Os quarenta minutos de volta a Harvey parecem durar segundos.
- Esse lugar é minúsculo. - Peter diz quando estacionamos em frente à casa de Maisie.
- Sim. - Concordo, o ajudando a tirar minha amiga do carro. Wilson a coloca no colo enquanto eu sigo para abrir a porta.
- Terceiro quarto a esquerda, subindo as escadas. - Digo. Coloco nos ombros a bolsa de Maisie e dou tchau a Josh com a mão livre, já que a outra está segurando meus saltos.
- Quando vou te ver de novo? - Peter pergunta.
- Veremos. - Digo.
- Vai se fazer de difícil?
- Vocês homens precisam parar de achar que quando a mulher não está interessada ela está apenas se fazendo de difícil.
- Você não está interessada? - Ele se aproxima e minha respiração fica pesada.
- Não foi isso que eu disse.
Peter me beija mais uma vez antes de entrar no carro de Josh e me dar um sorriso pelo vidro. Eu sorrio de volta e entro na casa de Maisie, agradecendo Wilson por tê-la carregado.
- Eu não teria conseguido sem você. - Digo, com uma mão no peito, como se estivesse profundamente agradecida. Ele da risada e me dá um abraço leve.
- Você tem que sair mais com a gente. Gostamos de você.
Wilson diz e tudo em mim se ilumina. Eles gostaram de mim. Eu tenho amigos.
- Só chamar. - Digo. E dessa vez é de verdade.
Ele sorri e acena ao entrar no carro com seus amigos. Eu entro na casa de Maisie e fecho a porta atrás de mim.
Me pergunto onde estão os pais da minha amiga, mas não é como se eles estivessem presentes na vida dela o tempo todo, então não me surpreendo.
Ao entrar no quarto, encontro uma Maisie praticamente desmaiada em cima da cama e me deito ao seu lado, me permitindo desmaiar também. Foi uma noite longa, e eu só quero dormir.- Que horas nós chegamos? - A voz trêmula de Maisie me acorda.
- Não me lembro bem. - Tento me sentar na cama mas minha cabeça parece pesar 3kg.
- Eu preciso de um banho, estou podre.
- Tá mesmo. - Brinco e coloco um travesseiro na cabeça.
- Puta que pariu, quem me deixou dormir de salto alto?
- Wilson te colocou na cama, ele não deve ter pensado em tirar.
De repente, Maisie me dá um tapa tão forte que sinto meu braço ficar vermelho.
- PORRA! O que foi? - Sento na cama pra encara-la, Maisie parece assustada.
- Wilson? - Ela arregala os olhos.
- Não! Nãoooo! Não assim! Vocês não ficaram nem nada, mas você não queria que eu carregasse seus 55kg escada acima, né?
- Meu Deus... - Ela apoia a cabeça na mão. - Nunca mais faça isso.
- Eu que digo! Vou ficar vermelha por uma semana. Que horas são?
- Quase onze.
- Puta que pariu, prometi almoçar com minha mãe.
- Você não vai desse jeito, sua mãe vai achar que não fomos pra aula.
- Mas nós não fomos.
- E você quer que ela descubra? - Maisie levanta as sobrancelhas.
- Claro que não. Vou tomar um banho.
Levanto da cama, me arrastando até o banheiro. Deus, eu não gostaria de ser eu no dia de hoje.
Meus cabelos estão duros por causa do cloro e há duas crateras pretas ao redor dos meus olhos, feitas pelo rímel borrado. Não sei onde foi parar meu batom, mas tenho a sensação de que Peter acordará com uma mancha vermelha ao redor de sua boca. Sorrio ao pensar nele, mas me castigo logo depois.
Ligo o chuveiro e deixo a água morna carregar todos os resíduos de bebida alcoólica existentes no meu corpo e até penso em vomitar para acelerar o fim da ressaca, mas não estou com vontade. Após alguns minutos, ouço batidas -socos- na porta de madeira.
- FRIDA! SAI DESSE CHUVEIRO AGORA! - Há uma Maisie desesperada gritando do lado de fora.
- O QUE FOI? JÁ VOU SAIR.
- FRIDA, SAI AGORA! ISSO É SÉRIO!
- MAISIE, TEM SHAMPOO...
- EU ESTOU POUCO ME FUDENDO PRO SEU SHAMPOO! - Maisie abre a porta e eu dou um grito, pelada. Corro pra puxar a toalha e me cobrir. - OLHA ISSO!
Maisie me mostra a tela de seu celular. Mais de duzentas notificações.
- O que está acontecendo? - Franzo as sobrancelhas.
- E tem mais umas mil nos comentários do blog...
- Do blog? Do meu blog?
Arregalo os olhos e ela assente, preocupada.
Me enrolo na toalha e saio do banheiro, puxando o macbook da mochila e o abrindo em cima da cama.
