Capítulo 2

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As luzes violeta e azul das lâmpadas coloridas dançavam entre as feições de ambos, que estavam sentados nos sofás aos fundos. Changkyun se desculpou profundamente por não poder ligar as luzes principais; seu chefe simplesmente sabia quando o disjuntor estava ligado além do horário e ele não queria ficar sem salário. Kihyun o respondeu com um mero e indiferente murmúrio, bêbado demais para formar palavras.

Quando ele pareceu mais sóbrio e menos vampírico, Changkyun ousou quebrar o silêncio.

— Então... da onde você é?

— Daejeon. — Kihyun respondeu.

— E quantos anos você tem?

Changkyun se sentia um intrometido, um louco intrometido, mas ele precisava saber de que canto do mundo Kihyun havia saído e como ele tinha parado ali. E o fato de ele ser de uma cidade a 137km de distância de onde estava simplesmente cheirava a algo tão, tão errado.

— Vinte e três. — Kihyun soou impaciente.

— E seu nome...?

— Yoo Kihyun. — Ele então bufou, realmente irritado, encarando Changkyun como se ele fosse uma grande plateia rindo de sua cara. — Posso saber a razão do interrogatório?

—Não acha que eu tenho o mínimo direito de saber suas informações básicas? — Kihyun abriu a boca e fechou em um mudo protesto, cruzando os braços e afundando as costas no estofado. — Eu me chamo Lim Changkyun. A essa altura o último metrô para Daejeon já deve ter saído daqui. Você tem alguém que possa te ajudar?

— Eu... não. Não tenho ninguém. Mas eu não preciso de ajuda porque eu sou um adulto e eu sei me cuidar sozinho.

— Você fala isso com muita confiança para alguém bêbado e sozinho a mais de 100km longe de casa. Te garanto que não tem outra opção se não receber ajuda.

Changkyun sentiu-o querer se afundar mais no estofado até conseguir esconder completamente a própria existência, sumir até não ser nada mais que um fio de linha. Aquilo era medo, ansiedade. Kihyun estava assustado.

— Ao menos possui um passe de ônibus consigo, Kihyun? Tenho certeza que há algum indo para a sua cidade. Os ônibus em Incheon funcionam a toda hora.

— Eu... acho que alguém roubou minha carteira... — Kihyun desviou o olhar, envergonhado.

Roubou? Céus, tinha muita coisa importante? Nós podemos procurar, fazer um boletim-

— Está tudo bem, eu ando com xerox dos meus documentos... os originais ficam guardados. O dinheiro é o de menos. Mas meu cupom de casquinha estava lá. — Os olhos dele de repente se encheram de lágrimas. Que diacho? — Eu queria tanto uma...

Changkyun deu um suspiro tão pesado que todo seu pulmão esvaizou. Como podia Kihyun estar preocupado com uma casquinha de sorvete em meio a todo o caos que ele se encontrava no momento? Só podia ser brincadeira. Gente bêbada era a coisa que ele mais detestava.

— Bom, eu não vejo outra alternativa se não você vir comigo. A menos que queira dormir no ponto de ônibus.

— Eu posso estar bêbado, mas eu não sou idiota. Acha mesmo que eu vou confiar em alguém que conheci há algumas horas? E ir para uma casa que eu não sei onde fica? Tá maluco? Nunca assistiu filme, não? — Kihyun o encarava enquanto falava, com uma espécie de desafio nos olhos que atiçava o gênio teimoso e persistente de Changkyun. — Eu não vou.

— Você vêm. Eu arranco meus dedos se fizer qualquer coisa que você não queira. Não posso te deixar aqui no bar e não vou permitir que saia por aí no estado que se encontra. Você não tem opção. — Changkyun determinou, levantando-se para ir em busca de sua mochila.

— Eu já disse que sei me cuidar!

— Não, você não sabe. — Changkyun o encarou de volta. — Se soubesse, não teria saído de casa sozinho em uma viagem de duas horas para uma cidade que não conhece e ter ficado tão bêbado a ponto de nem reparar que foi roubado. Por favor, quanto mais rápido formos para minha casa, mais rápido você vai embora. É só uma noite.

Kihyun podia ser o quão tenaz e cabeça-dura quisesse, mas ele também possuía um senso de razão inquebrável mesmo quando todos seus sentidos estavam contaminados com álcool. Ir para a casa de Changkyun era sua única opção, pelo menos no momento. De manhã as coisas se resolveriam; ia ficar tudo bem. Decidido então, ele se levantou resmungando e quase caiu quando a vertigem o atingiu, mas Changkyun foi rápido em ajudá-lo, não o soltando até que estivessem fora do estabelecimento.

— Obrigado... — murmurou.

— Não é nada. Por acaso hoje eu decidi poupar o meio ambiente e vir a pé, mas o meu apartamento é duas quadras daqui. — Changkyun comentou uma vez que terminou de trancar tudo. — Você consegue caminhar até lá?

— Só tem um jeito de sabermos.

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