Capítulo 5

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Daejeon tinha tudo. Prédios, um lago, parques, museus. Mas nada de praia. Uma cidade cercada por outras cidades sem o ar da graça de um litoral — o mais próximo ficava 1h de distância, então era quase impossível frequentar a praia mais de uma vez por mês. Por consequência, Kihyun simplesmente não se importava muito. Mas Changkyun disse que ele mudaria de opinião sobre a praia uma vez que visse as de Incheon.

Estava quase no fim do dia quando saíram do restaurante; não demorou muito para chegarem à orla. Havia um mar imenso diante dos olhos de Kihyun e ele mal conseguia acreditar que estava ali. Acima de si, o céu se tornava levemente purpúreo com a caída da noite, salpicado de estrelas tímidas.

— Você pode ir na frente, vou buscar água gelada pra gente. — Changkyun disse.

Kihyun abraçou as pernas quando sentou-se na areia fofa e gelada, fechou os olhos e respirou bem fundo até que os pulmões doessem. Não tinha quase ninguém na praia. Era apenas ele e seus pensamentos, sozinho. Ele não queria mais chorar, mas parecia um sentimento muito mais forte do que ele jamais conseguiria ser; vinha de dentro, escalava suas paredes e invadia seus olhos como aguardente. Tantos anos dedicando-se àquele relacionamento para que acabasse expulso, humilhado e perdido. Como ele pode ter sido tão idiota?

— Estou de vol- Kihyun? — A voz de Changkyun foi como um puxão para fora do escuro. Kihyun enxugou as lágrimas.

— O-Oi, desculpa, eu... estava só pensando. É o efeito do mar, eu acho. — Ele riu sem realmente rir. Changkyun sentou ao seu lado e lhe deu uma garrafa de água.

— Pensando no seu ex?

— A situação toda foi bem problemática. Acho que vou levar um tempo para absorver tudo o que aconteceu. Eu só... — ele fez uma pausa para dar um gole de água — me sinto um idiota, sabe?

— Eu não sei o que aconteceu, mas aposto que o idiota da história não foi você. Não se culpe tanto assim.

— Obrigado — Kihyun o olhou com um sorrisinho.

Eles ficaram mais um tempo em silêncio depois disso. Olhando o mar, ouvindo as ondas, presenciando o sol lentamente dar lugar à grande, redonda e brilhante lua, que agora beijava seu próprio reflexo nas águas escuras da noite. Os postes de luz estavam acesos atrás deles. Então Changkyun disse:

— Me conta sobre você.

Eles se olharam. A luz da lua iluminava o rosto de Kihyun com um brilho perolado, e por uma fração de longos segundos Changkyun se encontrou totalmente vidrado nele, no jeito que seu cabelo escuro era soprado levemente pelo vento e em como seus olhos brilhavam com o reflexo da lua. Ele desceu os olhos pelo nariz reto até os lábios, que apresentavam um corte superior começando a cicatrizar. Changkyun já tinha reparado antes, mas preferiu não perguntar sobre.  

— O que quer saber? — Foi a pergunta de Kihyun que tirou-o do pequeno transe.

— O que você puder me contar. Suas origens, sua história. Você. Sem ex.

Kihyun teve que rir.

— Naturalmente. Sinto em te decepcionar, Changkyun, mas acho que eu não sou tão interessante quanto está pensando. Grande parte da minha história vem com Ele junto. O resto é só cotidiano.

— Você realmente ficou tanto tempo com ele assim para esquecer de viver a própria vida? — Changkyun estava indignado.

A pergunta fez Kihyun se calar. De fato, ele havia sim passado muito tempo vivendo em função de agradar o noivo, mas não conseguia dizer quando isso tinha acontecido. Ele tinha plena noção que no início era um namoro como qualquer outro. O que tinha acontecido naquele meio período? O que o fez esquecer de tudo, se tornar tão dependente de algo tão frágil como uma união, um status?

— Pelo seu silêncio acho que nem você tinha se perguntado isso. Saquei. — Changkyun olhou para o mar. — Acho que essa seria uma boa hora para você começar a fazer as coisas que se privou por todo esse tempo.

— Perdão? — Kihyun olhou Changkyun como se ele fosse um lunático.

— Isso mesmo que você ouviu. Veja, o que você sempre quis fazer mas nunca conseguiu?

— Ah, céus — Kihyun riu soprado, desacreditado com a pergunta que nunca lhe foi feita antes. — São tantas coisas... acho que uma delas até se aplica ao agora. Eu sempre quis tomar um bom banho de mar, mas Daejeon não tem praia e como eu já te contei, acabo não sendo o maior fã e nem o melhor nadador.

— Bom, não seja por isso! — Changkyun se levantou simplesmente e tirou os sapatos, fazendo Kihyun arregalar os olhos.

— Changkyun! Agora?

— Se não agora, daqui quantos mais anos não vividos? Venha, Kihyun, vamos tomar banho de mar.

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