Vaso

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                      ABALO SÍSMICO

- Você! - parei minha caminhada quando escutei o estouro da porta do carro dele - Você não vai sair andando como se a sua fosse a última palavra. - revirei os olhos e mordi meus próprios dentes. - Se eu fosse fútil...
- Você é fútil! - me virei, explodindo - Fútil pegando 10 meninas em uma noite só, fútil se achando o tempo todo, fútil. Vazio. Vazio de sentimentos. Você nem consegue estabelecer uma relação séria com alguém!
- Cala a boca!
- Você acha mesmo que eu vou calar? - apontei o dedo na sua cara, sabia que meu rosto estava vermelho de raiva - Pare de fingir para si próprio que você nutre algum sentimento por mim. Ou para de fingir para mim. - engoli em seco - É impossível uma pessoa mudar assim, de uma hora para outra.
- Você tá sendo muito babaca. - ele estava com o maxilar trancado.
- Se você gostasse realmente de mim, pararia com essas merdas de segredos. Você não está em nenhum filme, não. Essa sua bipolaridade me deixa com raiva. - um trovão explodiu no céu. Olhei de relance e o sol não estava mais lá.
- Esse final de semana... - ele parecia estar mais calmo. Só parecia.
- Penetrator, - dei uma risada irônica e me afastei - Eu nunca vou conseguir acreditar no que você fala. Todo aquele mel que você espalhou pela minha cabeça, já se dissolveu. Você é um Penetrator, nenhuma garota transa com você esperando algo a mais. Você é apenas um puto pronto para ser levado para cama. - ele bufou e mordeu o lábio. Pingos de chuva começavam a cair.
- Você devia se garantir mais Eva. Essa sua incessante busca pelo príncipe encantado nunca vai ter um fim. - ele ia se afastando - Foi mesmo um grande erro eu ter falado tudo aquilo para você. Fútil é seu pensamento, fútil é tentar achar um erro no vazio. Mesmo não sabendo nada de mim, você apenas concluiu toda a minha história de vida e meu caráter. Você foi fútil Eva. - ele deu meia volta, a chuva caiu de uma vez em mim. Como cachoeira. Assisti seu carro acelerar. Merda de carro.

Bati a porta atrás de mim e segui lentamente até meu quarto. Joguei tudo o que eu carregava pelo caminho. Liguei o chuveiro na água quente, que caia na banheira. Tirei as roupas molhadas que melavam meu corpo. Chris tinha vomitado tudo sobre mim. Eu era insensível, sem confiança, e fútil; pelo olhar dele. Foi a primeira vez que ele falou alguma coisa ruim de mim, realmente.

Todas as noites, dias de sexo com ele me veio na cabeça. Suas juras de amor da noite passada com um "é de verdade". Minhas mãos pelo seu corpo e seu sorriso com meus comentários. Seu telefone tocando e depois a mudança de espírito.

Minhas bochechas estavam molhadas, mas só percebi minhas lágrimas quando dei um soluço inevitável.

Com raiva dei um soco na água. Eu não podia estar chorando por um cara desse tipo. Era para ele estar chorando por mim. Mas eu sabia que ele não estava. Sua consciência parecia estar limpa, e isso fez meus olhos transbordarem.

Sua pressa na volta, exalando a vontade de me expulsar da sua vida. Chris não me queria mais, e ao menos sei o porquê.

Tento desviar o pensamento, mas é mais forte. De todas as vezes que eu o insultei, foi a forma de defesa para ele não se aproximar de mim. Porque me apaixonar por ele seria loucura. Mas com apenas uma noite afastados da cidade, parecia que a loucura havia se transformado em diversão. A diversão em presente, o presente que poderia ser um futuro. "O que você tem?". De onde ele tirava as frases para me fazer apaixonar. É isso. Ele me fez apaixonar.

Mas eu era como um vaso de cerâmica novinho, à espera de ser quebrado.

Talvez passado já.

Fuck the Shame - SKAM (*CONCLUÍDA*)Onde histórias criam vida. Descubra agora