Capítulo 10

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Quase duas semanas depois do incidente com Youngho no bar, Kihyun ainda não tinha conseguido retornar a Daejeon. Ele estava começando a aceitar a ideia de que talvez realmente estivesse traumatizado, mas não queria dar o braço a torcer e preferia não pensar muito sobre o assunto. Changkyun continuava sendo muito gentil com ele e os dias, mesmo com a atribulação emocional de Kihyun, eram tranquilos.

No momento já era madrugada. Changkyun e Kihyun passaram a noite assistindo filmes de ficção científica até o último citado acabar caindo no sono. Changkyun deixou-o dormir e foi para seu quarto, onde lá estava acordado há mais de duas horas com os olhos fixados no teto e mil pensamentos martelando em sua cabeça. Ele sempre teve problemas para dormir; dormiu no mesmo quarto que a irmã a vida inteira e quando se mudou, passou um mês inteiro sobrevivendo de três horas de sono por noite, mas hoje sua inquietação era diferente; hoje tinha motivo, e o motivo estava dormindo em seu sofá.

Changkyun estava muito confuso, muito imerso. Por que de repente estava pensando em Kihyun mais do que o normal? Por que qualquer aproximação já era o suficiente para causar-lhe ansiedade? Por que seu coração chegava a palpitar quando Kihyun sorria, quando os olhos brilhantes dele se encontravam com os seus? E se fosse o que Changkyun estava especulando, por que justamente agora?

— Não consegue dormir? — Kihyun apareceu na porta do quarto segurando um copo de água, a luz do corredor refletindo em suas costas. Changkyun corou com a ideia estúpida de que Kihyun poderia saber o que ele estava pensando, mas rapidamente se recompôs.

— Te acordei?

— Uhum. Você murmura demais a noite, imagino que pensando. Mas hoje também estou de sono leve.

— Ah, me desculpe. — Changkyun coçou a nuca, envergonhado. — Eu tenho problemas para dormir, por isso até prefiro trabalhar de madrugada.

Kihyun colocou o copo em cima da cômoda que havia ali, indo em direção a Changkyun e sentando-se ao seu lado. Os dois se olharam. A luz do corredor se esforçava entre a escuridão do quarto para alcançar ambos os rostos, lançando fracos feixes de luz.

— Quer... que eu fique com você? — Kihyun perguntou, de repente tímido, mas sem quebrar o contato visual.

— P-Perdão? — Aquela maldita palpitação.

— Sabe — o tom de voz dele era baixo e abafado, como se estivessem na presença de vitrais sagrados em uma antiga capela —, quando eu era mais novo e não conseguia dormir, pedia a minha mãe que ficasse comigo. Eu caía no sono rapidamente uma vez que ela estivesse ao meu lado. Então... se você quiser, eu posso ficar aqui até que pegue no sono.

Changkyun achou que ia ter um ataque cardíaco. Era ridiculo. Ele era um homem crescido e estava sentindo aquele tipo de coisa por um pedido tão simples; como sua irmã costumava dizer, o coração vai ser eternamente jovem. Ele teve certeza que Kihyun também estava com tanta vergonha quanto ele, porque mesmo com a má iluminação era possível perceber a expressão tímida e as clássicas orelhas vermelhas.

— Cla-claro! — Changkyun respondeu, desajeitado, quase um tonto. Kihyun secretamente achou aquilo fofo. — Digo, tudo bem, eu... é, tudo bem. Eu quero. Vale a pena tentar.

Foi um processo silencioso e desajeitado. Changkyun deu espaço para Kihyun deitar-se ao seu lado e assim ele fez. Os dois ficaram muito quietos. Então Kihyun levou seus dedos até os cabelos de Changkyun e começou um carinho lento e singelo, como se fosse trabalho de mil fadas. Em pouco tempo ele caiu no sono, respiração pesada e tudo, cansado depois de tantas horas mastigando pensamentos. Kihyun, com receio de acordar Changkyun caso levantasse, acabou por se entregar ao sono também, e dormiu ao lado dele.

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