Racional

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TARDE DA NOITE

sem uma hora específica

Chris não havia falado nada. E eu não queria ouvir nada. O caminho todo, de carro, eu apenas percebia o calor que se alastrava em Oslo. Percebia o maxilar travado de Chris. Percebia o porta-luvas, onde, gentilmente, ele havia guardado o papel da fortuna.

Chris quase chorou vendo o túmulo sendo enterrado; eu, de modo tímido, segurava sua mão fria, que não fazia a menor força para apertar a minha. Mas eu continuei. Continuei porque era tudo para ele, eu me sentia o tudo naquele momento. Seu pai, Aaron, estava bem na nossa frente, chorando descompensado. Chris falou algo como: " nem sei porque ele está chorando ". Tentei entender aquela frase. Em vão.

Antes, quando estávamos indo para o enterro, ele pode esconder melhor a sua tristeza; agora, parecia ter caído a ficha, ou várias de uma vez, ouvia seus suspiros de vez em quando, mas não olhava para ele. Eu não queria, mas meu pensamentos me levavam a descrevê-lo como um garoto mimado. Mesmo com toda essa história da sua vida, Chris foi sempre acobertado pela vó magnata. Agora com sua fortuna, ele podia virar o magnata mais egocêntrico do mundo.

- Merda... - pela primeira vez olhei para ele, com uma cara de desgosto, apontou com o queixo para o carro de William, em frente à sua casa. Parou colado ao carro e abaixou o vidro. - Vou abrir o portão. - avisou para o William e seguiu até a garagem. Logo que parou o carro, se apressou para tirar o cinto e virou para mim - Você tá muito esquisita.
- To respeitando seu luto...
- Você sequer olha para mim! - arregalou os olhos enquanto falou, logo que viu minha expressão indiferente, revirou os olhos abriu a porta.
- Pensei que ia me chutar daqui... - ouvi William e Chris darem um toque com eco.
- Foi mal cara, tudo muito confuso.
- Eu sei, - botei meu corpo para fora - Hey Eva!
- Oi William - forcei um sorriso.
- Você quer dizer "idiota". - ele sorriu forte, se referindo a mais cedo. Ele parecia estar bem depois de terminar com Noora. Muito bem.
- É idiota... - sorri fraco.
- Bom, e aí? Foi muito difícil?
- Meu, pelo menos eu fiquei com ela nos últimos dias. Foi mais difícil ver a cara do Amish. E meu, eu to livre dele. - William fez cara de dúvida - Minha vó deixou tudo para mim. - eles foram caminhando "animadamente" para dentro e conversando.
- Eu não vou pular o muro de novo! - falei para mim mesma enquanto pensava em ir embora.
- Por que pularia?
- Puta que pariu! - virei para um homem bronzeado e sem mais lágrimas no rosto.
- Desculpe... Eva, não é?
- Sim... - revirei os olhos - Aaron não é?
- Sim, bem... Christoffer está lá dentro?
- Por que você chama ele assim?
- Como?
- Pelo nome todo, nem parece que você é - pai - tio dele.
- E eu nunca fui... - olhei assustada para ele - Nunca estive aqui para ser um tio. - contorci o lábio e assenti.
- E quando você volta para o mundo?
- Amanhã. A única coisa que me prendia eu tinha aqui era ela. - mal ele sabe.
- Eva! - olhei para a porta onde Chris estava. Arregalei os olhos e perguntei com a cabeça o que ele queria. Ele fez um sinal para eu chegar perto com os lábios tremendo. - Cada hora é um diferente! Você vai interrogar toda a família? - ele falou enquanto me seguia pela sala.
- Cala a boca! - me virei com a cara vermelha.
- Oi gente! To aqui! - William acenou do sofá. Bufei forte e me joguei, emburrada, no sofá. Vi Chris passar a mão no rosto e sentar o mais longe possível de mim. - Então... Vou semana que vem para a Inglaterra.
- E a Noora? - escapou, eu juro.
- Ela não liga para mim. - ele falou meio ressentido.
- Ou você é um cuzão! - bufei de novo e me levantei, certa - Eu vou embora.
- Não! - me segurou, gritou, avançou, correu, pediu, não! Suplicou. - Você vai dormir aqui. - olhei para ele, brava. Agora, Chris estava romântico. 1 minuto atrás, estava insuportável.
- Para de mandar em mim! - me soltei da sua mão.
- Eu vou. Agora. - William passou como um vento.
- Não se preocupa que eu logo estou de volta. - ouvimos Aaron chegando. - Tenho que desligar... - ele guardou o celular no bolso e chegou perto de nós. Chris me pegou pela cintura, deixando-nos colados. Eu só deixei porque sabia que ele precisava. - Bom... Vou para o quarto arrumar as malas, amanhã eu parto cedo.
- Qual é o destino? - Chris perguntou, sem empolgação, enquanto eu ainda pensava em quem ele poderia estar falando no telefone.
- Havaí. Estive lá pelos últimos anos. - Chris soltou um "hum" e virou o rosto.
- Então, se cuidem... E sejam felizes! - eu podia rir da situação constrangedora ali instaurada. Aaron não sabia se despedir e Chris tentava conter toda a história dentro da boca dele.
- Que você também seja! - forcei meu sorriso amarelo e abracei ele de surpresa. Mais constrangimento ainda.





