Você, eu não

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- Tenho saudade do tempo em que meu pai estava vivo. Quero dizer, minha mãe não trabalhava tanto e ele compensava quando ela não podia estar comigo. Depois da sua morte, ela se enfiou no caos trabalhista, acho que para esquecer um pouco ele.
- Mas e você? - Chris estava deitado na minha barriga, enquanto descansávamos em um dos sofás depois de tirar o lençol de tudo e tirar o pó de toda a casa. Assim, me parecia muito mais um lar.
- Eu lembro ter chorado uma noite inteira por ele. As semanas seguintes eu não chorei, mas não conseguia me concentrar em nada. Depois nos mudamos de casa e eu de colégio. Logo depois conheci Jonas.
- Han. - ele passou a mão no rosto e suspirou fundo - Você não está com fome? - ele levantou, como um pulo, e começou a andar até a cozinha. De repente, Chris zangado estava a ativa.
- Hey! - corri para pegar sua mão e puxá-lo para mim - Você sabe cozinhar? - seu humor melhorou e ele sorriu. Sua mão áspera apertou minha bunda nua por de baixo de sua camiseta.
- Você nunca comeu o macarrão Chris.
- Macarrão Chris? - percorri minha mão pelo suas costas até chegar na sua bunda e amassá-la com força. Ele se assustou e eu gargalhei. - Isso que dá viver pelado. - por um momento pensei em quantas garotas já viram o desfile do corpo nu dele. Engoli em seco. Esquece!
- Hummm. - Chris passou a língua nos lábios e deu um sorriso fuckboy.
- Quando você sorri desse jeito para mim, o que você está pensando? - ele arrumou um fio do meu cabelo que caiu no meu rosto.
- Você quer mesmo saber? - estreitei os olhos. Assenti. - Você é gostosa. - Calei sua boca com a mão e logo depois ele tirou a mesma - É sério. Não só pelo corpo, mas sei lá... as coisas que você fala me deixa com vontade de te pegar, a sua risada é gostosa... - gargalhei, nunca havia imaginado um Penetrator Chris apaixonado. Oi?
- Chris, para. - passei minha mão pela sua face que se contorcia em um sorriso - Eu não gosto disso.
- Você não gosta de elogios?
- Não gosto de ficar envergonhada. - ele me deu um selinho - Você também é gostoso. - falei em seu ouvido. Ele gargalhou e se afastou de mim, com seu membro ereto.
- Para que eu preciso fazer comida!
- Viu como é bom? - vi seu sorriso debochado se afastando. Me virei e me joguei no sofá. A sala toda estava escura com apenas um abajur iluminando o espaço. Pela primeira vez percebi um quadro gigante de um rosto pintado. O cabelo castanho ondulado batia no seu peito e seu sorriso era feliz de verdade. Rosto sem rugas e uma jóia verde pendurada no seu pescoço (esmeraldas). O sorriso parecia com o do Chris. A beleza, podia me cegar.
- Amor! - petrifiquei. Enruguei a testa e andei devagar/com cuidado até a cozinha. Espiei, me encostando na parede, para ver se tinham trocado de pessoa. Me recompus e caminhei até a bancada que ele cortava a cebola.
- Que merda é essa de me chamar de amor? - ele gargalhou. Soltou a faca para se curvar do tanto que ria. E eu fiquei ali sem saber o que fazer. Ele parou um pouco a risada e me encarou com o mesmo sorriso da mulher pintada.
- Eu sabia que você ia agir assim. - relaxei. Soltei todo o ar dos pulmões e sorri. Ele chegou mais perto de mim. - Só queria trazer você para cá, amor.
- Tudo bem, amor. - falei irônica e ele sorriu forte - Mas não vou cozinhar nada, nem lavar nada, nem...
- Já entendi... - ele fez bico e se afastou com as mãos para cima, em sinal de rendição.

Sentada na banqueta, observo tudo o que ela faz. Enquanto isso conversamos sobre Noora e William, fazendo eu descobrir que ele sabe muito mais coisa do que eu. Noora já estava morando com o William, e nas palavras de Chris: " a aliança já está garantida ".

