Capítulo 11

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Pela manhã, Changkyun foi acordado com muito sol em seus olhos, quase como se  sarcasticamente o grande astro quisesse lhe tirar de sua paz inercial. Ele fez a primeira nota mental do dia de ir comprar cortinas decentes. Depois de esfregar os olhos e se acostumar com a claridade, sentiu um braço envolvendo sua cintura e uma perna por cima da sua, bem como um certo peso no ombro esquerdo. Ele virou lentamente o rosto para se deparar com Kihyun dormindo, e logo lembrou-se que o tal havia ficado ali a noite toda até que ele pegasse no sono, e provavelmente foi dormir logo depois.

Doeu bastante em Changkyun ter que acordá-lo.

Kiki... — Ele chamou, mexendo em Kihyun.

Kihyun apenas resmungou e se ajeitou melhor na posição em que estava, sem intenções de levantar.

— Temos que acordar, já deve ser tarde... — Changkyun, com muito esforço, conseguiu se soltar dos braços de Kihyun e se sentou na cama, dando um longo bocejo. O último por sua vez só resmungou e agarrou um travesseiro.

Changkyun riu e desistiu de acordar Kihyun, pelo menos naquele momento. Depois de concluir a rotina matinal, preparou café e torradas (depois de queimar três) e voltou para o quarto para completar sua Missão Impossível. Kihyun, no entanto, já tinha acordado e se encontrava sentado na borda da cama, parecendo pensativo.

— Bom dia! Vejo que acordou e... aconteceu algo?

Kihyun piscou, balançando a cabeça e olhando para Changkyun como se tivesse sido acordado de um transe.

— Uh? B-Bom dia... não, não é nada. Estava só... pensando. Coisa matinal.

— Sonhos ruins?

— Um pouco. — Kihyun deu de ombros e se levantou. Estranho. — Sinto cheiro de café. Olha só o meu aprendiz, hein?

— Depois de queimar três torradas, acho que posso me considerar um mestre cuca. Você quer que eu te espere?

— Pode ir na frente, vou só escovar os dentes.

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Os dois tomaram café em silêncio.

Tudo bem, depois de certa convivência Changkyun já sabia que Kihyun não era falante pela manhã até que tomasse seu café, e que ele sentia tanta fome a ponto de ficar mau humorado. Mas naquela manhã ele realmente estava estranho, e quer Kihyun gostasse ou não, Changkyun ia perguntar o motivo.

— Tem certeza que não aconteceu nada?

— Certeza, sim. É só impressão sua. — Mas Kihyun falou isso olhando para a própria caneca de café, a expressão sombria. Tinha coisa ali sim.

— Você sabe que pode me contar tudo.

— Não há nada para contar, sério. Eu tô bem. Só pensando.

Changkyun arqueou a sobrancelha. Kihyun o encarou de volta. Acontece que tinha sim o que pensar, e ele não conseguia parar nem por um momento. Não conseguia parar de lembrar como Youngho o humilhou naquele dia, como ele sorria enquanto dilacerava cada pedacinho de seu psicológico, como ele se sentiu tão fraco e impotente e pequeno como sempre. Ele só queria fechar os olhos e sumir.

— Está pensando em Youngho, não está?

Kihyun arregalou os olhos em surpresa.

— C-Como...

— Desde aquele encontro no bar, sinto que você não consegue passar um dia sequer sem pensar no que aconteceu. E eu entendo, de verdade. — Changkyun se levantou e se pôs agachado ao lado dele. — Mas você não pode enfrentar essas coisas quieto.

— Desculpa, eu achei que ia ser só no momento mas... eu não consigo nem fechar os olhos a noite. As palavras dele ecoam na minha cabeça a todo o momento. Não consigo parar de pensar. — Kihyun soava cansado. Changkyum segurou as mãos dele.

— Kihyun, ele não é digno nem de ocupar os seus pensamentos. Você não deveria se deixar cair no martírio pelo o que ele falou, pelo o que ele acha que sabe de você.

— É impossível não se deixar levar.

Mesmo?

— Sim, eu... acho. — Tinha algo muito carinhoso no jeito que Changkyun estava olhando para ele no momento. Os dois levantaram sem soltar as mãos. — Assim, quando estou com você, assistindo filmes sci-fi, passando pela praia, conversando sobre qualquer coisa... eu simplesmente esqueço a existência dele, esqueço que qualquer daquelas coisas horríveis um dia aconteceram. — O rosto de Kihyun se tornava gradativamente vermelho conforme ele falava. — Mas quando eu estou sozinho, meus primeiros pensamentos são lembranças do que ele me disse e costumava dizer.

— E você acha mesmo que o que ele fala possui qualquer relevância?

— Infelizmente. — Kihyun abaixou o rosto, fitando suas mãos juntas da de Changkyun. Seu coração batia tão forte que ele pensava se era audível a todos. — Ele sempre me tratava assim quando estava estressado; me chamava de inútil, ameaçava tirar meu emprego na galeria, batia na mesa, gritava. Eu pensei em terminar várias vezes, mas acabava me convencendo que eram atitudes normais, às vezes até que era culpa minha.

Mesmo se quisesse, Changkyun não conseguiria encontrar palavras suficientes para o momento. Então foi isso. Essa seria a situação que Kihyun viveria para um provável sempre se não tivesse sido expulso de casa. Changkyun não conseguia acreditar. Ele levou suas mãos para o rosto de Kihyun, afastando alguns fios de cabelo de seu rosto, e então o abraçou. Kihyun por sua vez retribuiu, apertando seus braços envolta dele e afundando o rosto na curva de seu pescoço — o encaixe dos dois era tão perfeito que não parecia natural.

— Eu queria que você se enxergasse como eu te enxergo. — Changkyun sussurrou. — Que entendesse que nada do que aquele cretino te diz é verdade; que enxergasse seu verdadeiro valor, a pessoa incrivel que você é. Que a gente tivesse se conhecido antes para eu poder te falar tudo isso.

Kihyun tinha se emocionado no meio da fala de Changkyun e olhou para ele com pequenas lágrimas no canto dos olhos, rosto vermelho e tudo, mas sem quebrar o abraço.

— Você é um anjo, sabia? — Kihyun fungou, rindo de si mesmo.

E você é o meu. — Changkyun deslizou os polegares pelo rosto dele, enxugando suas lágrimas.

Nenhum dos dois admitiria, mas aquele momento já tinha esclarecido muitas dúvidas que ambos tinham sobre... tudo. Eles continuaram abraçados mais um tempo, em silêncio, em plena manhã. O coração de Changkyun estava quente e decidido quando ele quebrou o silêncio para realizar uma proposta:

— Kihyun?

— Sim?

— O que acha de pegarmos suas coisas em Daejeon?

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