"No fundo, nós sabíamos que o sentimento de liberdade não duraria muito tempo." É tudo em que consigo pensar após duas viaturas nos seguirem até Peter desistir e parar o carro.
Minhas mãos brancas estão trêmulas e Peter já não parece tão confiante. Pelo contrário, ele respira cada vez mais rápido e me encara de segundo em segundo com um pedido de desculpas nos olhos.
E eu, silenciosamente, o desculpo.- Saiam do carro, por favor. - Escuto o policial dizer, mas não me mexo. - Senhorita. - Ele repete, mas ainda estou imóvel. - Saia do carro.
- Frida. - Peter está do lado de fora, me encarando. - Precisa sair do carro.Ao ouvir sua voz, viro meu rosto até que nossos olhos se encontrem. Eu estou assustada e sei que Peter também está. Ele mexe a cabeça como quem diz "está tudo bem", o que me dá forças para me mexer.
- Algum de vocês dois tem carteira? - O policial começa o que imagino que se tornará um interrogatório muito em breve.
- Eu. - Peter responde.
- E você é de menor? - O homem levanta uma sobrancelha, me analisando dos pés à cabeça.
- Tenho dezessete. - Respondo.
- Oficial Zura, leve ela.
- Leve...Leve ela pra onde? - Peter gagueja, nervoso.
- Delegacia. E o senhor vem comigo.
- Frida... - Peter começa a dizer, mas sou puxada pelo braço até a viatura, o que me impede de ouvir o resto da frase. O vejo ser algemado e não entendo o porque, fazendo uma nota mental de "perguntar o motivo depois".- Você é inacreditável. - Zac diz após assinar a terceira página do formulário necessário para que eu fosse liberada da cela.
- Obrigada. - Sorrio sem mostrar os dentes, ainda nervosa.
- Poupe-me, Frida. - Ele me encara por poucos segundos antes de caminhar até o carro. Eu o sigo.
- Sério, Zac, muito obrigada. Eu não sei o que faria se...
- Se eu não fosse um otario?! - Ele me interrompe, parando em frente à delegacia e me olhando nos olhos.
- Não é assim, Zac, eu não tinha pra quem ligar!Ele apenas revira os olhos e continua andando rápido. Tento o seguir, mas sou impedida pela combinação de saltos altos e grama molhada. Ótimo. Um tombo. Era só isso que me faltava para enterrar minha dignidade.
- Você precisa tirar isso do pé, vai te machucar.
- Ah, de repente está tão preocupado com o meu bem estar. - Digo enquanto tiro os sapatos e me levanto.
- Você é maluca ou só não presta atenção nos eventos ao seu redor? - Zac aumenta o tom de voz. Não respondo. - Entre no carro. - Ele abre a porta do passageiro.Não entro. Estou assustada, então fico parada tentando não morrer de frio. Meus pés estão na grama molhada e o frio de Sacramento bate na minha pele como quem quer me machucar. Acho que ele não é o único, contando com o fato de Zac está cerrando o maxilar e respirando fundo pela milésima vez.
- Frida, entre no carro.
- Não.
- Porra, você é tão mimada!
- Ok, agora sim eu quero entrar.
- Frida, você está congelando. Entre na porra do carro!
- Você está me assustando. Não vou entrar.
- Ok.Ele bate a porta e faz a volta, entrando pelo lado do motorista e dando partida no conversível preto. O medo de que Zac vá me deixar nesse frio me consome e eu me dou por vencida. Abro a porta e entro.
Ele dirige por alguns minutos sem falar nada, mas murmura alguns trechos da música antiga que está tocando na radio. Por coincidência, a letra da música me pede para "aproveitar o silêncio". Não aproveito.- Me desculpe. - Digo. - Não queria atrapalhar sua noite, eu juro, só não tinha pra quem ligar e...
- Cale a boca, por favor. - Ele me interrompe e percebo que aperta o volante com as duas mãos, sem tirar os olhos da rua movimentada.
- Zac, é sério! Se eu ligasse pra minha mãe, ela surtaria. Meu pai perderia a confiança em mim e Maisie não tem idade, Ruby muito menos...
