CAPITULO 3- BLOG.

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A brisa leve das cinco e trinta da tarde bate no meu rosto como quem acaricia uma pessoa amada, e eu tento não notar que, pela primeira vez, não me sinto tão mal assim em Harvey

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A brisa leve das cinco e trinta da tarde bate no meu rosto como quem acaricia uma pessoa amada, e eu tento não notar que, pela primeira vez, não me sinto tão mal assim em Harvey. A areia da praia é fofa, o sol está brilhando ainda e o mar segue agitado, o que deixa a temperatura amena.
- Aposto que sua saia vai estar toda suja quando se levantar. - Diz Maisie, que preferiu sentar em cima do próprio salto do que na "areia poluída da praia de Harvey".
- É o que acontecesse quando se senta na areia, Maisie. Você deveria tentar.
- E entrar em contato com várias bactérias de uma vez só? Obrigada mas não, obrigada. E nem você deveria, já que acabou de sair do hospital.
- E quem disse que não estou interessada em voltar pra lá? - Sorrio e coloco o canudo da água de coco na boca.
- Você fala sério quando diz que não gosta da sua vida? - Ela franze as sobrancelhas e adota uma expressão bem mais preocupada do que deveria.
- Eu não tenho problema algum com a minha vida. - Minto - Eu só tenho problema com o fato das pessoas terem problemas com o jeito que eu levo a minha vida.
- Eu não entendi nada, mas sei que você não gosta de você.
- Eu...
- Não te julgo! - Ela me interrompe. - Não deve ser fácil ser aceita andando de all star e saia de pregas em Saint Harvey. - Diz, fazendo menção a nossa escola com cara de nojo.
- Maisie, você anda de saia de pregas também, a única diferença é que você não tem senso de moda algum e coloca salto alto junto.
Ela arregala os olhos e coloca uma mão no peito, fingindo ofensa.
- E o que é que você sabe de moda, senhorita Frida Wolf?
- Não muito - dou de ombros - mas sei o bastante, inclusive que saias de pregas não foram feitas para ser usadas com saltos altos.
- É disso que o seu blog fala? - Ela levanta uma sobrancelha.
- Não. - Respondo enquanto brinco de afundar meu pé na areia.
- Sabe, hoje em dia as pessoas ganham dinheiro com blog.
- Eu não ganharia com o meu. - Dou risada, até a possibilidade me diverte.
- E por que não? Você não tem cara de quem escreve mal.
- E não escrevo! Mas meus pensamentos são só meus, não quero dividi-los com ninguém.
- Se não quisesse não teria um blog, teria um diário.
O que foi mesmo que eu disse sobre jamais ganhar uma discussão com Maisie Williams? Pois é.
- Enfim, eu acho uma boa ideia nós divulgarmos o seu blog.
- Divulgar pra quem, Maisie? Ninguém naquela escola sabe que eu existo, e você também não é assim tão popular. E outra, a senhorita nunca nem leu o que eu escrevi, não surta.
- Não surta. - Ela repetiu com voz de desdém - Você é a surtada aqui.
Se fosse qualquer outra pessoa, eu sairia batendo os pés e nunca mais olharia na cara, mas Maisie fala com tanta naturalidade que sinto que posso rebater na mesma moeda sem correr o risco dela ficar brava.
- Você quer ser minha amiga, não quer? Vai ter que se acostumar.
- Você já teve seu coração partido por alguma amizade? - Maisie está claramente interessada na minha resposta.
- Não. - Franzo a sobrancelhas.
- Então por que afasta tanto as pessoas?
- Não é questão de afastar, eu só não me acho digna da presença de ninguém. Quer dizer, olha pra mim, eu não sou nada interessante.
- Pessoas gostam de blogs.
- Maisie, pelo amor de Deus!
- Eu só vou parar quando você me deixar ler.
- Ok! - Me dou por vencida.
- Ok? - Vejo um sorriso se formar nos lábios rosa dela.
- Você ganhou. Vamos até a minha casa e você pode ler as bobagens que eu falo na internet.
- Yey!!!! - Ela bate palminhas e praticamente pula em mim, me dando um abraço forte e rindo tão alto que a praia toda pode ouvir.
Eu nunca havia sido abraçada assim.
- Vamos? - Pergunto com um sorriso no rosto.
Ela apenas assente e se levanta, batendo na saia de pregas para expulsar a areia que mal encostou nela. Eu, por outro lado, estou imunda, mas não me importo. Apenas me sacudo como se fosse um cachorro molhado e sigo Maisie até a Mercedes vermelha.
O caminho até a minha casa não é longo, e minha nova amiga estaciona na porta.
- Sério que até a sua casa é azul? - Ela pergunta enquanto puxa a bolsa.
- Culpe Sara Wolf. - Abro a porta, entrando no pequeno sobrado com decoração de madeira que vivo desde os 15 anos.
