Capítulo 21

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Algumas horas antes.

Kihyun estava quase deprimido. Havia algumas boas horas que estava sentado no sofá, em uma postura que seus pais definitivamente não o ensinaram a manter, assistindo a um programa de auditório duvidoso em uma emissora pouco acessada já que, por benção do universo, a TV a cabo estava sem sinal. Ainda faltava algum tempo para Changkyun retornar do trabalho. Ele pensava na vida, nas crueldades do tempo e na falta avassaladora que sentia de trabalhar no que gostava. Para muitos o trabalho na galeria poderia ser um martírio, um tédio. E mesmo que fosse algumas vezes, ainda era muito melhor do que ficar enfurnado em um apartamento assistindo televisão, disso ele tinha certeza.

Naquele silêncio ensurdecedor preenchido unicamente pelo apresentador na TV falando asneiras politicamente incorretas, Kihyun deu um suspiro solitário e se levantou, balançando a cabeça. A noite era quente e ele era jovem. Resolveu ir dar uma volta.

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Nunca havia passeado em Incheon sozinho antes, tampouco a pé. Changkyun sempre fazia questão de levá-lo no carro para onde quisesse, mas queria estar por perto. Não por perto de um jeito possessivo, mas protetor. Depois do sumiço repentino de Youngho, eles vêm tomando o dobro de cuidado quando saem de casa, sempre olhando aos redores. Este é um fator desmotivador para Kihyun sair de casa ultimamente. Entretanto, lá estava ele. Andando sozinho. Tomou consciência, enquanto andava entre os polos comerciais, que esqueceu completamente de avisar Changkyun de sua saidinha. Mas provavelmente ele deve imaginar que eu saí para tomar um ar, pensou. Ou ao menos eu espero.

Parou em uma loja de bubble tea, pediu o clássico de sempre, matcha, e se sentou em uma das cadeiras do quiosque, observando a rua e pensando em tudo, menos no que estava por vir. Uma pessoa gritando seu nome histericamente pela rua. Uma bagunça de mochilas e cabelos loiros e chaves se pendurou em seus ombros, chorando. Kihyun quase cuspiu seu chá.

E percebeu quem era.

Minhyuk?!

Em carne e osso e um pouco de lágrimas, Minhyuk estava agarrado em Kihyun como se ele fosse feito de poeira e pudesse ser levado pelo vento a qualquer instante. Parecia que ele não dormia há muitos dias e suas mãos tremiam muito. Cafeína ou emoção? Kihyun nunca conseguiu perguntar. Foi bombardeado de perguntas e xingamentos por seu melhor amigo logo quando ele se soltou do aperto.

— Eu nunca quis tanto bater em você como eu quero bater agora. Quem você pensa que é pra sumir por todos esses meses e me deixar com a única notícia que se separou e foi embora de casa? Tem noção do quanto eu fiquei preocupado e ainda estou? Meu Deus! Você é uma peste, Yoo Kihyun, do pior tipo. Eu te odeio tanto. — Minhyuk não conseguia parar de chorar. As pessoas ao redor olhavam e desviavam o olhar, provavelmente julgando-o um louco.

— Estou feliz em te ver também, Minmin. — Kihyun finalmente disse algo. Minhyuk soluçou mais um pouco e bebeu todo o bubble tea para se acalmar.

—O que aconteceu com você? — Agora mais calmo, ele perguntou novamente. O tom de voz de Minhyuk revelava uma preocupação que Kihyun nunca achou que sentiriam por sua vida. Quase chorou também.

— Oh, tanta coisa. Precisariamos de muito mais do que algumas horinhas para eu contar. — Kihyun segurou as mãos dele. — Mas eu posso te garantir que estou bem. De verdade, nunca estive tão bem.

— É maravilhoso ouvir que sua dor não conseguiu tomar conta do seu coração, Kiki. — Minhyuk deu um sorriso emocionado. Tão sempre emocionado.

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