Frida tem 17 anos e jura que sua vida é um inferno (e de fato é), mas ela é preguiçosa demais pra mover um dedo sequer pra mudar isso. Não que ela seja má, ranzinza ou reclamona, ela só está bem em sua zona de conforto onde bolos de nozes, chás de h...
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"22:45 - quinta postagem em Frida Wolf. 04/11/2017. Você já foi à Capital? Eu poderia estar começando essa postagem perguntando se você já conhece as belezas da Itália, as estátuas da Grécia ou o Carnaval do Brasil, mas eu só quero saber: você já foi à Capital? Embora seja apenas a minúsculos 55km de Harvey, Sacramento (ou "a Capital", como a chamamos) é como se fosse outro país. As luzes brilham na mesma intensidade em que a neblina de Harvey embaça nossas visões. A Capital é outro mundo. Na Capital, você pode beber vodka com morango e não se sentir uma menor de idade sendo rebelde sem causa, você pode beijar um menino dentro de uma piscina sem pensar no que vão falar na manhã seguinte (porque ninguém liga pra você), você pode segurar o cabelo da sua amiga enquanto ela vomita numa privada qualquer... Enfim, você pode ser quem você sempre quis ser mas não tinha coragem de admitir. Você pode ser Frida Wolf. Mas eu vou te contar do começo..."
- Você tem certeza que é aqui? - Pergunto quando Maisie estaciona a Mercedes em frente à uma casa enorme em uma rua escura. - Sim. - Mas tá tudo tão apagado... - Frida, ma Cherie, as festas não acontecem na porta de casa, onde os policiais possam ver. Elas acontecem nos fundos. - Ah. - Me limito a dizer, afinal, eu realmente não sei nada sobre festas e onde elas são dadas. Eu sou só a Frida. - Venha logo. - Maisie me chama, ela já está parada em frente a um mini portão do lado direito da casa. Eu a sigo. E quase não acredito no que vejo. O lugar está lotado, e as luzes neon quase me cegam. A música está alta, um remix da Lorde, talvez, não consigo identificar com tanta gente falando ao mesmo tempo. E, meu Deus, quanta gente usando lantejoulas! Isso virou uniforme? - O QUE VOCÊ QUER BEBER? - Maisie pergunta aos gritos, tentando fazer com que sua voz sobressaia a música. - MAS NÓS ACABAMOS DE CHEGAR! - E DAÍ? VEM, VOU TE APRESENTAR MEUS AMIGOS. Maisie me leva para um corredor dentro da casa, que mais parece um corredor da morte do Ensino Fundamental: há pessoas espalhadas pelo chão, dormindo sentadas ou deitadas mesmo, bêbadas -trêbadas- (se é que essa palavra existe). - Josh, essa é Frida. - Ela diz quando paramos ao lado de um balcão num lugar que parece ser a cozinha. Josh é branco, alto e magrelo, completamente desproporcional, e usa uma camisa social dobrada até os cotovelos, combinada com uma calça jeans surrada e tênis de corrida. Zero senso de moda. O cumprimento com um sorriso. - É um prazer, Frida. - Ele sorri de volta. Simpático, posso sobreviver a Josh. - Esse é Wilson. - Maisie me aponta um menino negro e corpudo ao lado de Josh. Ele não é feio, isso pode ser interessante. A camisa branca cria um contraste intrigante e seu sorriso é mais polido que as paredes da minha casa. Ele toma minha mão direita e a beija. Sorrio. - Sempre galanteador. - Josh faz piada e eu dou risada enquanto Wilson apenas pisca. - E por último, mas não menos importante, o aniversariante: Peter Tom Hayes. Quando me viro para encarar Peter, que está com as mãos dentro dos bolsos da calça e encostado no balcão de mármore, por pouco não perco o ar. Os cabelos, na altura da orelha, são pretos e a pele é da cor da minha: branca até o último nível. Mas os olhos não tem nada a ver com os meus: eles são pretos. Pretos como o céu à noite, pretos como a alma do satã, pretos como gatos. Imagino quantas garotas ele amou e deixou assombradas. - Olá. - Ele diz, e a voz rouca faz minhas pernas tremerem. - Oi. - É a única coisa que consigo dizer, e ele levanta uma sobrancelha. - Gostei do vestido. Sorrio, mas ele não parece ligar. - Obrigada, demorei anos pra escolher. - Isso não parece verdade. - Ele cerra os olhos, desconfiado, e