Capítulo 13

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A expressão facial de Kihyun era puro choque, puro horror, quase mortificado. Seus olhos brilhantes ganharam um véu opaco como se tivessem destrancado todas as suas lembranças mais horríveis e colocado-as em sua frente. Ele estremeceu.

— De quê está falando? — Kihyun soltou uma risada forçada, os olhos oscilando entre a mancha e o rosto de Changkyun e os próprios pés. — É claro que não.

— Bom, pelo o que eu sei e vi, ele é uma pessoa agressiva, abusiva e manipuladora, especialmente com você. Eu já tinha reparado nessa cicatriz mas não quis comentar sobre, entretanto, depois desse sangue no carpete... Kihyun, por favor, seja sincero. — Changkyun colocou as mãos nos ombros dele, virando-o de frente para si. — Ele bateu em você?

— Changkyun, eu... — Kihyun virou o rosto, mordendo o lábio inferior com força. — N-Não foi por querer... eu mereci.

"Mereceu"?

Kihyun enfim o olhou. Seus olhos turvos estavam vermelhos e formando grandes tempestades. Ele estava sentindo dor.

— Hyunwoo... um antigo amigo, policial, ele veio aqui. Fazia algum tempo que eu não dava notícias, não queria sair de casa; ele estava preocupado. Eu fiz chá e nós conversamos e... e ele nunca foi o maior simpatizante com Youngho, entende? — As lágrimas de Kihyun começaram a escorrer pelos cantos. Changkyun as limpou com o polegar como costumava fazer. — E-Então ele começou a falar sobre término, sobre ele ser melhor. Eu sempre soube das intenções dele comigo e ele sempre soube que eu nunca senti nada. Mesmo assim... ele me beijou. Mas eu não queria! Eu o afastei, eu juro, eu juro! — Kihyun soava à beira do desespero, como se não fosse mais Changkyun a sua frente. — Youngho chegou no exato momento em que eu o afastei, e ele começou a gritar dizendo que Hyunwoo deveria ir embora, e quando ele foi...

— Ele te bateu.

Kihyun engasgou no próprio pranto, colocando as mãos na nuca. Changkyun o envolveu em um abraço.

— M-Mas eu sei que ele não faria se eu não merecesse, ele mesmo dizia...

— Kihyun, por favor. — Changkyun ergueu o rosto dele, limpando suas lágrimas mais uma vez, segurando em seu queixo. — Jamais existirá justificativa plausível pra isso. Youngho abusou de você por todos esses anos. Você foi vítima, está bem? Vítima.

Kihyun não falou mais nada e se deixou afundar no abraço de Changkyun, tremendo, soluçando, de olhos fechados esperando que o escuro o engolisse e ele nunca mais precisasse sofrer. As doces mentiras, as falsas promessas, as vazias palavras, a culpa e a humilhação, o abuso. A compreensão o atingiu como uma facada no peito, e mesmo que, no fundo, ele sempre tivesse essa certeza, ouvir de outra pessoa (ainda mais uma amada) doía em dobro.

— Isso... isso aconteceu no dia em que eu fui para Incheon. — Kihyun tornou a falar depois de um tempo, ainda com falta de ar, mas aparentemente controlado de suas lágrimas. — Depois de tudo, eu estava no chão e ele me expulsou daqui como se eu fosse um bicho. Me chamou de coisas horríveis. Eu peguei o primeiro metrô que chegou na estação, sem nem ver o destino. Eu...

Percebendo que Kihyun estava começando a hiperventilar, Changkyun afagou seu cabelo, sussurrando um "shhhh".

— Tudo bem, não precisa. Está tudo bem, meu amor, já passou. — Changkyun abraçava-o forte como se pudesse juntar todos os pedacinhos dele. Seu coração estava partido só de pensar o quanto Kihyun sofrera até ali, achando que era merecedor de tais atitudes e que as circunstâncias que vivia eram normais. — Essa foi a única vez que ele te agrediu fisicamente, espero?

— A segunda, na verdade. A primeira... foi esse corte, e a mancha no carpete. — Changkyun sentiu que seu sangue poderia evaporar de raiva. Kihyun ia continuar falando, mas estava tremendo.

Changkyun puxou muito ar de uma vez para poder tentar se acalmar. De seus olhos também haviam muitas lágrimas querendo sair, mas ele sabia que seria pior se começasse a chorar também. A tristeza que sentia por Kihyun naquele momento era assustadora, quase como se fossem um só. Não entrava em sua cabeça a ideia de que alguém conseguia gritar com Kihyun, o ameaçar, o agredir, e ainda o manipular para que acreditasse que a culpa era unicamenre dele. Era simplesmente cruel.

— Vamos embora, Kihyun. E não vamos mais voltar.

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