CAPÍTULO 39 - ICEBERG

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O plano de ser de Zac teria dado certo, se não fosse um certo compromisso às cinco que me tirou dele.
Estou no banco passageiro do conversível preto e uma música alta toma conta do momento. Mikky Ekko, de acordo com o vasto conhecimento de Zac sobre cantores completamente desconhecidos, e eu me pergunto como uma pessoa pode ter tantos K's no nome sem ser considerado um atentado à gramática.
A tatuagem de Zac é bem mais aparente do que a minha e toma conta de uns 10 centímetros da pele branca de seu pulso. Eu reparo em sua mão no volante e tento não desejá-la em minha cintura nesse exato momento. Há algo em Zac hoje, algo que está me tirando do chão sem nem me levantar.

— Você está bem? - Ele pergunta, sem tirar os olhos da estrada.
— Sim, por quê?
— Não falou nada o caminho todo.
— Só estou curtindo o momento. - Eu sorrio e estico minha mão até sua nuca, fazendo carinho em seu cabelo enquanto Zac dirige.

— O que achou da tatuagem?

Começo a encarar meu braço e a sensação de pertencimento me transborda. É como se eu estivesse exatamente onde deveria estar e com quem deveria estar, como se a tatuagem já estivesse comigo a vida toda.

— É perfeita. - Sorrio. — E a dor nem foi tão absurda. - Minto.
— Você é uma péssima mentirosa. - Ele sorri de lado.
— Eu te amo.

E foi aqui. Dez segundos depois de ter terminado a frase. Dez segundos de silêncio. Foi bem aqui que eu percebi o tamanho da merda que eu fiz.
Zac não diz nada, apenas sorri como quem está satisfeito consigo mesmo. E eu me encolho no banco, tentando não deixar o sorriso vacilar. Ele aumenta o som e começa a cantarolar mais uma musica do mesmo cantor. Eu me pergunto se algum dia esse momento será esquecido.
Porque eu quero que seja.

— Posso te buscar hoje? - Ele quebra o silêncio.
— Sim. - Sorrio. — Mas só se for me deixar em casa. Esqueci de jantar com meu pai ontem e preciso ir hoje.
— Droga, queria que você dormisse comigo.

Meus olhos arregalam e eu perco os sentidos por alguns minutos. Sei que eu e Zac estamos juntos e que isso não é novidade pra ninguém, mas dormir com ele?! Eu sou virgem!

— Pode ser outro dia? Eu realmente preciso ir pra casa.
— Claro. Me avise quando estiver saindo e eu te busco.
— Ok.

Quando percebo, já estamos estacionados em frente à escola e eu preciso entrar. Deixo um beijo leve na bochecha de Zac e desço do carro, indo em direção ao portão de Saint Harvey, onde Noah está me esperando com um sorriso divertido no rosto e as mãos pra cima, como quem está indignado com a demora. Sorrio e corro pra abraçá-lo. Gosto da intimidade que criamos, embora eu não saiba bem como ela surgiu.

— Pensei que não viesse mais! - Ele diz, me soltando do abraço.
— Tive um imprevisto. - Sorrio e mostro meu braço a ele.
— Você tatuou?! - Noah arregala os olhos e começa a tocar todos os pontos da minha tatuagem.
— Sim! Zac me deu de presente. - O sorriso não abandona meu rosto.
— Zac seu namorado? - Há um desdém no jeito que ele quase cospe a palavra.
— Sim! E ele fez uma igual.
— Você e seu namorado de 25 anos fizeram tatuagens iguais? Você é maluca?
— Maluco é ele! Eu só concordei.
— E se vocês terminarem?
— Isso não é uma opção. - Digo, mesmo sabendo que é sim.
— Claro. - Noah revira os olhos mas parece desistir da batalha. — Ficou linda, combinou com você. Agora vamos, temos, no mínimo, uns dez papelões pra pintar.

Noah me pega pela mão e seguimos em direção ao salão de eventos da escola, onde os alunos já estão em seus devidos lugares, pintando e cortando papel. O cenário para o baile precisa ficar perfeito, então o número de ajudantes é grande.
Eu e Noah decidimos que pintar madeira é mais fácil, então ficamos com a montagem do navio. Sentados no chão, sem sapatos e com as pernas já sujas de tinta, me sinto bem. O dia está correndo bem e eu espero que termine assim.

— Já sabe o que vai usar? - Ele me pergunta.
— Algo como a Rose, eu acho. - Dou de ombros. — Não temos muita opção em Titanic. E você? vai ser Jack ou aquele noivo engomadinho da Rose?
— Provavelmente Jack. Lara está super interessada em ser a própria Rose, não vou deixá-la sozinha nessa.
— Ela vem?!
— Claro que sim. Não vou pagar esse mico sozinho.

