Conhecendo

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Chris pegou no banco de trás do carro um pacote de salgadinho e pôs no meu colo.

- Isso é pra matar sua fome enquanto não chegamos.
- Ahn...
- Você não gosta de chips? - ele me olhou assustado enquanto dirigia, saindo do pátio da escola.
- Não é isso, - ri sem graça - É que: a gente vai para algum lugar longe?
- É surpresa! - ele estava atento no tráfico. Tudo bem, eu não tinha nenhum compromisso marcado e minha mãe não estaria aqui por esses dias. No entanto, eu achava muito clichê esse negócio de surpresa pra namorada. Namorada?
- Chris, é óbvio que se você quer que eu coma algo no carro, a gente vai para um lugar longe.
- Então por que você perguntou a coisa óbvia? - revirei os olhos e abri o pacote. Eu queria pôr meus pés para cima e deitar o banco, mas eu não me sentia confortável. Aquele carro era limpo demais, cheirava a couro demais e seu interior era claro demais. Peguei uma batata e mordi.
- Então... Esse carro?
- Peguei emprestado da minha vó. Ela falou que estava tudo bem. - assenti com a cabeça. Mais uma mordida. - Com quem você estava quinta?
- Isak. - ele olhou de relance para mim.
- Por que?
- Nada demais... - preferi não contar ainda sobre o problema Jonas. - Por que você tava com tanta pressa quinta?
- Pera aí! Estamos no assunto Isak. - ele beliscou minha coxa, estava com um sorriso no rosto. Eu levei um susto e dei um empurrãozinho de leve nele. - Nada disso! Estou dirigindo. - me encostei na porta, encarando, desacreditada, ele. - Vai logo, Isak... Na sua casa, de noite.
- Ele é gay Chris! - saiu sem querer. Eu falava muita coisa sem pensar. O Penetrator me olhou sério, meio sem acreditar.
- Onde você ouviu isso?
- Eu sei que ele é, quer dizer, não que ele tenha me contado, mas tenho quase certeza...
- Bem, se ele for, pelo menos resta mais garotas... - meu queixo caiu e eu belisquei seu braço.
- Lembra que você me pediu em namoro? - ele passava a mão por onde eu tinha o beliscado.
- E você negou! Qual é? Eu estava brincando! - ele me olhou de relance, mas eu ainda estava com a face brava. Comi mais um pouco de batata. - Eu, ahn... - olhei para ele depois de um tempo - Eu estava com pressa, ontem, porque... - ele parecia estar forçando a saída das palavras - Eu estava com pressa porque - aquilo estava sendo realmente difícil para ele.
- Se é difícil para você, não precisa me dizer. - Eva madura estava ativa - Quer dizer, se você estava com alguma garota, me fala agora. Porque pulo agora. - ele riu. Lambeu os lábios  e riu de novo.
- Nossa, fazia muito tempo que eu não via uma vaca. - já estávamos em uma rodovia. Era o carro e a paisagem, só. Eu olhei para onde ele apontava. Sorri.
- Quando meu pai era vivo, íamos para a fazenda. Era tão legal... - fiquei relembrando meu pai e nossos momentos.
- Faz quanto tempo que você o perdeu?
- Uns 15 anos... Ele adorava andar de moto e, já sabe né.... - ele colocou a mão em meu joelho. Eu não precisava de consolo. Não gostava que sentissem pena de mim. O tempo difícil da sua morte já passou. Eu sei que hoje ele está comigo, aonde eu for. Afastei sua mão do meu corpo e olhei com carinho para ele. - Eu odeio quando fazem isso. Sei que é do seu melhor, mas eu odeio. - ele sorriu.
- Eu também. - juntei as sombrancelhas - Me sinto um idiota quando as pessoas olham com olhar de pena para mim. - será que muitas pessoas olham com pena para ele? Não falo mais nada, olho pela janela e foco em terminar o pacote de salgadinho. - Eva...
- Chris... - olhei para ele que estava sorrindo.
- Desde aquela noite que você pegou aquele língua mole...
- Tristan? - ele concordou - Ah, e você pegou a bunda daquela menina... - ele revirou os olhos e assentiu.
- Desde aquela noite eu não fiquei com mais ninguém além de você. - levantei as sombrancelhas - Quer dizer, não é grande coisa, mas pensei que você deveria saber.
- É grande coisa sim. Qual foi seu março de garotas em uma semana? - ele gargalhou e olhou para mim. - É sério!
- Uma semana? - concordei - Eu não contei direito, mas mais ou menos 31. - engoli em seco. Olhei pela janela.
- O meu é de 40 - ele me olhou assustado e depois tentou disfarçar. Eu não iria falar que era mentira. Deixaria ele sofrer um pouco. - Está tudo bem?
- Nã... Quer dizer, sim. Claro! - ele gesticulava nervoso - Quer dizer, tudo bem né?
- Óbvio! - sorri alegre enquanto ele trabalhava seu cérebro tentando processar a informação. Eu não podia demonstrar a minha diversão.
- Mas você tá ficando com alguém além de mim? - eu estava rindo, gargalhando tanto por dentro. Estava quase transparecendo.
- Agora não Chris. - eu vi ele engolir em seco. - Faz um tempo que não fico com ninguém além de você...
- Graças a Deus! - ele deixou escapar e eu gargalhei.
- Você nunca traiu ninguém?
- Você sabe que sim. - lembrei da noite de halloween - Mas só fiz aquilo porque ela estava me enchendo o saco. Tava na hora de terminar.
- Era só você terminar.
- Não, - ele riu negando com a cabeça - Você não entende com ela era pé no saco. Não era uma namorada. Era um detetive. - gargalhamos e Chris começou a falar das roubadas por quais já havia passado. Sua ficha de fuckboy era completa, mas ele não era uma má pessoa. Não falava mal de ninguém, não zombava de ninguém pelas costas. Suas palavras contavam mais do que qualquer palavra de que falavam sobre ele. "Ele tentou ser bom" "não deu certo", a conversa com Zac ainda me atormentava. Mas eu tinha Chris ali comigo; e por hora, nada mais importava.

A caminhonete parou na frente de um portão branco enorme. Em sua volta havia muro cheio de plantas. Apoiei minha mão em sua coxa e virei lentamente até seu rosto. Ele me roubou um beijo.

- Esse final de semana vai ser bom. - ele falou encostado na minha boca.
- Final de semana? - me afastei - Não trouxe roupa para tudo isso! - ele me puxou com um pouco de agressividade para perto de novo.
- Gosto de você sem roupa mesmo.

Fuck the Shame - SKAM (*CONCLUÍDA*)Onde histórias criam vida. Descubra agora