Kihyun e Youngho se conheceram quatro anos atrás, no museu de artes de Seul. Youngho queria fechar uma parceria com o museu e Kihyun por coincidência trabalhava lá como guia. No início, pareceu um conto de fadas. "Um cara rico e gentil quer ficar com você, não seja bobo", era o que sempre diziam. Mas Youngho não era exatamente gentil — ao menos não o tempo todo. Ele costumava dizer que o trabalho o estressava e isso o fazia agir sem pensar. E quando ele agia sem pensar...
— Eu me arrependi muito do jeito que te tratei naquele dia, sabe? — Comentou Youngho. — Eu deveria ter sido pior com você, assim talvez você finalmente sumisse. Mas até aqui eu calho de te encontrar. E sabe por quê?
Era humilhante. Kihyun sentia-se de volta àquela sala, no chão daquele carpete, olhando Youngho de baixo, enquanto este o lembrava que seu lugar era ali e nada mais acima. Ele sentia aquela ardência nos olhos do desespero involuntário. Aquela vontade de sair correndo mas também aquela submissão de continuar ali, ouvindo e ainda concordando com tudo, porque ele não tinha lugar acima.
— Porque vadias como você amam esse tipo de lugar. — Youngho sorriu e então deu um gole no whiskey que bebia. Era como se ele sentisse prazer na humilhação alheia. — Ah, vai, não me olhe com essa cara. Parece até que não está feliz em me ver.
— E eu deveria estar? — Kihyun ousou em rebater.
Aquilo foi uma surpresa, porque pela primeira vez ele havia feito tal: rebatido. Youngho terminou o resto de sua dose e pediu mais outra, voltando a olhar para Kihyun.
— Vejo que o ambiente te influenciou.
— O que você está fazendo aqui, afinal?
— Quis passear um pouco pelo litoral. É sufocante... será que dá pra alguém encher a porra do meu copo? Enfim, é sufocante ficar cercado por prédios o tempo todo. E esse estabelecimento em específico tem boas avaliações de turistas. Então eu pensei, por que não? — Youngho então apoiou o rosto no próprio punho, cotovelo no balcão. Ele olhava para Kihyun com uma expressão assustadora mascarada em sorriso sínico. — E você, o que está fazendo aqui? Programas?
— Oh, não, ele veio apenas me visitar. — Foi como ganhar asas para se salvar de uma queda. Changkyun enchia o copo de Youngho com whiskey enquanto o olhava com repúdio. — Não é, Kihyun?
— Você seria...? — Youngho ousou perguntar, aparentemente confuso.
— Um amigo, se podemos colocar dessa forma. E você seria?
— Seo Youngho, noivo...
— O ex, é claro! — Changkyun sorriu sínico. Uma vez enchido o copo, ele fechou a garrafa com certa força. — Eu estou em horário de trabalho agora, mas depois gostaria de ter uma conversa com você. Te ensinar uns modos, assim quem sabe você aprende a tratar melhor as pessoas. Especialmente Kihyun.
Youngho se permitiu dar uma risada, dando um gole no copo de whiskey. Ele intercalou o olhar entre Changkyun e Kihyun, quase em choque com a afronta que estava realmente recebendo.
— Arrumou outro idiota bem rápido, Kihyun. Que bom. Achei que sua dependência por mim fosse eterna. — Tinha veneno no fim de cada palavra que saia de Youngho, pingado de ácido. Ele se virou então para Changkyun. — Você é responsável por ele agora?
— Kihyun é responsável por si mesmo, mas é meu dever como amigo defendê-lo de gente como você. — Ele respondeu calmamente enquanto organizava algumas taças.
Fez-se um minuto doloroso e tenso de falso silêncio — Kihyun podia sentir que os dois estavam travando uma guerra de olhares e provavelmente já teriam voado um no outro se tivessem a chance. Mas eles não fizeram isso. Youngho então se levantou, abrindo a carteira e jogando uma quantia aleatória de cédulas no balcão.
— Deixe o nosso papo para outro dia. Pode ficar com o troco, ratos precisam mais de migalhas do que os gatos. — Ele olhou para Kihyun de cima baixo, transbordando de ódio. — Boa noite.
A visão das costas de Youngho saindo de perto e logo depois pela porta frontal fez Kihyun suspirar, destravar de modo que nem ele havia percebido estar. Todo seu corpo relaxou e foi atingido ao mesmo tempo por uma chuva de sentimentos que variavam entre pavor e euforia, fazendo com que muitas, muitas lágrimas escapassem pelos seus olhos sem que ele pudesse controlar. De repente Kihyun estava a beira de soluçar.
— Vem comigo. — Changkyun saiu de trás do balcão e o puxou pelo pulso.
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Kihyun já tinha perdido a noção de quanto tempo ele estava ali, em pé, com o rosto escondido no ombro de Changkyun, molhando a camisa dele inteira com seu choro incontrolável. Ele se sentia humilhado, fraco e até mesmo inútil. Changkyun por sua vez não tinha parado um minuto sequer de fazer carinho em seu cabelo e murmurar que estava tudo bem.
— Se acalme, Kihyun, ele já foi. Já passou. — Sussurrou ele.
— Eu fiquei tão apavorado... — Kihyun se apertou mais contra Changkyun, tentando a todo custo regular sua respiração e cessar aquelas lágrimas que escorriam como bicas abertas. — Eu não sei o que... o que eu teria feito ali sem v-você.
— Você foi corajoso, okay? Eu não vou deixar mais ele chegar perto de você, não enquanto eu puder impedir. — Changkyun tinha raiva e determinação na voz. Eles levaram mais algum tempo ali, praticando exercícios de respiração até que Kihyun conseguisse parar de chorar e criasse forças para lavar o rosto.
Permaneceram em silêncio uma vez que a crise parecia ter passado. Kihyun ainda não queria sair do abraço — estava tão frágil que sentia que poderia ser atacado por qualquer coisa se saísse de perto de Changkyun.
— Eu não tenho palavras para agradecer o que você fez por mim, Changkyun. — Disse Kihyun quase em um sussurro.
— Não precisa. Eu tenho certeza que você vai encontrar uma pessoa que te mereça de verdade, Kihyun. Aquele cara é um traste.
Eles se olharam por certos segundos. O rosto de Kihyun estava todo vermelho e inchado, mas o modo como seus olhos brilhavam ainda permanecia o mesmo. Isso confortou Changkyun de certa forma. Ele não queria que Kihyun perdesse seu brilho por pessoas como aquela, por traumas como aquele. As coisas ficaram um pouco embaraçosas quando perceberam que estavam se olhando demais.
— E-Er... você quer ir pra casa? — Changkyun limpou a garganta e Kihyun separou o abraço gentilmente. — Ainda tenho duas horas aqui, mas posso te emprestar meu cartão de ônibus para você voltar.
— Não se preocupe, eu vou ficar bem. Mas vou te esperar nos sofás dessa vez.
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SOJU
Fanfiction[𝐂𝐇𝐀𝐍𝐆𝐊𝐈] A vida de Changkyun nunca mais foi a mesma desde que viu Kihyun, bêbado, chorando no bar em que trabalhava. LONG FIC | PT-BR 1° BETAGEM - novembro/2019 2° BETAGEM - EM ANDAMENTO Capítulos ainda não revisionados sinalizados com ( '...