Capítulo 1

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"Eu não sou obrigado a manter uma putinha morando no mesmo teto que o meu."

"Você não pode simplesmente agir assim!"

— Mais três doses.

"Saia. Da. Minha. Casa, Yoo Kihyun. Ou eu vou obrigá-lo a sair."

"Nós estamos noivos! Me deixe explicar, por fav-"

— Outra garrafa de Soju, por genti... leza... — Kihyun fungou. Visão desfocada com tudo não passando de meras luzes e silhuetas embaçadas. Já tinha perdido as contas de quantas garrafas bebeu; quatro, cinco?

— Por que não para um pouco? — O barman perguntou. Ele aparentava ser um pouco mais novo que Kihyun e a altura ele não soube dizer, porque qualquer um parecia maior e mais forte do que ele naquele momento. — Nós temos bebedouros-

— Outra... garrafa... .  — Kihyun estava ocupado demais querendo se afogar em um copo de shot para se lembrar de ser educado e agradável. O barman abriu outra garrafa e encheu seu copo antes de sair para servir os outros.

— Qual é a dele, Changkyun? — O segundo barman perguntou: Chae Hyungwon. Alto, jovem e estranhamente agil para encher copos considerando seu alto nível de sedentarismo.

— Não faço ideia — Changkyun olhou de relance para Kihyun novamente, que agora chorava e parecia mais na fossa do que nunca. — Não é o primeiro do tipo dele que atendemos, de qualquer forma.

— É o primeiro para quem você sugere uma pausa — Hyungwon comentou enquanto enchia a segunda caneca de cerveja de uma grande bandeja. — Algo de diferente ele deve ter.

— Ele só... sei lá... — era muito bonito, jovial. Não tinha que estar enchendo a cara ali. — Eu não sei.

— Se interessou nele? — Hyungwon deu um sorrisinho muito sugestivo. 

— Mas é óbvio que não! — Changkyun se exaltou, começando a preparar dois Martinis que lhe pediram da ponta do balcão. — Você tem cada ideia... só acho muito estranho alguém como ele estar aqui, ok?

— Ok, ok. — Hyungwon debocha um gesto de rendição. — Se você diz... — e então ele pega a bandeja com as canecas que estava enchendo e sai para servi-las, deixando Changkyun para trás.

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A agitação do bar tinha feito Changkyun eventualmente esquecer do tal garoto. Ele só parou para notar que ele não estava mais ali quando um grupo de garotas pediram quatro garrafas de Soju, e no lugar dele haviam apenas algumas notas amassadas que só cobriam metade do que ele bebeu, o que causou uma situação bastante estressante. Quando enfim o último cliente saiu, as portas foram trancadas e o alívio correu por todos os funcionários.

— Noite agitada, né? — Hyungwon puxou assunto com Changkyun enquanto os dois limpavam as mesas e guardavam os copos.

— Estranhamente agitada para um domingo. Ninguém mais trabalha não?

— Oh, por falar nisso... Hoseok me chamou para ir comer fora. Quer ir com a gente?

Changkyun fez careta.

Deus que me livre de ter que ficar de vela pra vocês dois! Perco a fome só de pensar. Passo, muito obrigado.

— E desde quando você fica de vela quando saímos juntos? — Hyungwon perguntou num tom quase ofendido.

— Desde, uh, sempre? Eu não esqueci quando você me largou sozinho no aniversário do Jeonghan para poder ir se agarrar com Hoseok no cantinho!

— Eu fui conversar com ele!

— Conversa bastante produtiva, né? — Changkyun cruzou os braços, achando graça do rosto do amigo se tornando gradativamente mais avermelhado. — Todo mundo já percebeu o que rola entre vocês dois.

Hyungwon pareceu querer xingá-lo de alguma palavra bem feia e grande, mas respirou e, em vez disso, perguntou irritadiço:

— Você vai querer ou não ir com a gente?

— Beleza, eu vou. — Changkyun sorriu. — Mas fique avisado que só estou indo porque estou faminto e vou sentar numa mesa separado dos dois. Não quero ninguém se beijando na frente do meu jantar.

Hyungwon revirou tanto os olhos que por um momento parecia estar vendo o próprio cérebro.

— Vai logo se trocar enquanto eu fecho o caixa, então.

Changkyun foi até o banheiro e colocou sua mochila na pia, desabotoando o uniforme preto. Mal terminou de colocar sua blusa casual quando ouviu um barulho estranho vindo de uma das cabines, como se alguém tivesse dado uma cabeçada na porta de metal.

Alguém... aqui? — Ele sussurrou para si mesmo, alarmado. Até onde sabia, o bar estava fechado e todo mundo já tinha ido embora. Exagerado como sempre foi, começou a ficar nervoso pensando na possibilidade de ser um assassino.

O barulho da descarga soou e as incertezas de Changkyun haviam sido confirmadas. Ele tratou de agarrar a primeira coisa jogável ao alcance; seu tubo de desodorante quase esgotado, que ele lembrou de uma vez ter visto na internet que servia como um spray de pimenta alternativo. Segurou-o com o dedo pronto para apertar enquanto se aproximava da porta; no entanto, a mesma foi aberta por ninguém menos que o Garoto do Soju que saiu pagando só metade.

Changkyun pode dar uma olhada melhor nele com a claridade do banheiro; seus olhos finos estavam inchados e suas bochechas vermelhas e molhadas, enquanto ele em si tremia os dedos das mãos e aparentava uma palidez fora do normal.

— Céus! Está tudo bem? — No que Changkyun se aproximou, ele recuou. — Eu não vou te machucar.

— Changkyun! Já acabei de fechar o caixa, você está pronto? — Hyungwon gritou lá de fora.

— Eu acho que não vou mais! — Changkyun levantou-se e gritou de volta. — Imprevistos.

— Ah, qual é, Chang? É por aquilo de ficar de vela?

— Eu lá deixo de comer fora por causa do seu namorado, Wonie? — Reclamou Changkyun. — Sophia precisa de mim. Foi mal mesmo.

— Bom, tudo bem. — Era indubitável que Hyungwon não tinha acreditado em uma palavra sequer, mas lutar contra a teimosia de Changkyun era caso perdido. — Deixarei as chaves no balcão e você tranque tudo então!

— Ok!

E com o som dos tênis de Hyungwon no soalho levemente se esvaindo e uma porta se fechando, Changkyun voltou a olhar para o garoto, que o encarava de volta. Seria uma longa noite.

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