- Frida, pare de falar.
- Eu quero que você me desculpe!O barulho do freio me assusta quando Zac estaciona de um jeito bruto no acostamento. Há uma luz fraca iluminando seus olhos e me pergunto se ele também pode ver os meus. Meus olhos azuis arregalados e cheios de lágrimas.
- O QUE HÁ DE ERRADO COM VOCÊ? - Ele grita após desligar o carro.
- Comigo? Zac, eu...
- Você me beija, me chama pra droga de uma festa, foge com outro, é presa e tem a capacidade de me chamar pra te tirar da cadeia! Eu não sou um brinquedinho, Frida!
- E NEM EU! - Aumento minha voz quando percebo o absurdo que ele está dizendo. - Você não pode me tratar bem, desabafar comigo, me beijar e depois agir como se nada tivesse acontecido! Como se nada estivesse acontecendo!
- Acontecendo? O que você acha que está acontecendo? Não tem NADA acontecendo!
- Não? E você está tão irritado porque eu "fugi com outro" - Faço aspas com as mãos e levanto minhas sobrancelhas, tentando tirar uma resposta concreta de Zac. - Por que? Por que faz tanta diferença pra você se estou com alguém ou não? Por que você foi na droga da festa?
- Porque eu queria te ver, sua pirralha mal criada!
- E que porra de jeito bom de demonstrar! - Rebato. - Meu Deus, por que parece que já tivemos essa discussão antes? - Encosto meu corpo no banco e respiro fundo, segurando minha cabeça com as duas mãos.
- Eu estou tão cansado de você. - Posso ouvir sua respiração ficando mais lenta, como quem realmente está exausto.
- E eu de você. E desse joguinho de elástico que você faz comigo.
- Joguinho de elástico? - Quase posso ver o sorriso debochado em seu rosto.
- Você sabe! - Viro minha cabeça em sua direção, o encarando. Ele faz o mesmo. - Aquele em que duas pessoas seguram um elástico e quem solta primeiro machuca o outro.
- Você anda lendo poemas demais. - Ele diz mas não respondo, apenas volto a encarar a rua e respiro fundo novamente. Após alguns minutos de silêncio, ele retoma a fala. - Você soltou o elástico quando foi embora da festa com o moleque.
- Eu... - O encaro novamente, boquiaberta. - Não sabia que você se importava.
- Você é, infelizmente, uma das poucas coisas com as quais eu me importo.
- Zac, por favor...
- Com você...é fácil. - Ele me interrompe e dá de ombros. - Eu não preciso mentir nem te iludir, parece ser imune a essas coisas, não há barreiras com você.
- Se é tão fácil... - Eu me aproximo, tocando seu rosto com leveza. - Por que você me afasta tanto?
- Você é tão nova...
- E ainda assim sou a única pessoa com a qual você consegue conversar.Zac me olha nos olhos por segundos demorados antes de soltar uma risada debochada. Meu coração acelera e eu já começo a desesperar. Retiro minha mão de seu rosto rapidamente e meus olhos se enchem de lágrimas. Ele estava brincando. Óbvio que estava. Já era de se esperar.
- O que foi? - Pergunto sem saber se quero ouvir a resposta.
- Eu quase te disse algo muito...
- O que? - O interrompo, nervosa.
- É absurdamente infantil e clichê. - Ele continua rindo.
- Zac, você está me matando!
- Eu prometo segurar o elástico se você quiser.Meu coração se acalma e eu não acredito no que estou ouvindo. Abro a boca diversas vezes sem emitir som algum.
- Eu quero.
- Não vai soltar? - Ele pergunta, se aproximando.
- Só se você soltar primeiro. - Respondo.
- Não vou.E então ele me beija.
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FRIDA
ChickLitFrida tem 17 anos e jura que sua vida é um inferno (e de fato é), mas ela é preguiçosa demais pra mover um dedo sequer pra mudar isso. Não que ela seja má, ranzinza ou reclamona, ela só está bem em sua zona de conforto onde bolos de nozes, chás de h...