- Eu ainda odeio o fato de que você é minha irmã.
Arregalo os olhos e seguro a vontade de me beliscar para ver se a visão de Ruby Gordon, parada na minha porta as dez da manhã num sábado com olheiras enormes e sem qualquer glamour, é real ou um sonho.
- Bom dia. - Digo.
- E odeio mais ainda o fato de você também ser uma pessoa pública.Pessoa pública? Do que diabos ela tá falando?
- O que significa que não podemos ignorar tudo isso. - Ruby continua, entrando em minha casa sem pedir licença. - Nós precisamos ser irmãs.
- Ruby, tecnicamente, nós já somos.
- Eu li o seu blog. Sério, as pessoas vão achar que você entrou na Cher's por causa do papai...você não tem talento algum!
- Elas meio que já acham isso. - Reviro os olhos e me junto à ela, sentando no degrau da escada. Pela primeira vez, sinto que nossas armaduras estão abaixadas.
- Nós somos parecidas. - Ela desabafa, então sigo seu olhar até a estante, onde uma foto minha de uns dez anos atrás está exposta num porta-retratos de vidro.
- Isso é tão ruim assim?
- Você acha isso bom?
- Claro que não, a situação toda é bem complicada. É uma coincidência enorme meu pai trabalhar com moda e eu ter caído de paraquedas nesse mundo, é uma coincidência enorme eu sempre ter tido vontade de mudar radicalmente meu cabelo e de repente descubro que tenho uma irmã quase gêmea de cabelos vermelhos e é...
- Você sempre fala muito assim? - Ruby me interrompe e levanta uma sobrancelha.
- Eu não...E então sou interrompida novamente, mas dessa vez pela porta da sala, que se abre e revela uma Sara Wolf desnorteada.
- Frida! Não sabia que você tinha visitas. - Minha mãe tenta sorrir.
- Nem eu. - Digo.
- Oi. - Ruby está desconfortável, mas se levanta e estende uma mão a minha mãe. - Eu sou a...
- Ruby. - Sara a interrompe enquanto eu tento interpretar sua expressão, sem sucesso. - Você cresceu.
- É, já faz alguns anos que você tentou afastá-la de mim. - Sorrio e dou de ombros. - Ruby, vamos subir.Dou as costas e subo as escadas, seguida por Ruby.
- Uau, um quarto azul. Sempre quis um desses.
- Isso não é grande coisa. - Franzo o cenho.
- Seria se você morasse com Michael Gordon. Eu sempre fui a princesa.Ruby se senta em minha cama e observa meu quarto.
- Por que você postou aquelas coisas sobre mim? - Pergunto, incapaz de ignorar o assunto.
- Estresse pós-traumático. - Ela dá de ombros. - Eu apaguei depois, se te serve de consolo...
- Não serve. Quero dizer, oportunista?! Eu jamais...
- A minha vida foi uma mentira também, Frida. - Ruby desabafa, me interrompendo enquanto encara seus joelhos. - Você não é a única vítima aqui.
- Eu nunca disse que...
- Eu sei. - Ela me interrompe novamente. - Você nunca me ofendeu. Não é do seu feitio ser uma pessoa má...eu tomei esse dom pra mim.
- Você não é má.
- Não todos os dias.
- Ruby, eu sinto muito...
- Crescer naquela casa foi uma guerra, mas eu entendo agora: Michael quis unir duas filhas em uma, e eu era a cobaia mais próxima. "Ruby, não faça isso", "Ruby, seu cabelo é bem mais bonito da cor natural", "Ruby, você precisa agir como as meninas da sua idade". - Ela desabafa, citando frases que imagino terem saído da boca do meu pai. - Mal sabiam eles... - Ela sorri, ironicamente, e eu tento ignorar as lágrimas que estão se formando nos olhos de Ruby, mas é como me assistir chorar.
- Queria conseguir te dizer que por aqui foi tudo tão ruim quanto...mas não. Sara foi uma ótima mãe e um ótimo pai ao mesmo tempo.
- Eu sei. E é por isso que quero te pedir pra morar com ela.
- Mas eu já moro com ela. - Franzo o cenho, tentando entender onde Ruby quer chegar, mas ela só revira os olhos.
- Não, Frida! Eu quero morar com ela.
- Mas ela não é a sua mãe.
- Mas é a sua, e pelo que eu entendi, vocês estão se odiando agora, assim como eu e o papai não nos suportamos mais, então acho justo que nós duas troquemos de lugar por algumas semanas.
- Da onde foi que você tirou essa ideia absurda?!
- Frida, pensa. Eu não conheço você, você não me conhece. Eu não conheço o seu mundo e você não conhece o seu pai. É unir o útil ao agradável.
- Exceto que não há nada de agradável em morar com um estranho!
- Ele é seu pai.
- E ela é minha mãe.
- Frida, não vai ser pra sempre. Nós precisamos disso! Eu preciso disso.
- Mas as minhas coisas...e Maisie... e...
- Suas coisas não vão correr de você e muito menos sua amiga tagarela. Tudo estará no mesmo lugar quando você voltar, e espero que meus pertences continuem intactos também.
- Eu não sei, Ruby, isso parece tão...
- Absurdo? - Ela me interrompe, levantando uma das sobrancelhas finas. - Mais absurdo que a ideia de que vivemos dezessete anos sem saber que somos irmãs gêmeas?
- Um: você tem dezesseis. Dois: nós não somos gêmeas.
- Nós somos idênticas, Frida! Aceita o que estou te propondo...
- Mas e Michael? Ele não deve ter adorado essa sua ideia.
- Eu estarei a alguns quilômetros de distância, e não é como se ele fosse o meu maior fã no momento.
- Você é menor de idade, Ruby! Não pode fugir da sua vida dessa forma...
- Um: você também é menor de idade. Dois: não estou fugindo da minha vida, estou descobrindo a minha vida. - Ela me encara e segura minhas mãos. - Por favor, Frida.
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FRIDA
ChickLitFrida tem 17 anos e jura que sua vida é um inferno (e de fato é), mas ela é preguiçosa demais pra mover um dedo sequer pra mudar isso. Não que ela seja má, ranzinza ou reclamona, ela só está bem em sua zona de conforto onde bolos de nozes, chás de h...