E eu fico em silêncio. Não por ciúme de Lara, afinal, eu e Noah somos amigos e não é como se eu tivesse qualquer interesse nele, mas por ter sido descartado como uma boa companhia. Noah não está sozinho e, embora eu queira que ele saiba disso, não me sinto confortável em falar.

— Quem seu namorado vai ser? - Noah diz após longos minutos, quebrando o iceberg entre nós.
— Não conversamos sobre isso ainda.
— Mas ele vem? Não consigo imaginar alguém como ele em um baile de formatura do ensino médio.
— Você nem o conhece.
— Eu sei, estou me baseando no pouco que você fala dele.
— Por que você está sendo tão implicante com Zac hoje?
— Não estou implicando, Frida. - Seu tom de voz é sério. — Não tenho interesse na sua vida amorosa, desculpa.
— Ok. - Me limito a dizer, afinal, ele quebrou todas as minhas defesas agora. Não sei o que há com Noah hoje, mas não pretendo descobrir.
— Meus pais querem te ver de novo, gostaram de você.
— Também gostei muito deles. - Sorrio.
— Marco o almoço pra quando?
— Estou livre para o jantar.
— Hoje seremos só eu e Minnie, meus pais viajaram. Mas você está convidada para filme e pipoca.

Pondero a ideia por alguns segundos, pois não sei se Noah está me convidando por educação ou porque realmente quer minha presença. E então, como se tivesse lido meus pensamentos, ele diz:

— Eu sinto falta de ter uma amiga, sabia? Lara está muito longe e eu não me lembro da última vez que tive um amigo de verdade sem ser ela.
— Vocês começaram a namorar muito cedo. - Afirmo.
— Sim. E não é como se eu me arrependesse, claro que não, eu a amo, mas gostaria de ter aproveitado minha adolescência um pouco mais, sabe? Fazer aquelas coisas idiotas de pular muro e beber cerveja na piscina do vizinho.

Quando Noah termina de falar, percebo que estou completamente vidrada em sua voz e em como ela me transmite segurança. Quero ser amiga de Noah, quero que possamos confiar um no outro, quero ser um porto seguro enquanto Lara não estiver por perto.

— Tive uma ideia melhor que filme e pipoca. - Digo.
— O que?
— Você só vai saber depois. Agora, pinta isso direito que tá igual sua cara. - Brinco e o ajudo a tampar as bordas brancas da madeira velha com tinta marrom. Noah sorri e suja a ponta do meu nariz com uma gota de tinta e, para me vingar, faço o mesmo com o dele.
— Isso aqui virou acampamento? - Maisie surge, inconveniente.
— Olá, Maisie. - Noah diz um pouco formal demais e eu não consigo segurar a risada. Ele se levanta e a envolve num abraço apertado, sujando seus braços de tinta.
— VOCÊ É LOUCO? - Ela grita. — Agora preciso de um banho!
— Eu percebi. Nunca mais te abraço.

Noah solta uma gargalhada da irritação de minha amiga e eu caio na dele, rindo também.

— Frida, vai precisar de carona pra casa? - Maisie pergunta após revirar os olhos pra Noah, que continua com um sorriso levado no rosto.
— Vai. - Ele diz. — Mas ela vai comigo.
— Frida? - Maisie levanta uma sobrancelha e me encara, esperando respostas.
— Nós temos um compromisso. - Me justifico. — Mas você está convidada!
— E por que eu iria querer sair com esse lunático?
— Porque vocês se dão super bem! - Debocho.
— Tenham uma boa tarde. - Maisie Williams diz enquanto prende os cabelos num rabo de cavalo bagunçado. — E tenham um bom...sei lá o que vocês vão fazer! - E ela sai do salão, nos deixando com sorrisos divertidos no rosto.
— Ela me odeia. - Noah conclui, ainda sorrindo.
— É uma questão de tempo. - Sorrio.
— Disso eu sei. - Ele dá de ombros. — Sou irresistível.
— Sim, claro que sim. - Reviro os olhos mas não deixo de sorrir, afinal, é realmente bem difícil não gostar de Noah. Ele é...cativante.

As próximas três horas passam correndo e não percebemos quando somos os últimos que sobraram no salão. Noah boceja e eu checo as horas no celular. São quase nove da noite!

— O que acha de terminarmos isso amanhã? - Pergunto.
— Uma ótima ideia. - Ele me responde e nós começamos a juntar os materiais, deixando os pedaços de madeira e restos de tinta numa salinha reservada perto do palco. — Já decidiu onde vamos?
— Sim. - Sorrio. — Vamos precisar do seu carro.
— Sem problemas.

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