eu me apoio no balcão ao seu lado. Maisie volta a atenção a Josh e Wilson, mas eu não me sinto excluída. - E não é. Não sou conhecida por demorar para escolher uma roupa. - Prática, isso é bom. - Gostei da jaqueta, embora pareça um pouco pesada. - Eu acostumei. - Ele dá de ombros. - Faz frio em cima de uma moto, é até bom ela ser pesada. - Você anda de moto? - Foi a minha vez de levantar as sobrancelhas. - Parece surpresa. - Deus, será que você pode ser mais clichê? - Sorrio e me viro para me servir um copo de Sprite. - Menina branca de cabelo pulp fiction bebendo sprite. E eu é que sou clichê? - Não tem nada de clichê em beber Sprite em uma festa à noite. Ninguém bebe Sprite. - É, nisso você tem razão. Ele sorri e beberica seja lá o que for que contém no seu copo vermelho. Quando me pega encarando, ele oferece: - Quer experimentar? - Não, obrigada, minha mãe diz para não tomar nada que venha de estranhos. Ele dá risada e eu gostaria de ter feito uma piada, mas a frase realmente foi sincera: minha mãe morreria se soubesse que um garoto bonito me ofereceu bebida alcoólica em uma festa. - Você é engraçada. - Ele diz. - Você não. - QUE DIABOS DE MÚSICA É ESSA, PRIMO? - Peter grita, reclamando pra Josh. - Isso aqui virou uma festa de quinze anos? - Todo mundo gosta de Miley Cyrus, Peter, larga de ser chato. - Eu não gosto. - Digo. - Porque você e Peter parecem pertencer ao mesmo mundo alienígena. Quer dizer, olha esse seu cabelo, nenhuma garota aqui usa um cabelo desse. - Josh dá risada e como sei que foi brincadeira, não me ofendo. Apenas rio de volta e entro no jogo. - E é exatamente por isso que eu o uso assim, ma Cherie. Quem foi que te disse que todas as mulheres devem ser iguais? Josh parece vencido, e vejo Maisie sorrir. - Um brinde à Frida Wolf! - Minha amiga diz e todos da roda levantam os copos, e por estar sem, Maisie bebe do meu. - Que porra doce é essa, Frida? - Ela reclama. - Sprite. - Pelo amor de Deus. - Ela revira os olhos e segue até a geladeira. - Josh, posso? - A casa é sua. - Ele permite e Maisie abre a geladeira, puxando dela uma garrafa de vodka. - Maisie, não! Eu não vou beber. - Ah mas você vai...eu já te aguento sóbria a semana toda, Frida, me poupe por pelo menos um fim de semana. Ouço Peter dar risadas e resolvo ficar quieta. Afinal, um pouco de vodka não vai me matar. Maisie me entrega o copo vermelho e eu experimento. Deus, é sério que as pessoas tomam isso com gosto? Essa merda está me queimando toda. - Gostou? - Peter pergunta e a roda inteira parece interessada na resposta. - Não. - Respondo, sincera. - No quinto gole você acostuma. - Wilson diz e dá de ombros. Então eu dou um gole atras do outro, contando até o cinco. Será que acostumo mesmo? - Meu Deus, Maisie, ela é boa de copo! - Ouço Josh dizer, mas a bebida se torna suportável, então ao invés de responder, termino o copo de uma vez. - Eu não disse que ela viraria gente? - Maisie diz, mais pra si que para os outros, e puxa o copo da minha mão para me servir mais um. Aos poucos, mais precisamente uns quarenta minutos depois, a música não parece tão alta e a ideia de estar aqui não parece tão ruim. Me deixo soltar, e quando vejo já estou cortando limões para fazer um drink. - Morangos? - Pergunto para Josh. - Na geladeira. Pego os morangos, uma tangerina e os corto, colocando todos no liquidificador junto com os limões e a vodka. O resultado é a melhor bebida que já tomei na vida, a qual eu batizo de Wolf da Frida. - E aí, o que acharam? - Pergunto após servir um copo pra cada um. - Meu Deus, mulher, você realmente tem dons escondidos! - Maisie elogia e toma mais um gole. - Então é isso que as garotas de Saint Harvey bebem? - Wilson pergunta. - Não, isso é o que Frida Wolf e Maisie Williams bebem. Nós não somos apenas garotas de Saint Harvey. - Respondo sorrindo. - Eu gostei. - Peter diz. - Apenas duas palavras? Não acho que te conquistei. - Cerro os olhos e sorrio. - Vai precisar de mais do que morangos e tangerinas pra me