Capítulo 3

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Kihyun acordou no susto. Ele sentia que tinha sonhado com muitas coisas distintas na noite passada mas não conseguia lembrar de nada. Havia também muito sol em seu rosto para que pudesse tentar pensar em qualquer coisa se não sair da direção dos raios. Ele ergueu os dois braços para o alto e se esticou, sentindo a coluna estalar devido a uma noite possivelmente difícil. Uma vez acordado, vasculhou com os olhos o ambiente onde se encontrava.

Aquele definitivamente não era seu quarto, tampouco seu sofá, televisão, almofadas ou lençol. Nada ali era dele se não as roupas espalhadas por todo o chão. Espera aí.

O rosto de Kihyun se acendeu como um caldeirão de sopa de tomate fervente. Ele levantou o lençol que o cobria e não havia um resquício de roupas; nem sequer um par de meias. Inteiramente e completamente nu. E fora de casa, com tudo espalhado no chão.

— O que eu fiz? — Sussurrou para si mesmo, tão envergonhado e desesperado que sentia que podia morrer. Com o lençol amarrado em volta de seu corpo, catou suas roupas e se vestiu de modo apressado.

Ele não lembrava a última vez que havia sentido tanta dor de cabeça como estava sentindo no momento. Duvidou que poderia terminar de se vestir com aquele latejo insuportável que quase o deixava tonto. Uma vez que vestido, ouviu o barulho de tigelas em algum canto atrás de si e foi cambaleando na direção do som, e quando ele viu o causador do barulho — um garoto de sua altura, com nariz reto, piercing e cabelo claro —, um pequeno fragmento o atingiu. Ele estava na casa do garoto. Na verdade, ele foi para a casa dele.

— Será que nós...? — Kihyun arregalou os olhos.

— Oh, você acordou! — Ele sorriu para Kihyun. Vestia calça de moletom e uma blusa branca tão antiga que estava amarelando. — Fiquei preocupado se iria.

— O que é que você fez comigo, seu tarado?! — Kihyun sequer deu bom dia. Saiu partindo para cima dele com toda a força que sua ressaca permitia que tivesse. Changkyun quase derrubou a caixa de cereal no chão com o ataque inesperado. Segurou os pulsos de Kihyun com bastante dificuldade.

— Eu não fiz nada, garoto maluco! — Changkyun exclamava enquanto Kihyun o xingava de todos os nomes possíveis.

— Eu acordei completamente nu no seu sofá! Você aproveitou que eu estava bêbado, não é? Eu vou ligar para os meus advogados, eu vou te proces-

— EI! — Changkyun elevou a voz suficiente para interrompê-lo. — Yoo Kihyun. Eu não fiz nada, está bem? Eu disse que arrancaria meus dedos se sequer te tocasse de um jeito que não gostasse. Você mal chegou aqui e já saiu tirando toda a roupa reclamando de uma onda de calor absurda, e quando não tinha mais nada para tirar, caiu no sofá e dormiu. O lençol foi meramente para evitar que você sentisse frio.

Kihyun, agora mais do que nunca, estava realmente envergonhado. Ele se afastou de Changkyun quase querendo correr para fora e nunca mais vê-lo na vida, mas duvidava que iria conseguir. Não com aquela dor de cabeça. Ele olhou para os arredores como quem não quer nada.

— Por favor, me desculpa. — Kihyun pediu, sincero.

— Tudo bem — Changkyun deu uma risadinha. — Eu provavelmente teria tido a mesma reação que você. Bom, bom dia, você gosta? — Apontou para a caixa de cereal de mel que até então estava se servindo. Kihyun assentiu.

— Acho que não consigo comer nada até minha dor de cabeça passar.

— Por que não falou antes? — Changkyun virou-se para tirar, de dentro de uma grande caixa no armário, um comprimido. Deu a Kihyun junto com um copo de água.

Minutos mais calmos depois, com Kihyun não mais sentindo que poderia ter os miolos estourados de dor a qualquer momento, eles sentaram um de frente para o outro na pequena mesa de vidro da cozinha e tomaram café da manhã silenciosamente.

— Preciso voltar. — Kihyun disse quando terminou seu cereal. — Mas eu não tenho mais lugar para onde voltar.

— Mas e a sua casa?! — Changkyun de repente pareceu assustado, e soltou a frase sem filtro algum.

— Eu fui expulso... pelo meu no- ex-noivo. — Kihyun sentiu a boca amargar como se tivesse acabado de beber antibiótico. — Era dele, então eu não posso fazer nada.

Changkyun ficou em silêncio por mais tempo do que reparou ter ficado, de repente muito absorto em seus pensamentos: o que Kihyun poderia ter feito para ser expulso de casa? Será que era por isso que ele estava chorando no bar na noite anterior? Muito provável, respondeu-se.

— Eu realmente sinto muito. — Ele respondeu. Kihyun agradeceu mas disse que ele não precisava sentir. — Você pode tentar ligar para algum amigo...?

— Eu... eu não sei se quero ver qualquer pessoa agora, sendo honesto.

— Oh. Oh, okay, hum... isso é complicado. Bom, Kihyun, eu moro sozinho então não me importo se você quiser ficar aqui até que esteja mais preparado. Mas eu eventualmente posso te dar dinheiro para a passagem. Não é problema. O que você preferir.

— Eu acho que já abusei da sua hospitalidade demais... só estou sendo idiota. Tenho um amigo em Daejeon que pode me acolher. Não me leve a mal, sabe? — Kihyun mexia na colher de cereal enquanto falava. — Eu só não queria voltar pra lá agora. As coisas foram muito ruins. Ontem eu só queria fugir de tudo.

Changkyun nunca havia experienciado um término dessa dimensão; seus relacionamentos sempre foram muito curtos e emocionalmente rasos para que houvesse qualquer tipo de sofrimento, então, ele não era exatamente a melhor pessoa para aconselhar Kihyun no momento e isso estava o matando, porque ele queria muito poder dizer algo. Qualquer coisa que pudesse ajudar.

— Eu realmente não me importo se você ficar aqui, Kihyun. Você não está abusando. Eu não entendo, mas imagino que deve ser muito complicado para você no momento ter que encarar tudo o que te fez fugir. — Kihyun agradeceu e isso fez Changkyun mais confiante. — E além do mais, você está de ressaca. Não se deve encarar nada assim. Pelo menos não hoje, sabe?

Kihyun se encontrou muito dividido. Ele não conhecia Changkyun, e por mais que ele fosse gentil e tudo, seria ele era também confiável? E se ele o machucasse também? Mas quem lhe garantiria que ele não seria machucado de novo se voltasse para Daejeon?

— Olha, eu não sei não... — Kihyun estava realmente apreensivo quanto à ideia de tanto aceitar quanto recusar.

— Não vou te forçar a tomar nenhuma decisão, Kihyun. Estou apenas dizendo.

Kihyun deu mais uma olhada em Changkyun. Ele aparentava o tipo de cara que queima o dedo fazendo macarrão e chora até que coloquem um band-aid. Nada ameaçador, quase bobo. Ele esperava não estar errado. Não precisava de mais arrependimentos.

— Tudo bem, acho que... posso tentar.

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