— Então é você que vai fazer meu casting? - Pergunto a Zac, debochada.
Ele está de cabelos presos hoje, segunda-feira, mas ainda usa a mesma (ou será que ele tem uma coleção de várias iguais?) calça preta com um rasgo no joelho.
— Você pode não dirigir a palavra a mim? - Ele rola os olhos e continua a limpar as lentes da câmera.
— Claro. - Dou de ombros e me sento na mesa dele. — Mas seria muito mais fácil e harmonioso se nós trabalhássemos juntos sem nos odiar.
— Eu não te odeio. - Ele diz, e eu arregalo os olhos, dando um sorriso largo logo em seguida.
— Ora ora, temos um começo. - Bato três palminhas.
— Você não é digna do meu ódio.
— Sabia que vinha algo... você é um grosso.
— Como é que você sabe? - Ele da um sorriso de lado, com malícia.
— Ah, pelo amor de Deus. Zac, piadinha com sexo as 9 da manhã? Achei que você fosse melhor que isso.
— Sente-se. - Ele pede. — Tenho umas perguntas a te fazer e umas medidas pra tirar.
— Já estou sentada.
— Frida, pare de agir igual uma pivete e faça seu trabalho.
Eu reviro os olhos e me sento na cadeira.
— Altura?
— 1,70. - Respondo, com orgulho. Ele inspira fundo.
— Idade?
— Tá se fazendo de besta?
— Idade? - Zac repete, com desgosto.
— Dezessete.
— Nível escolar?
— Segundo ano.Vejo ele segurar uma risadinha.
— O que foi?
— Você tem idade pra ser minha filha.
Arregalo os olhos.
— Quantos anos você tem?
— Vinte e cinco.
— Porra, e você me teve com quantos anos? Oito? Precoce, ein...
— Engraçada. Nome da mãe e do pai.
— Sara Wolf e não me lembro o nome do meu pai.
— Não se lembra? - Ele levanta uma sobrancelha.
— Ele vazou quando eu era um bebê. - Dou de ombros.
— Certo. - Zac está incomodado, posso sentir. — Irmãos?
— Não que eu saiba.
— Peso?
— Cinquenta e sete, eu acho.
— Alimentação?
— Bolo de nozes e chá de hortelã.
— Saudável ou não, Frida?
— De vez em quando.
— Por Deus... - Ele balança a cabeça e continua a digitar. — Primeira vez que fotografou profissionalmente?
— Semana passada, com você.
— Aquilo não foi profissional.
— Culpe o fotógrafo. - Sorrio. Ele se inclina na mesa e quando penso que vai me xingar, apenas sorri e solta o coque do cabelo, o prendendo novamente.
— Você é tão ranzinza quando eu.
— Isso era pra ser um elogio? - Levanto uma sobrancelha.
— Aceite como quiser. Alguma progressiva no cabelo?
— Não.
— Lentes de contato?
— Não.
— Tatuagem?
— Ainda não.
— Ainda?
— Quero fazer uma com dezoito anos. Minha mãe não deixaria antes disso.
— Posso te levar. - Ele oferece, mas não sei dizer se está de deboche ou não. — Conheço um lugar bem legal.
— Me desculpe, Zac, mas não confio na sua definição de lugares bem legais.
— O tatuador é um amigo meu. - Ele coloca o antebraço direito em cima da mesa, me mostrando as três rosas enormes tatuadas.
— Elas são lindas. - Toco no braço de Zac com a ponta dos dedos.
— Essa é minha mãe. - Ele indica a flor maior. — E minhas duas irmãs.
— E por que rosas?
— Porque elas estão mortas. - Ele fala sério e eu sinto meu corpo gelar. Mas então Zac começa a rir.
— Puta que pariu, Zac.
— É até divertido no jeito que você acredita em tudo que eu falo. É só comigo ou você é inocente assim com todo mundo?
— Com todo mundo. - Assumo, sorrindo.
— Você precisa mudar isso.Pela primeira vez, sinto que eu e Zac estamos tendo uma conversa e não apenas uma troca de farpas gratuita.
— Esse mundo vai te ajudar com isso. - Ele continua.
— E por que ajudaria?
— Essas meninas são cobras, Frida, não se deixe enganar. Annya é tão bondosa quanto eu, Charlotte é tão doce quanto você e Athena, bom...Athena é a pior.
— Athena? Não a conheci ainda.
— Não está perdendo nada. - Ele indica com o queixo um dos palanques onde as fotos são feitas, nele há uma menina negra de cabelos pretos, lisos até a cintura.
— Qual o problema com ela?
— Ela deve ser um pouco mais nova que você, mas já tem o dobro do dinheiro que você jamais terá. É filha de Yara.
— Filha? - Arregalo os olhos. É impossível que Yara tenha uma filha daquele tamanho.
— Tecnicamente, ela é irmã da Kaandra.
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FRIDA
ChickLitFrida tem 17 anos e jura que sua vida é um inferno (e de fato é), mas ela é preguiçosa demais pra mover um dedo sequer pra mudar isso. Não que ela seja má, ranzinza ou reclamona, ela só está bem em sua zona de conforto onde bolos de nozes, chás de h...