conquistar. - Anotado. - Respondo e bebo mais um pouco. - Que música é essa? - Pergunto a Josh. - Alguma do novo álbum da Taylor Swift, a garota é realmente boa. - Ah, não ouvi o novo álbum ainda, mas eu a adoro também! Acho até que vou me inspirar nela e criar uma nova Frida que não liga para reputações. - Brinco. - Você deveria. - Maisie concorda e se serve mais um pouco da bebida colorida. - Também acho. - Ouço a voz rouca de Peter concordar com Maisie enquanto ele coloca o braço esquerdo ao redor da minha cintura. - Já está bêbado? - Pergunto e retiro seu braço de mim. - Você é difícil. - Ele diz, sorrindo. - Só sou esperta. - Respondo e finjo não perceber que Josh, Wilson e Maisie estão quietos, prestando atenção na nossa conversa. - Será que é tão esperta assim? - Ele me desafia, me encarando nos olhos e retirando o copo da minha mão, o colocando delicadamente sobre o balcão. - Não sei onde quer chegar. - Digo. E então Peter me coloca no colo, dando risadas altas, sendo aplaudido pela roda e apanhando de mim. - PETER, O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? ME SOLTA. - Grito, assustada enquanto ele passa por uma porta de vidro que leva ao quintal. - Você não disse que era esperta, querida Frida? Então deveria ter previsto isso. - MAISIE, PELO AMOR DE DEUS, ME SALVA! - Eu grito e olho pra trás, mas Maisie ri como se soubesse exatamente o que Peter está fazendo. As pessoas dão passagem, gritando e sorrindo, e Peter para em frente à piscina. - E AÍ, GALERA, VAMOS DAR INÍCIO AOS PULOS? - Ele grita e recebe um "SIM!" de volta, gritado por todos os presentes na festa. - ENTÃO VAMOS LÁ, CONTAGEM REGRESSIVA PARA JOGAR A FRIDA NA PISCINA... - PETER, PELO AMOR DE DEUS! NÃO, PARA, ME LARGA! - Eu dou tapinhas em seu peito mas ele não parece me ouvir. - UM... DOIS... E no três ele me solta. A água gelada parece me acordar e me paralisar ao mesmo tempo, enquanto meu vestido foi parar no meu abdômen. Sinto a água bater várias vezes, então percebo que diversas pessoas pularam na piscina. Quando volto a superfície, Peter já está dentro d'água, rindo em minha frente. - Você fica bem quando está molhadinha. - Ele faz piada e eu não sei se rio ou bato na cara dele. - Você estragou minha maquiagem. - Digo. - Não é como se você precisasse dela. - E então Peter me encosta na beira da piscina e me beija fortemente, como se estivesse esperando pra fazer isso a muito tempo. Sinto seus dedos deslizarem por minha nuca e me deixo colocar meus braços ao redor dele, o beijando de volta. Ele tem gosto de cloro, Sprite, morango e tangerina. E eu gosto disso. Ouço Maisie gritar, seguida por todos da festa. - EU LHES APRESENTO FRIDA WOLF, SENHORAS E SENHORES! - Dessa vez é a voz de Josh que ecoa no quintal, gritando mais alto que a música da Madonna. Girl Gone Wild. Que ironia. Quando Peter para de me beijar, sinto que o mundo está girando, mas não sei dizer se é pela vodka ou pelo beijo. Talvez pelos dois. Ele mergulha e passa por baixo da minha perna, levantando e me colocando em cima de seu ombro. Finjo que não tenho medo de altura e observo Josh fazer o mesmo com Maisie. - BRIGA DE GALO! - Wilson anuncia e eu não sei do que ele está falando. - Nós temos que nos derrubar. - Maisie me explica e me dá o primeiro empurrão, mas Peter segura minha perna forte o suficiente para não me deixar cair. Empurro Maisie e Josh cambaleia, talvez por ter quase o mesmo peso da menina e não aguentar segura-la. Ela me empurra de volta e Peter dá uma giradinha, mas não me derruba. Ficamos nessa por alguns minutos até que, ao empurrar Maisie pelos ombros, ela cai na piscina. Peter me desce de seus ombros e dá um mergulho. - Eu te disse que não seria tão ruim. - Maisie me diz após alguns minutos, enquanto sobe e se senta na beira da piscina. - Tá brincando? - Sento ao seu lado. - É a melhor noite da minha vida. Você é incrível! - Eu a abraço. - Vou fingir que não sei que isso é efeito da bebida. - Ela ri e me abraça de volta. Ficamos assim por alguns segundos, ambas de