Rede de mentiras

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Enquanto a tempestade lá fora se acalmava, dentro do hotel, ela só piorava.

Se uma biblioteca dependesse mesmo do silêncio para ser uma biblioteca, então aquele lugar havia se tornado apenas uma sala rodeada de livros, porque o barulho que estava acontecendo lá dentro era um terror. Parecia que o chão estremecia a cada pisada firme que a mulher dava, a discussão alta só não conseguia ser ouvida do lado de fora porque eles decidiram trancar a porta para não serem interrompidos, por outro lado, era claro que quem passasse por ali, iria perceber o que estava se passando.

Mary estava sentada no sofá ao lado do marido, ela mantinha suas mãos alisando os cabelos em sinal de nervosismo, Kelly até poderia ser sua amiga, mas a situação que ela impôs, já tinha passado dos limites. Qual era seu medo a final? Por que ela queria a todo o custo impedir seu filho de ficar com  garota que ele amava? Finn era um garoto respeitoso e muito bom, qualquer um iria querer tê-lo como genro e essa era a verdade.

-- Mary, eu só quero que você entenda, Millie tem apenas treze anos de idade. -- A mulher comentou e a outra apenas acenou com a cabeça, só queria que aquilo tudo acabasse.

-- Finn tem apenas quatorze. -- Eric disse aquilo mais como uma ironia do que como qualquer outra coisa e Robert apenas riu silenciosamente.

-- Bem, ele faz quinze em dezembro. -- Ela revidou.

-- E Millie faz quatorze em feveiro, querida. -- O esposo falou. -- E essa sempre vai ser a sequência. -- Kelly suspirou cansada e ele continuou. -- Não é por causa de idade que você está assim, então por que não abre o jogo? -- Os pais de Finn ficaram apenas olhando a reação da mulher porque eles também estavam tentando entender o que estava se passando na cabeça dela. Quero dizer, por que tanto medo? O que aconteceu entre os filhos foi apenas um deslize porque eles não sabiam do namoro, mas agora sabiam e poderiam ficar mais em cima, óbvio que não sufocando, mas cuidando, porque sim, eles eram dois jovens muito apaixonados, em seu primeiro amor, então tudo poderia acontecer. Cuidado de pais nunca era demais a final de contas.

-- Não tem jogo nenhum, Robert. -- Ela respondeu.

-- Você tem medo de perder a sua garotinha. -- O marido falou sorrindo e puxou Kelly para sentar-se com ele. -- Mas ela tem que crescer, e que mal tem ela ter um namoradinho? Finn é um ótimo rapaz. -- Robert falava daquele seu jeito sério, mas com mansidão. -- E se ele disse que ama ela e ela disse que ama ele, como você acha que vai impedir isso? Você não se lembra da gente?

A mãe de Millie riu lembrando-se do passado, seus pais também foram duros com ela por conta de seu relacionamento com Robert, mas isso nunca a impediu de lutar por seu amor e sua filha era igual no quesito teimosia, então sim, ela sabia que Millie não iria desistir tão fácil daquele namoro e ela se admirava porque apesar de tudo, seu marido estava sendo muito compreensivo e conseguia ver e entender os dois lados daquela história.

-- Mas e quanto aquela menina, Elena? -- Ela perguntou. -- Millie disse que ela já tentou sabotar o relacionamento deles e não podemos fazer nada porque ela é filha do dono.

-- A gente muda de hotel, ou de cidade, não sei. -- Mary disse. -- Isso não é problema, eles estão de férias, tem que aproveitar.

-- Concordo, podemos conversar com eles e viajar. -- Eric falou e logo foi apoiado por Robert.

E assim o tempo ruim  foi cessando dentro do hotel também, o vento contrário foi indo embora, Kelly foi se aquietando graças as palavras sábias de seu  esposo, Eric e Mary até sentiam-se melhor. A mãe de Finn concordou com ela sobre os filhos darem um tempo mas era mais porque queria que toda aquela função acabasse logo e porque no fundo realmente a preocupava o fato de que os adolescentes estavam sendo alvos dos olhos maldosos de Elena. Mas agora tudo parecia estar se ajeitando, os pais estavam chegando em um acordo, continuavam conversando mais um pouco, trocando ideias até que todos eles estivessem satisfeitos. Bem, eles até poderiam ficar satisfeitos com o que decidissem ali, mas não estavam pensando no que os filhos pensariam, se ficariam de acordo com tudo. Isso talvez seria uma coisa bem complicada.

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