- Puta que pariu Eva. - assim que chegamos no quarto dele, ele começou a gargalhar sem parar. Olhei divertida para ele. - "Que você também seja feliz!" - fez a minha voz e me abraçou. Forte. Gargalhei enquanto caíamos na cama.

Chris virou de barriga para cima ao meu lado e fitou o teto, parando de rir.

- Aconteceu tanta coisa hoje... E, - se apoiou nos cotovelos para me ver - Cheguei a conclusão que a minha vida é uma merda. - prestei atenção nas suas bochechas vermelhas e sorri fraco.
- A vida de todo mundo é uma merda, mas tem aqueles que preferem limpar a sujeira todos os dias. - Chris balbuciou algo e caiu de volta na cama - Ele nunca vai saber que é seu pai, não é?
- Não... - riu fraco - A minha vó pensou em tudo. Não precisarei de mais ninguém. - doeu em mim.
- Mas dinheiro não compra tudo.
- Tudo que eu preciso, compra. Estou feliz. - fechei os olhos com força. Não queria ter escutado aquilo - Ah! - ele pulou, se levantando, e foi até o armário. Pegou um terno embrulhado com plástico preto, o qual começou a desembrulhar. - Sexta que vem é minha formatura. - começou a tirar toda a roupa, atrapalhado, jogando cada peça em um canto. Quando terminou, parecia já estar pronto para a festa. O cabelo, bagunçado, estava perfeito para ele. - O que você acha?
- Ahn... M-Muito bom. Quero dizer... - ele veio correndo até mim.
- Relaxa. Eu sei que você tem uma quedinha por mim... - ele sorriu, ainda não era fuckboy, e me beijou. Me empurrou para deitar em cima de mim, depois começou seus beijos suplicantes no meu pescoço e eu, apenas, conseguia soltar sons grotescos por causa da saudade que eu sentia daquilo. Já fazia 1 mês. E me parecia melhor ainda.

Agarrei seu smoking, mas de repente queria tocar seu rosto, não, seus braços, não, seu cabelo. Queria tocar tudo.

Sua mão brincava com a bainha da minha blusa, e eu estava suplicando, mentalmente, para ele parar de brincar e começar a trabalhar de uma vez.

Sua mão fria deslizou na minha lateral quente, fazendo minhas costas arquearem com arrepios. De volta aos lábios, degustava lentamente seu sabor, sua dança corporal.

As mãos ásperas também não sabiam onde ficavam, porque não paravam pelo meu corpo. Mas, de repente, pararam no meu zíper.

Desmoronou.

- Não vou conseguir. - ele jogou o próprio corpo para longe. Na cabeceira da cama, ficou me olhando arfar. - Minha vó não sai da minha cabeça. - compreensível.

Assenti e me levantei.

- Posso tomar banho?
- Óbvio! - se levantou e passou por mim, para pegar duas toalhas - Vou com você.
- Na... - estiquei meu braço para não deixar ele se aproximar - A gente bem sabe o que acontece no chuveiro. - me tranquei antes que mudasse de ideia.

Notas finais
GENTEEEEEE, sdds!
Eu faço bastante capítulos interligados né? Kkkkk
É que eu quero desenvolver bem a história. E se eu esperar para postar um de uma só vez, vocês me matam! Hahahaha
Enfim... Será que agora as coisas vão entre eles?

Fuck the Shame - SKAM (*CONCLUÍDA*)Onde histórias criam vida. Descubra agora