Capítulo 7

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A proposta foi como se Changkyun tivesse lido seus pensamentos. Kihyun sequer pensou duas vezes antes de dizer "é claro" em alto e bom som. Eles chegaram no apartamento por volta das 23h e só tiveram tempo de tomar um banho antes de caírem mortos de sono, Changkyun na cama e Kihyun no sofá. No outro dia, tudo se decorreu bem. Para o cair da noite Kihyun sugeriu que eles deveriam cozinhar algo e agora estavam os dois na cozinha, discutindo sobre a incapacidade manual de Changkyun para fazer um simples arroz.

— Pelo amor de Deus, Changkyun! — Exclamou Kihyun. — Você é um homem crescido e não sabe nem fazer um arroz? A sua irmã é literalmente cozinheira. Como pode?

— Ela nunca teve paciência pra me ensinar nada, em minha defesa. — Retrucou Changkyun, levemente envergonhado. — Nós podemos só pedir algo.

— Se depender de mim você não vai pedir comida por um bom tempo. — Kihyun jogou um avental nele. — Venha, vou te ensinar a fazer algo.

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— Changkyun! Está sujando minha cozinha inteira! — Kihyun reclamou.

"Sua cozinha"?! — Changkyun o olhou quase perplexo enquanto colocava uma colher de sopa de gochujang no macarrão. — A casa ainda é minha para a sua informação!

Kihyun ignorou o comentário e continuou seu protesto.

— Você tem que deixar borbulhar em fogo baixo, olha quanta água pingou nesse fogão!

— Você que me obrigou a cozinhar. Eu disse que não sabia. — Changkyun cruzou os braços, fazendo um bico, olhando para Kihyun e depois para o fogão. — Nem está tão sujo...

— Ah, pare de fazer esse bico. — Kihyun sorriu, automaticamente tornando impossível que Changkyun continuasse de cara amarrada. — Você até que está indo bem mesmo. Mas não suje tudo, nunca mais. Cozinha bagunçada é o Inferno na Terra.

Dito, voltaram a se concentrar em fazer a refeição. Para Kihyun, cozinhar era o melhor jeito de se entrosar com alguém e poderia ser um processo mais íntimo do que segurar as mãos ou contar segredos. Você pode conhecer muito sobre uma pessoa até pelo jeito que ela segura a colher. Em silêncio, ele auxiliava Changkyun quando o notava atrapalhado. Haviam sorrisos e conversas sinceras entre o barulho do macarrão borbulhante e dos legumes sendo picados. Havia intimidade sendo construída e muita, muita confusão interna.

Changkyun se encontrou na dúvida se era possível sentir que conhecia uma pessoa há anos quando na verdade haviam dias, e se todo aquele turbilhão de coisas poderia estar realmente acontecendo mesmo com tão pouco tempo.

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— Olha só — Kihyun comentou depois de um momento silencioso de suspense. — Até que está bem bom.

— Sério?! — Changkyun sorriu, aliviado. — E eu achando que tinha colocado pimenta de mais.

— Pesou um pouquinho, sim, mas um pouco mais de prática e você já pode virar um profissional amador.

— Sério?!

— Hmmm, quase sério. — Kihyun disse, não contendo a risada a seguir.

A atmosfera estava confortável entre os dois. De verdade, para uma primeira vez, Changkyun tinha se saído muito bem cozinhando. Eles conversaram durante a refeição, sobre tudo e nada e tudo que está no meio, até que lá para o finalzinho Kihyun acabou soltando um pensamento alto.

— Queria tanto poder ficar. — Disse ele, corando ao perceber o que disse. Changkyun também ficou levemente surpreso. — Desculpa, eu não quero parecer entrão nem nada-

— E por que não pode? — Changkyun o interrompeu.

— Eu... eu tenho que resolver a minha vida. Não posso ficar fugindo da situação para sempre, sabe? Uma hora ou outra eu vou precisar encarar. Como fiz com o mar.

— Você tinha uma vida. — Changkyun estava tão confuso que não pensou antes de falar, e reparando na expressão magoada de Kihyun, sentiu-se ainda mais irritado. — D-Desculpa. Mesmo. Eu... eu posso te ajudar com isso... como fiz com o mar, Kihyun.

— Isso não é o mar, Changkyun. É a minha vida. — Kihyun por sua vez também acabou se irritando. — Tenho que pegar todas as minhas coisas, arranjar um lugar e talvez até um emprego. Não é tão fácil assim. Essa não é uma maré a qual eu posso dar um pulo para trás se eu estiver assustado.

— Você soa mais para traumatizado.

— Eu não estou traumatizado! — Ele ergueu a voz, com as orelhas vermelhas.

Então fez-se silêncio, ambos se olhando como se uma guerra estivesse para acontecer. Changkyun simplesmente não entendia. Se ao menos Kihyun o contasse o que tinha exatamente acontecido, ele sabia que poderia ajudar. Ele só precisava saber. Uma parte de si queria gritar, mas outra igualmente também pesava a mão em seu ombro, obrigando-o a encarar a realidade que Kihyun precisava ir embora. Que eles precisavam seguir seus caminhos, e que talvez nunca mais se veriam novamente.

Changkyun ia falar algo, mas seu telefone tocou bem no momento, ecoando estridente pelas paredes do apartamento, interrompendo absolutamente tudo.

— Desculpa. Preciso atender.— Changkyun disse e Kihyun murmurou em confirmação e aproveitou para se levantar e recolher os pratos. Ele suspirou no telefone. — O que é que você quer, Hyungwon?

Não sou um qualquer pra você me tratar assim não, tá? — Reclamou Hyungwon. Ao fundo havia muito barulho. — Você não vai vir trabalhar não?

Changkyun quase teve um treco. Ele tinha esquecido totalmente que hoje seu turno começava mais cedo. Pela hora, ele teria trinta minutos para se arrumar e ir correndo antes de bater o cartão atrasado.

— Está muito cheio? — Perguntou um tanto afoito, se levantando. Da cozinha, Kihyun surgiu e o olhou com confusão no rosto.

Vai ficar. Acho bom você vir logo. — Hyungwon desligou antes de Changkyun sequer conseguir responder. Irritado, ele sussurrou um palavrão e ergueu o olhar para Kihyun.

— Vou ter que ir trabalhar, Kihyun.

— Oh, eu... posso ir com você?

— C-Comigo? — A pergunta o pegou de surpresa.

— Sim. Posso? Não quero ficar sozinho aqui. — Disse Kihyun, encarando as próprias unhas, já esperando receber um não. Changkyun notou que as orelhas dele ainda estavam vermelhas.

— Bom, não tem problema por mim. — Changkyun disse. — Me espere, está bem? Vou me vestir.

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