Capítulo 6

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Tinha um mar imenso, escuro e movimentado bem diante dos olhos de Kihyun. As ondas altas se quebravam na margem como se nunca tivessem existido, indo e voltando e arrastando tudo consigo para o fundo do desconhecido e oh meu Deus ele estava em pânico. Ele tinha acabado de descobrir que não só não sabia nadar como também tinha medo do mar. Um verdadeiro desastre.

— Uh... não sei não, Changkyun. — Ele disse, torcendo os dedos na camisa. Agora só havia eles dois na praia; ambos apenas de blusa e roupa íntima depois de Changkyun passar muito tempo tentando convencer Kihyun que mergulhar de calça era uma péssima ideia.

— Qual é? Vai ser divertido! E eu vou estar com você. — Changkyun diz, olhando para ele com um sorriso.

Eles então começaram a caminhar devagar em direção ao mar. Uma vez de pés na maré, a água gelada atingiu os calcanhares dos dois e Kihyun deu um pulo para trás como um gato arisco, todo arrepiado — de frio e de medo. Changkyun, confuso, olhou para ele esperando uma resposta.

— Eu... não sei se consigo. — Disse Kihyun com a voz embargada.

— Confia em mim. — Changkyun estendeu a mão para ele.

Kihyun ficou parado ali, olhando, examinando. Confiar nele. Ele só podia estar pirado em confiar em alguém depois daquele dia, mas foi exatamente o que ele fez. Segurou a mão de Changkyun e andou até o lado dele, engolindo a seco e provavelmente suando, mas não disse uma palavra sequer. Os dois silenciosamente continuaram andando para dentro do mar sem nem pensar em soltarem as mãos, e quando a água gelada chegou na metade das coxas de Kihyun, ele parou abruptamente. Era como se uma onda de pavor emergisse de dentro de si e o impedisse de continuar, pensar, falar.

— Kihyun?

— Changkyun, eu não sei nadar. Isso não vai dar certo.

— Confia em mim, não confia? — Kihyun fez que sim. — Então te garanto que não vou te deixar afundar.

Então eles voltaram a avançar. A areia não passava de poeira estelar pelos pés de ambos, espalhando-se por toda a água a medida em que seus passos desregulares invadiam o território marinho, onde vários peixinhos curiosos passavam pelos pés de ambos. Mais alguns passos e Kihyun foi pego de surpresa com o fim do banco de areia onde andavam, quase afundando se não tivesse sido prontamente agarrado por Changkyun.

— Está tudo bem? — Ele perguntou olhando para Kihyun, que fez que sim. — Foi só um susto.

— E-Eu não vou conseguir. É melhor voltarmos.

— Kihyun, não vamos embora sem que você dê esse mergulho, entendido? Eu sei que você consegue. Nós já chegamos até aqui. — Changkyun o olhava fixamente, um pouco próximo além do que deveria estar, mas mal havia notado. Ele não queria só dizer, ele queria transmitir a Kihyun.

— Vou tentar. Só mais uma vez.

Mais uma vez foi o suficiente.

Kihyun, que antes estava apavorado, demorou bastante tempo para ser convencido a sair da água uma vez que entendeu que seus medos não eram maiores que si. Ele até estava se achando corajoso naquele momento. Quando saíram, friorentos, ensopados e um tanto ofegantes, deitaram-se na areia para contemplar aquele céu infinito por uma última vez.

— Muito obrigado por isso. — Kihyun falou baixo, queria que a conversa ficasse apenas entre eles dois, nem mesmo as estrelas de ouvintes. — Estou te devendo.

— Vou me lembrar disso. — Changkyun lançou uma piscadela, e Kihyun lhe devolveu um "tsc". Eles riram. — Acho que deveríamos voltar.

— É, voltar...

O choque de realidade atingiu Kihyun em cheio. Ele tinha que voltar para Daejeon. Tinha que arrumar um lugar para ficar, encarar toda aquela bagunça que o fez fugir e organizar os eixos de sua vida. Se é que ainda haviam eixos. Mas isso era a última coisa que ele queria no momento. Se pudesse, Kihyun passaria o resto de seus dias ali, jogado na beira do mar, ensopado de água salgada e gelada com todas as constelações do mundo para mapear e... estranhamente, com Changkyun ao seu lado.

— Kihyun? — Em que faziam o caminho de volta para o carro, Changkyun o chamou.

— Sim? — Eles se olharam.

— Você... não quer ficar só mais um dia?

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