- Droga, por que esse nome de vocês é tão legal? Wolf. Que tipo de pessoa tem sobrenome de animal? Isso é tipo nome artístico. Bem melhor que Williams.
Dou risada e subo pro meu quarto, seguida por Maisie que parece estar fotografando com os olhos cada canto da casa.
- Se interessou? Minha mãe está querendo vender. - Brinco.
- Quero ser arquiteta um dia. - Ela diz e percebo que entramos em um novo estágio da amizade: falar sobre o futuro.
- Isso é legal. - Me inclino sobre a mesinha pra abrir o MacBook na página do blog.
- Você pensa no que quer ser? Depois da faculdade?
- Eu não penso nem na faculdade.
Maisie se senta na minha cadeira azul bebê e faz com que ela gire antes de focar seus grandes olhos na primeira postagem do blog.
- Depois não diz que não avisei. - Alerto.
- Blog da Frida? Jura? Não poderia ser nem um pouquinho mais original?
- Mas é o meu nome! - Eu me sento na cama e assisto ela ler.
Percebo que o cabelo de Maisie tem mechas vermelhas e me pergunto se a garota já se aventurou a ser ruiva. Coragem. Eu jamais mudaria o meu cabelo, gosto desse corte estilo pulp-fiction.
Após alguns minutos, Maisie gira a cadeira, ficando de frente pra mim.
- Frida, isso é bom! - A menina da ênfase na última palavra, como quem está realmente impressionada.
- Você só está falando pra me agradar, não tem nada de interessante aí!
- Claro que tem. O jeito que você escreve não é nem um pouco inseguro. É como se você soubesse exatamente o que está fazendo e tivesse certeza de que é boa nisso.
- Maisie, são reclamações de uma menina de 17 anos.
- Que está cansada de ver o mundo da mesma forma e não consegue fazer absolutamente nada pra mudar. Você tem noção de quantas meninas passam por isso diariamente, Frida? De quantas pessoas você poderia impactar?
Do que diabos ela tá falando? Impactar? Quem usa essa palavra?
- Maisie, pelo amor de Swift, são rabugentices de uma menininha mimada e estressada.
- Primeiro: eu não sei quem é Swift. Segundo: você não sabe nada sobre o mundo feminino. Terceiro: eu sei. Quarto: noventa por cento das garotas que eu conheço são, de alguma forma, insatisfeitas com seu próprio corpo, sua própria vida e suas próprias ideias. Você pode ajudá-las, Frida! - Os olhos dela encaram os meus. Maisie está realmente animada com isso. E eu estou aterrorizada.
- Maisie, eu convivo a dezessete anos com esses problemas. Você acha que se eu soubesse como ajudar eu já não teria me ajudado?
- Ajudar uma pessoa não é exatamente dar um conselho, falar o que ela deve fazer...às vezes é só mostrar as coisas de outro ângulo, do seu ângulo.
- Não, nós não vamos divulgar isso. É besteira e eu vou ser motivo de chacota durante meses. - Levanto da cama e abro minhas gavetas procurando algo confortável pra vestir.
- Larga de ser burra e cabeça dura. Imagine, por dois segundos, o quanto seria incrível ser alguém além da Frida que passa o intervalo todo sozinha comendo bolo. Imagine como seria incrível ser reconhecida por algo que você faz! Imagine ser alguém! Imagine ser Frida Wolf.
- Eu já sou Frida Wolf. E já temos intimidade o suficiente para que eu troque de roupa na sua frente? Essa camisa do uniforme tá me matando. - Pergunto assim que acho um pijama de lobinhos coloridos.
- Sim, já temos. E não, você não é Frida Wolf. Você é só a Frida. Uma garota que finge não estar nem aí pra nada enquanto na verdade queria muito se destacar no meio da multidão.
- Você está completamente louca.
- E você completamente cega. - Ela sorri. - Isso que você tem é um talento, Frida, você sabe conversar com o leitor, trazer ele pro seu mundo...falo como uma pessoa que leu cento e vinte e oito livros no ano passado: eu entendo de palavras. - A menina se levanta, desamassando a saia de pregas e olhando no relógio dourado. - Bom, já está na minha hora, preciso ir. Mas pense nisso, Frida, pode dar certo.
- Prefiro não trabalhar com incertezas.
Quando penso que Maisie vai reabrir o assunto, ela só me abraça, coloca sua bolsa rosa no ombro e deixa o quarto. Ouço a porta da sala se fechar logo depois.
Se agora tenho uma amiga, eu não sei. Se amanhã vou continuar sozinha, eu não sei. Mas que Maisie me fez pensar mais no meu blog como algo sério e menos como uma brincadeira qualquer, ah se fez...

 Mas que Maisie me fez pensar mais no meu blog como algo sério e menos como uma brincadeira qualquer, ah se fez

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