- O que está acontecendo, meu Deus do céu? - Ligo o computador e os barulhinhos indicando novos comentários não param de chegar. Maisie se ajoelha no chão ao meu lado para me ajudar a ler.
- "Eu sabia que você iria se mostrar uma hora." - Ela lê o primeiro. - Frida, o que está acontecendo?
- Você acha que eu sei? - Eu tento rolar a página para encontrar a fonte dos comentários, mas eles não param de chegar, o que me impede de chegar à publicação.
- Espera! Por aí não vai dar certo, deixa eu abrir no iPhone que talvez vá mais rápido...
Maisie pega o celular e rapidamente abre a pagina do blog.
- Puta que pariu. - Minha amiga diz, levando uma das mãos a boca.
- O que foi, Maisie? - Puxo o celular da mão dela para ver a desgraça.
- Me desculpa, eu...
- O QUE FOI QUE VOCÊ FEZ?
- Eu te juro que não vi isso.
Na minha frente, há uma publicação com todas as fotos tiradas na festa. Todas. Sem exceções.
- Deve ter sido na hora que fui brincar com a foto que tirei sua e de Peter - Maisie diz - eu não vi que não tinha ido pro Instagram e sim pro blog.
- Tudo bem, mas ninguém conhece meu blog, o que está acontecendo? -
Pergunto, mas já sei a resposta. O primeiro comentário é de Johanna.
- "Belos peitos" - Maisie lê o comentário. - Johanna Flinton não tem limites não? Seus peitos nem estão aparecendo.
- Meu Deus do Céu, Maisie! Como eu pude deixar você tirar uma foto minha assim? - Eu aponto para a tela do celular, mostrando para minha amiga uma foto em que estou mergulhando na piscina com o vestido praticamente abaixado. Meu sutiã está a mostra.
- Pelo menos você não ficou feia em nenhuma. - Maisie dá de ombros. - E agora eles estão vendo que você tem vida social.
- E você acha que eu ligo pro que eles estão vendo? Maisie, isso sou eu! É minha vida! Sou eu beijando Peter, sou eu... - Vejo a próxima foto da postagem e respiro fundo - bebendo feito uma maluca.
- Frida, não tem nada de errado nessas fotos, se a gente for parar pra pensar. Temos dezessete anos, só saímos para uma festa.
- Uma festa na Capital, com meninos de vinte anos pra cima. Isso não está certo. E você ainda postou as fotos! Eu não vou ter coragem de encarar ninguém.
- Vai sim. Nós duas vamos colocar roupas bonitas e almoçar com a sua mãe e a tarde iremos pra Saint Harvey como se nada tivesse acontecido. Porque, de fato, nada aconteceu.
- Eu não acredito que você não está preocupada!
- E não estou mesmo. - Maisie se levanta e começa a tirar a maquiagem da noite anterior do rosto, se encarando no espelho. - Agora volta pro banho e aproveite seus quinze minutos de fama.
Sem saber o que falar, respiro fundo e coloco as duas mãos atras da nuca, levantando em seguida para continuar meu banho. Retiro o shampoo da cabeça implorando a Deus e ao universo que isso seja apenas um pesadelo e que eu possa voltar a ser apenas a Frida em breve.
Quando saio do banheiro, Maisie está deitada na cama com uma toalha enrolada na cabeça.
- Tive que tomar banho no banheiro dos meus pais. Você estava fazendo um ritual nesse chuveiro? Demorou horas.
- Precisava lavar a alma.
- Ah, larga de ser tão dramática. Vem cá, olha só. - Ela me mostra a tela do macbook. - As fotos não estão ruins. - Maisie tenta me acalmar. E de fato, as fotos estão boas. Eu pareço feliz em todas, e a foto beijando Peter não ficou tão pornográfica quanto achei que havia ficado.
- É... - Tento concordar, mas não estou convencida.
- Isso é até bom, sabe? - Maisie dá um sorriso. - Pode te dar popularidade.
- Popularidade? - Levanto às sobrancelha, incrédula. - Fui uma zero á esquerda a vida inteira e de repente fotos minhas são postadas e você está preocupada com a minha popularidade?
- Frida, pela milésima vez, qual o problema dessas fotos? Você mesma já aceitou que está bonita! Acorda, Frida, boas garotas não fazem história. Agora vai colocar uma roupa decente e vamos que estou maluca de vontade de comer a comida de Sara Wolf.
Respiro fundo e me levanto da cama, pensando em quantos dias se leva para destruir uma reputação (ou criar uma). O resultado? Algumas semanas e uma ótima (péssima) melhor amiga.
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FRIDA
ChickLitFrida tem 17 anos e jura que sua vida é um inferno (e de fato é), mas ela é preguiçosa demais pra mover um dedo sequer pra mudar isso. Não que ela seja má, ranzinza ou reclamona, ela só está bem em sua zona de conforto onde bolos de nozes, chás de h...