- E... - eu estava me roendo de curiosidade - Quem é aquela mulher pintada no quadro acima da lareira?
- É minha vó, - ele falou sem maiores problemas - Gatinha né? - eu sorri.
- Gatinha? - bufei - Ela é tipo Miss. - ele gargalhou. Contornou a bancada e virou minha cadeira, repousou a mão na minha cintura.
- Você quer me trocar por ela? - gargalhei. Ele se virou e pegou algo na geladeira.
- Acho melhor você não fazer essa pergunta. - ele riu pelo nariz e negou com a cabeça - Ela é muito importante para você?
- Muito. Eu não sei o que faria sem ela. - ok, segunda vez que vi um Chris sentimental em menos de 24 horas. - Ela meio que me ensinou tudo.
- Só não ensinou a parte de namorar uma de cada vez. - ele me olhou desafiador.
- Ela me ensinou a ter respeito. E ela não precisa saber da minha vida amorosa. - desculpas, desculpas. Chris queria mentir para si mesmo. Ele contornou a bancada de novo e me puxo para si. - Aliás, você está vendo alguém mais aqui?
- Não, mas no seu celular...
- Lembra da parte do confiar de ontem? - eu revirei os olhos e deixei ele se aproximar. Centímetros. Decímetros. Milímetros. Som do celular. Estridente. Chris fechou os olhos com força e se afastou. Incrível como eu não tinha reparado no meu celular o dia inteiro.
- Alô, - sua feição se transformou em tensão - Eu to longe - ele olhou de relance para mim - Não te interessa. Fala logo! - ele bufou e esfregou a mão no rosto - Não precisa. - achei tudo aquilo estranho - Você não vai deixar ela sozinha! - me assustei com sua voz feroz - Cala a boca pelo menos uma vez na sua vida! - ele desligou e pela minha cabeça se passou a imagem dele jogando o celular, com tudo, no chão. Tamanha era a raiva. Felizmente, ele apenas o guardou no seu bolso frustrado. - Temos que ir. - seu maxilar duro. - Temos que ir embora. - me levantei e me aproximei. Ele se afastou.
- Está tudo bem?
- Suas coisas estão lá em cima? Vou lá buscar. - pergunta sem resposta. Ele saiu correndo. Decidi não me importar com sua bipolaridade. Desliguei o fogo, o macarrão já estava pronto. Achei alguma vasilha para pôr, comecei a lavar a louça. - Não precisa. Amanhã vem alguém aqui arrumar tudo. - senti suas mãos em meu braço. Tentei olhar para o seu olho, mas ele desviou rápido demais. - Sua calça está ali se quiser pôr. Vou ligando o carro. - ele saiu feito um furacão. Bufei. Aquilo era frustrante. O mais frustrante era saber que eu não era alguém que ele pudesse falar as coisas.

(...)

- O seu macarrão é bom mesmo... - Chris sorriu fraco enquanto prestava atenção na estrada vazia e escura. A vasilha estava quase vazia no meu colo.
- Vou te deixar em casa tudo bem? - fiz um "uhum" com a boca, decidi não abri-la com medo de falar coisas que não deveriam sair. Se eu pudesse, me jogava ali na estrada. Preferível do que ficar naquele silêncio constrangedor.

Chris não queria se comunicar. Lembrei do Chris de ontem, falando do sente por mim. Se sente alguma coisa de verdade. Mas naquele momento acreditei. Mas também se fosse só sexo que ele queria, já estaria satisfeito. Tinha certeza que ele estava em alta velocidade, minha casa chegou rápido demais. Respirei fundo.

- Desculpa Eva. - olhei para ele - Só me diz que você não vai se afastar. - ri irônica.
- Quem se afasta é você. - peguei minhas coisas e desci daquele carro ridículo. Quando percebi que ele ainda estava ali, me virei. - Você não precisa disso... - apontei para o carro - Para impressionar uma garota. Deixa de ser fútil.

Fuck the Shame - SKAM (*CONCLUÍDA*)Onde histórias criam vida. Descubra agora