olhos fechados, apenas ouvindo a música e nos abraçando. Até que sinto alguém tocar meus ombros e se abaixar para sussurrar em meu ouvido. - Vamos sair daqui. É Peter. E eu não consigo dizer não. Não que eu queira dizer não. Assinto e me levanto, deixando Maisie na beira da piscina aos risos. Peter me puxa pela mão quintal a dentro, e eu sinto o mundo girar mais uma vez. - Onde você está indo? - Pergunto. - Para a melhor parte da casa. "Pelo amor de Deus, que não seja pro quarto." Penso. Mas Peter prova ser bem menos malicioso que eu quando se senta em um balanço bege iluminado por luzes amarelas e me chama para sentar ao lado dele. Quando sento, ele me beija novamente. O beijo é quente e molhado, mas eu já não estou tão interessada. - Eu acho que deveria voltar para Maisie. - Digo. - O que foi? Pensei que queria me beijar também. - Não, eu quero! Eu só quero aproveitar a festa também. - Digo, sem saber se isso é, de fato, verdade. - Frida Wolf, você é maluca. - Vamos, ouvi dizer que tem tequila. - Me levanto e estico minha mão para que ele entrelace a sua. - Você gosta de tequila? - Ele pergunta com os olhos arregalados. - Eu nunca bebi tequila. Peter se levanta e me segue até a cozinha. Eu sirvo dois shots para nós e levo o limão a boca. - Se nunca bebeu, como sabe como funciona? - Aprendi num seriado. - Dou de ombros e viro a tequila, ele faz o mesmo. Quase não a sinto queimar. Peter me beija novamente. - Deus, vocês não param de beijar. - Ouço uma Maisie bêbada reclamar atrás de mim enquanto tira o iPhone da bolsa e tira uma foto de nós dois aos beijos. - Essa vai para o Instagram. Normalmente, eu sei que ficaria brava e a mandaria apagar, mas meu cérebro não está raciocinando completamente. Mas eu percebo quando Maisie puxa uma cadeira, se deita sobre o balcão e dorme. - Mai? - Chamo, tentando a acordar, mas ela não parece ouvir. - Vomitar. - Ela diz e Peter se alarma, rapidamente a pegando no colo e levando minha amiga para o banheiro. Maisie vomita na privada por quarenta e cinco minutos. - Como você está se sentindo? - Pergunto, entregando a ela o copo d'água que Peter buscou. Ela bebe e me responde com a voz mole: - Vamos pra casa? Faço que sim com a cabeça, mas me lembro: - Você está de carro e está sem condições de dirigir desse jeito. E eu não sei dirigir. - Eu posso levar vocês. - Diz Wilson, com voz preocupada, da porta do banheiro. - Onde estão as chaves dela? - Aqui. - Eu entrego sua bolsa prata a ele. - Venha, Mai, você precisa levantar. - Agora não... - Ela tenta se deitar, mas eu a puxo pelo cabelo antes que seu rosto encoste nos resíduos de bebida e comida espalhadas pela privada. - Maisie, vamos! Agora! - Eu me levanto e Peter me ajuda a levantá-la, a apoiando nos nossos braços. - Eu preciso dormir. - Ela diz. - Pode dormir, não tem problema. - Digo, afastando seus cabelos do rosto. Quando chegamos ao conversível vermelho, Peter se senta no banco de trás, colocando a cabeça de Maisie com carinho em seu colo e a menina adormece. Eu me sento no banco do carona e Wilson assume o do motorista, dando partida e nos tirando da Capital. Josh segue atrás com seu carro e ambos aceleram. O vento gelado bate no meu rosto como se quisesse me acordar, e eu aumento o volume da música que Wilson colocou pra tocar enquanto me sento de joelhos no banco e levanto os braços para o céu. Então é isso que liberdade significa. É estar feliz, bêbada, cantando alto numa rodovia escura dentro de um conversível de madrugada voltando pra casa. É ouvir seus amigos rirem de você. É ter amigos. Mais de um. É ser você por uma noite, é beijar um menino bonito, mesmo que enjoe dele alguns minutos depois. É fazer o que quiser, é brincar numa piscina como se ainda fosse criança, é beber vodka com morango, tangerina e limão e batiza-la com seu nome. É se aceitar exatamente como é. Ser livre é entender que o mundo pode ser animador e que você pode abraçá-lo sem culpa. Ser livre é ser Frida Wolf.
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