La vie en rose

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"Eles se tornavam parte daquele irreal mas penetrante e emocionante universo que é o mundo visto pelos olhos do amor."

- Ao farol | Virginia Woolf

Eles também não viram o tempo passar, até porque quem estava contando as horas? Na verdade, como conseguiriam contar quando os lábios estavam grudados uns nos outros em um beijo calmo? Como eles conseguiriam levar seus pensamentos ao relógio quando na mente deles só sabiam desejar um ao outro? Ignorando todo o resto, esquecendo-se que existia um mundo girando em baixo deles.  Mas também quem poderia os julgar? Eles eram jovens e estavam apaixonados, não sabiam nada da vida porque no momento só estavam vivendo um para o outro. Não sabiam dizer se era errado esconder aquilo dos pais, que agora estavam no restaurante jantando como todos os outros hospedes, e eles nem imaginavam que os filhos ao invés de estarem na festa que deviam, estavam na praia agora demonstrando tudo o que sentiam em forma de um beijo doce.

Claro que eles não esconderiam por muito tempo, mas tinham que admitir que um medo bobo os rodeava. Medo de serem impedidos de ficar juntos por esse motivo idiota de idade e pelo motivo mais sério de serem colegas de trabalhos, isso poderia gerar uma onda de discussão por não se mostrarem profissionais. Isso ainda era uma preocupação para Finn, não se perdoaria se isso viesse prejudicar a carreira de sua amada, quero dizer, ele não se importava com ele mesmo no momento, ele só sabia se importar com ela, como se ele não existisse. Na verdade como se fosse parte dela.

O garoto cessou o beijo para olhar Millie nos olhos, porque ele adorava isso, adorava olhar nos olhos dela e ver o seu reflexo ali porque adorava saber que era ele ali com ela e nenhum outro. Também adorava ver em seus olhos o brilho  que ele lhe proporcionava e não trocaria de maneira alguma aqueles olhos cor-de-mel, nem por uma chuva de estrelas cadente.

-- Por que você fica me olhando assim? -- Ela perguntou tímida.

-- Assim como? 

-- Como se eu fosse alguma obra de arte perdida do museu. -- O garoto então riu com a comparação dela. E ela até que não estava errada, mas ele enxergava ela com um pouco mais de exagero.

-- Obra de arte perdida do museu, não. Talvez como uma deusa perdida aqui na terra. -- Ele disse bobo e Millie achou engraçado o trocadilho. Ela riu abertamente e Finn sentiu vontade de beijá-la novamente, mas tinha que se controlar.

De repente um trovão soou no céu e alguns pingos de água começaram a cair sobre eles ameaçando uma chuva forte a caminho. Os dois olharam para o céu no mesmo momento.

-- Não precisamos voltar para a festa se você não quiser. -- Falou Finn torcendo para que ela concordasse.

-- Eu acho que devemos. -- Ela respondeu e o garoto resmungou. -- Eu entendo que você não confia na Elena, mas você tem que entender uma coisa, Finn. -- Millie começou a falar sério e o namorado sentiu um arrepio na nuca. -- Isso vai continuar acontecendo, e se não for Elena vai ser outra e depois outra. Acho que a gente tem que começar a considerar a ideia de assumir um relacionamento público.

-- Millie...

-- Só me escuta. -- Ela disse pegando nas mãos dele. --Se você não quiser gritar pro mundo que a gente namora, tá tudo bem. Não precisamos assumir formalmente, mas também não precisamos ficar escondendo, entende?

O cacheado apenas balançou a cabeça concordando. Claro que ele entendia o que Millie estava dizendo, aquela garota era um sonho e dava um show de maturidade em muito adulto por aí. Ele tinha um orgulho dela que nem cabia no peito, e como ele a admirava, e admirava sua forma de pensar e seu modo de agir em cada situação que aparecia no caminho. Com uma garota daquelas, não tinha nem como pensar em como as coisas poderiam dar errado porque ela exalava positividade e sempre enxergava a luz no fim do túnel mesmo quando esse túnel se perdia em meio as trevas.

Cachos | FillieOnde histórias criam vida. Descubra agora