar. Não sei pra que, afinal, não estou aleijada, mas seguro nela e a sigo até estacionamento do hospital. 
Maisie aperta um botão no controle e um conversível vermelho faz pi-pi.
- Vermelho? - Pergunto.
- O que? Não gosta?
- Acho bonito, mas se eu tivesse um carro ele seria azul.
- Azul é cor de menino, Frida.
- Ah, por favor, e cor agora tem pinto? - Abro a porta e entro no carro enquanto Maisie nem se dá o trabalho, apenas pula a porta e se senta no banco de couro bege, rindo do que acabei de dizer. Ela puxa um óculos de sol da bolsa e o coloca.
- E então, pra onde você quer ir?
- Pra casa? - Afirmo perguntando.
- Ah, ainda temos metade do dia. O sol vai se por já já, vamos passear por Harvey.
Assinto quando percebo que jamais ganharia uma discussão com Maisie. Coloco o cinto e ela liga o som, dando partida logo em seguida.

 Coloco o cinto e ela liga o som, dando partida logo em seguida

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