CAPÍTULO 16 - CRESCER.

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"Décima primeira postagem em Frida Wolf. 12/11/2017.
Eu acho que deveria dizer que é, relativamente, fácil ser modelo. Deveria dizer que o glamour e os flashs e as passarelas te cegam a ponto de você esquecer que está sendo explorada e esticada e jogada de um lado pra outro.
Apenas porque você é bonita.
Mas não é bem assim.
O mundo da Moda te lembra o tempo todo que você é um objeto a ser apresentado, um rostinho bonito na capa da revista.
E nada.
Além.
Disso."

— Você não acha que vai desencorajar as meninas que querem ser modelos? - Pergunta Maisie, rodando na cadeira do meu quarto.
— Sou paga para não ser falsa no meu blog.  - Dou de ombros enquanto guardo algumas roupas recém dobradas na gaveta.
— E não acho que esse é o tipo de publicação que Yara ficará feliz em ler.
— Eu não sou paga pra fazer Yara feliz, sou paga para ser modelo e apresentar a marca ao público mais jovem e inseguro que acha que não é digno de usar aquelas roupas.
— Você não acha isso tudo meio exagero? - Ela pergunta — Quer dizer, quem é que deixa de usar uma roupa porque não gosta de si mesmo?
— Todo mundo. - Reviro os olhos. — Mas ainda acho que não alcanço tanta gente assim.
— Samantha disse que você vai ser uma grande digital influencer.
Samantha não sabe o que diz.
— Zac também parece apostar em você.
— Não vamos falar sobre Zac.
— Qual o problema dessa vez?
— A bendita festa de lançamento. - Falo, fazendo menção a festa da próxima sexta que apresentará à elite californiana a nova linha de roupas da Cher's.
— Não é como se você estivesse sendo obrigada a entrar com Zac. Eles não têm nenhum outro cara bonitinho na empresa?
— Você esqueceu que é uma marca feminina? Não tem modelo homem.
— Leve Finn então.
— Você quer mesmo que eu entre numa festa acompanhada daquele palito de dentes? - Pergunto, colocando as mãos na cintura.
— Então não reclame de Zac.
— Eu ainda tenho que chamar ele. - Respiro fundo, imaginando a cena.
— Acho que isso não será problema.
— Pronto. - Guardo a última peça de roupa na gaveta e a fecho. — Precisamos ir, já são quase três horas.
— Você acha que aguenta mais um shoot? Você me parece tão cansada.

Maisie não está errada. Eu, de fato, ando mais cansada do que o normal, comendo menos do que o normal, com mais olheiras do que o normal e 90% mais estressada do que o normal. Não, a vida de modelo não é tão glamurosa quanto parece. Nessa ultima semana, vi que é um trabalho como qualquer outro.
Adicione glitter a um personal trainer e ele será uma modelo, afinal, exige tanto esforço físico quanto.

— Hoje é só treino de passarela.
— Mas você não faz passarela.
— Annya não poderá ir e eu vou substituí-la.
— Você vai substituir uma modelo profissional? Já está nesse patamar? - Ela arregala os olhos.
— Não é grande coisa. - Pego minha bolsa e jogo as chaves do carro no colo de Maisie. — E eu vou ganhar mais. Dá pra colocar na poupança.
— O que você tanto quer com essa poupança?
— Um carro, pra não depender mais de você. - Dou risada e ela se levanta, me dando dois tapinhas no braço e me seguindo escada abaixo.
Assim que entramos no carro, meu celular vibra.

— Mensagem de Zac perguntando se já estou chegando. - Reviro os olhos.
— As vezes sinto que Zac acha que ele é que é seu chefe.

Ela dá partida no carro e aumenta o som, alguma música velha está tocando.
O caminho até Sacramento não é longo, mas posso utilizar a meia hora necessária para chegar a Capital pra pensar em tudo que está acontecendo na minha vida enquanto Maisie tagarela sobre a próxima festa de Josh.
Não estou prestando atenção.
Por algum motivo, tudo que já fiz na vida parece patético e infantil.
Acho que é essa a sensação de estar crescendo.

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