CAPÍTULO 26- RUBY GORDON

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- Eu ainda odeio o fato de que você é minha irmã.

Arregalo os olhos e seguro a vontade de me beliscar para ver se a visão de Ruby Gordon, parada na minha porta as dez da manhã num sábado com olheiras enormes e sem qualquer glamour, é real ou um sonho.

- Bom dia. - Digo.
- E odeio mais ainda o fato de você também ser uma pessoa pública.

Pessoa pública? Do que diabos ela tá falando?

- O que significa que não podemos ignorar tudo isso. - Ruby continua, entrando em minha casa sem pedir licença. - Nós precisamos ser irmãs.
- Ruby, tecnicamente, nós já somos.
- Eu li o seu blog. Sério, as pessoas vão achar que você entrou na Cher's por causa do papai...você não tem talento algum!
- Elas meio que já acham isso. - Reviro os olhos e me junto à ela, sentando no degrau da escada. Pela primeira vez, sinto que nossas armaduras estão abaixadas.
- Nós somos parecidas. - Ela desabafa, então sigo seu olhar até a estante, onde uma foto minha de uns dez anos atrás está exposta num porta-retratos de vidro.
- Isso é tão ruim assim?
- Você acha isso bom?
- Claro que não, a situação toda é bem complicada. É uma coincidência enorme meu pai trabalhar com moda e eu ter caído de paraquedas nesse mundo, é uma coincidência enorme eu sempre ter tido vontade de mudar radicalmente meu cabelo e de repente descubro que tenho uma irmã quase gêmea de cabelos vermelhos e é...
- Você sempre fala muito assim? - Ruby me interrompe e levanta uma sobrancelha.
- Eu não...

E então sou interrompida novamente, mas dessa vez pela porta da sala, que se abre e revela uma Sara Wolf desnorteada.

- Frida! Não sabia que você tinha visitas. - Minha mãe tenta sorrir.
- Nem eu. - Digo.
- Oi. - Ruby está desconfortável, mas se levanta e estende uma mão a minha mãe. - Eu sou a...
- Ruby. - Sara a interrompe enquanto eu tento interpretar sua expressão, sem sucesso. - Você cresceu.
- É, já faz alguns anos que você tentou afastá-la de mim. - Sorrio e dou de ombros. -  Ruby, vamos subir.

Dou as costas e subo as escadas, seguida por Ruby.

- Uau, um quarto azul. Sempre quis um desses.
- Isso não é grande coisa. - Franzo o cenho.
- Seria se você morasse com Michael Gordon. Eu sempre fui a princesa.

Ruby se senta em minha cama e observa meu quarto.

- Por que você postou aquelas coisas sobre mim? - Pergunto, incapaz de ignorar o assunto.
- Estresse pós-traumático. - Ela dá de ombros. - Eu apaguei depois, se te serve de consolo...
- Não serve. Quero dizer, oportunista?! Eu jamais...
- A minha vida foi uma mentira também, Frida. - Ruby desabafa, me interrompendo enquanto encara seus joelhos. - Você não é a única vítima aqui.
- Eu nunca disse que...
- Eu sei. - Ela me interrompe novamente. - Você nunca me ofendeu. Não é do seu feitio ser uma pessoa má...eu tomei esse dom pra mim.
- Você não é má.
- Não todos os dias.
- Ruby, eu sinto muito...
- Crescer naquela casa foi uma guerra, mas eu entendo agora: Michael quis unir duas filhas em uma, e eu era a cobaia mais próxima. "Ruby, não faça isso", "Ruby, seu cabelo é bem mais bonito da cor natural", "Ruby, você precisa agir como as meninas da sua idade". - Ela desabafa, citando frases que imagino terem saído da boca do meu pai. - Mal sabiam eles... - Ela sorri, ironicamente, e eu tento ignorar as lágrimas que estão se formando nos olhos de Ruby, mas é como me assistir chorar.
- Queria conseguir te dizer que por aqui foi tudo tão ruim quanto...mas não. Sara foi uma ótima mãe e um ótimo pai ao mesmo tempo.
- Eu sei. E é por isso que quero te pedir pra morar com ela.
- Mas eu já moro com ela. - Franzo o cenho, tentando entender onde Ruby quer chegar, mas ela só revira os olhos.
- Não, Frida! Eu quero morar com ela.
- Mas ela não é a sua mãe.
- Mas é a sua, e pelo que eu entendi, vocês estão se odiando agora, assim como eu e o papai não nos suportamos mais, então acho justo que nós duas troquemos de lugar por algumas semanas.
- Da onde foi que você tirou essa ideia absurda?!
- Frida, pensa. Eu não conheço você, você não me conhece. Eu não conheço o seu mundo e você não conhece o seu pai. É unir o útil ao agradável.
- Exceto que não há nada de agradável em morar com um estranho!
- Ele é seu pai.
- E ela é minha mãe.
- Frida, não vai ser pra sempre. Nós precisamos disso! Eu preciso disso.
- Mas as minhas coisas...e Maisie... e...
- Suas coisas não vão correr de você e muito menos sua amiga tagarela. Tudo estará no mesmo lugar quando você voltar, e espero que meus pertences continuem intactos também.
- Eu não sei, Ruby, isso parece tão...
- Absurdo? - Ela me interrompe, levantando uma das sobrancelhas finas. - Mais absurdo que a ideia de que vivemos dezessete anos sem saber que somos irmãs gêmeas?
- Um: você tem dezesseis. Dois: nós não somos gêmeas.
- Nós somos idênticas, Frida! Aceita o que estou te propondo...
- Mas e Michael? Ele não deve ter adorado essa sua ideia.
- Eu estarei a alguns quilômetros de distância, e não é como se ele fosse o meu maior fã no momento.
- Você é menor de idade, Ruby! Não pode fugir da sua vida dessa forma...
- Um: você também é menor de idade. Dois: não estou fugindo da minha vida, estou descobrindo a minha vida. - Ela me encara e segura minhas mãos. - Por favor, Frida.

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