Capítulo 14

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Já tinha caído a noite quando eles saíram do prédio, Kihyun levando uma mala e Changkyun outra. Eles decidiram dar uma volta pela cidade antes em vista que o próximo trem só sairia nas próximas duas horas. Kihyun parecia estar se recuperando do choque conforme caminhavam. Depois de aproximadamente quinze minutos vagando, se depararam com uma feira de artesanatos na entrada de um parque, onde um carnaval de luzes se espalhava pelas barraquinhas vermelhas e todo tipo de gente passeava. Changkyun propôs que ficassem por lá até o horário do próximo trem.

Enquanto andavam entre as barracas, a de bichinhos de pelúcia chamou atenção de Kihyun.

— Ah!! Chang, olha que fofinhos! — Kihyun o puxou até ela, onde uma senhora simpática os cumprimentou.

— Qual você gostou mais? — Perguntou Changkyun.

— Vai comprar um bichinho para o seu namorado? — A senhora falou, e os rostos de ambos garotos ficaram super vermelhos. Eles se apressaram em explicar de modo super desajeitado que não eram um casal, mas isso só a fez rir. — Tudo bem, tudo bem, se vocês dizem...

— Eu... gostei do tigrinho. — Kihyun disse, apontando para a pelúcia de tigre tamanho médio pendurada. — M-Mas você não precisa-

— Vamos levar esse.

Eles se despediram da senhora com um Kihyun agarrado na pelúcia de tigre. Andaram por mais certo tempo com os ombros colados e as mãos próximas, ora ou outra os dedos se esbarrando, até Changkyun enfim os entrelaçar e eles continuarem o caminho com sorrisos tímidos. Pararam em mais algumas barracas de jogos mas ambos eram muito péssimos e ganhavam nada mais do que chaveiros por terem tentado. Quando já estavam chegando ao fim da feira com o início da divisa do parque, a barraca de tanghulu os chamou atenção.

— Tanghulu! — Changkyun exclamou em empolgação. — Você gosta? Vamos comprar um, por favoooooor.

Kihyun não era muito fã do doce mas fez questão de pagar para Changkyun um tanghulu de morango, o que o fez sorrir como criança. Ele obrigou Kihyun a experimentar e mesmo querendo negar, ele havia gostado bastante. Os dois seguiram caminho pelo parque arbóreo onde um grande rio traçava caminho; não havia muita gente no entanto, uma vez que todos estavam concentrados na feira atrás. 

— Daejeon é bem mais animada do que pensei. — Comentou Changkyun.

— É a minha cidade mais favorita no mundo. — Kihyun estava com a expressão mais suave que Changkyun já vira nele. — Quer sentar nos balanços?

— Ah, por favor. Meus pés estão me matando.

— Deixa de ser dramático! — Kihyun respondeu-o, soltando uma risada involuntária que contagiou Changkyun para que risse também.

Eles se sentaram nos balanços que ali haviam e colocaram as duas pequenas malas encostadas, suspirando uma vez que finalmente puderam descansar. Contemplativos, eles ficaram em silêncio algum tempo, balançando os corpos devagar nos balanços rangentes. E aí eles se olharam, e sorriram.

— Eu estou muito feliz que viemos aqui. — Kihyun disse, a brisa da noite soprando seus cabelos de leve como naquela vez na praia onde ele estava a criatura mais bonita do mundo sem esforço. Mas tinha algo diferente dessa vez.

— Eu também. Obrigado por me mostrar o lugar.

— Obrigado por me deixar mostrar. — Kihyun respondeu, desviando o olhar evidentemente envergonhado; Changkyun também estava e por isso eles ficaram em silêncio mais um tempinho até que a lua subisse um pouco mais no céu.

— Minha mãe sempre me contava uma história sobre como surgiram as estrelas antes de dormir. — Changkyun comentou.

— Qual?

— Você quer ouvir? — Changkyun foi pego de surpresa, mas ficou contente quando Kihyun fez que sim. Ele limpou a garganta antes de começar a falar, olhando para a lua. — É o seguinte: foi numa aldeia indígena; as crianças roubaram sementes de milho e ficaram com medo de serem descobertas, então pediram a um colibri que amarrasse um cipó no céu para que elas pudessem subir e escapar. No entanto, tiveram que ficar olhando para a Terra todas as noites cuidando de suas mães, e tais olhos abertos se tornaram as estrelas.

— Nunca tinha ouvido falar dessa história... é linda. — Kihyun disse de modo sincero, apoiando o rosto na corrente do balanço, olhando para Changkyun. — Assim, faz muito mais sentido que esferas de plasma sustentadas pela pressão da radiação.

— Também acho, sabia? — Changkyun olhou de volta para ele e ficou feliz por ver que os olhos opacos de Kihyun tinham voltado a ser o mar de estrelas de sempre. Eles riram.

— É uma pena que mal consigamos vê-las hoje. — Kihyun ponderou.

— Seu sorriso já vale por elas. — Changkyun soltou.

Kihyun, que ia falar outra coisa, engoliu o início de sua sentença na hora, cortando o próprio ar em surpresa. Ele olhou para Changkyun ironicamente com um sorriso de quem não sabia o que fazer ou não estava exatamente certo do que ouviu, mas ainda assim muito atônito.

— Perdão, eu acho que não entendi.

— N-Não era nada, eu soltei sem querer. — Changkyun sorriu sem graça, morrendo de vergonha.

— Não, não, eu tenho certeza que ouvi algo. O que era?

— Eu disse que... s-seu sorriso vale por todas as estrelas, e honestamente acho que é até mais bonito do que todas elas.

— Chang... — Kihyun sentia que todo seu sangue estava concentrado em suas orelhas e em suas bochechas. Ele de repente se sentiu muito quente. Pensou, por um momento, que estivesse delirando. — Onde você quer chegar, afinal?

Talvez fosse Changkyun que estivesse delirando, porque nem ele mais sabia o que estava fazendo. Era como se ele não conseguisse simplesmente pensar antes de realizar qualquer uma das ações daquele momento em diante, daquele momento onde ele puxou a corrente do balanço de Kihyun de modo que o próprio ficasse muito próximo a ele; próximo o suficiente para que sua mão alcançasse o rosto dele e tocasse gentilmente. O farfalhar das folhas ao redor foi como um sinal de aprovação.

— Aqui. — Então, Changkyun o beijou.

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