Drama

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- O que?... - eu percorria sua feição confiada e desolada. Suas bochechas estavam rosas como de costume e sua testa estava muito franzida. Seu olho não parava enquanto olhava para mim. Limpei um pouco de tinta que escorria na minha face e fechei os olhos, me preparando para falar.
- Elta! - Cara agarrou meu braço - Temos que ir! - e assim, me afastei dos olhos confusos. Todos cheios de tintas, correndo; corriam como se seus sonhos estivessem perto. Corriam igual animais, selvagens, gritavam, em caça. Ainda invadiríamos a festa e os pacotes de farinha estavam na mão. Cara sorriu para mim enquanto corríamos, ela estava feliz. De longe vi Zu lambuzada de tinta vermelha, abrir os braços em sinal de liberdade. Como se estivesse prestes a voar. Podíamos voar.

Mas eu não queria. Chris estava ali. Meu campo magnético estava ali. Parei abruptamente e deixei a manada passar. Fechei os olhos pensando bem; me virei. A turma rival vinha correndo também, e mais uma vez eu fui contra a correnteza. Chris caminhava lentamente, como um barco de papel solitário, e olhava pela tela do seu celular. Apressei-me para encontrá-lo. Quando percebeu meus passos, estendeu o braço como armadura.

- Nem vem. Você já estragou minha noite! - falou sem se importar e guardou o celular no bolso.
- Como se eu estivesse planejando isso.
- Hã! - ele sorriu irônico - É claro que não. Por que você correria atrás de mim não é? - fechei a cara e engoli a saliva com raiva.
- Você é dramático demais...
- E você é...
- Sou o que Chris? Fútil, sem confiança, sacana, o que mais?
- Posso te chamar de varias coisas...
- Pois é, duas semanas atrás você falava "isso é de verdade, meu sentimento é de verdade" - imitava grotescamente a voz dele - "o que você tem Eva?"
- Aham! E você não falou nada! - ele explodiu e eu fitei o solo - Isso não vai adiantar de nada. - ele passou por mim como um vento. Corri e segurei seu ombro. - Me solta garota!
- Não, você não vai dar as costas para mim!
- E quantas vezes você deu as costas para mim? - revirei os olhos - Saindo da minha casa sem me avisar. Meu Deus aquilo me deixou louco! - era raiva - Eu te procurei por todo canto daquela maldita casa, impedindo o pensamento que você havia me deixado.
- Isso foi a semanas Chris!
- E daí?! - sua mandíbula estava trancada - Ah! Me expulsando da sua casa, isso foi realmente um vacilo. - me irritei.
- E olha quem continuou correndo atrás de mim? - quase cuspi na sua cara.
- Pois é, e olha onde você está agora.
- Você tem razão. Isso não resolver nada. - dei as costas e quase corri para fugir dali.
- Mais uma vez fugindo... - levantei meu dedo do meio com força para ele. Marchei pisando duro para o galpão.

                                3:07

Pulávamos ao som de Psyco Killer. Eu não havia bebido essa noite, mas Cara sim; e para mim e Zu, era diversão a beça. Elas não haviam pegado nenhum menino ainda, então estávamos juntas dançando. Percebi olhares para mim. Chris. Ele estava encostado em um parapeito de um tipo de varanda no segundo andar. Lá, tinha visão completa do espaço, de mim. Percebi uma garota loira se esfregando nele por um tempo, vi que ele não estava afim, mas deixou ela beijar seu pescoço. Engoli em seco e me concentrei no outro olhar. A pele negra dele brilhava e seu sorriso para mim era branco como as nuvens. As meninas pareciam conhecê-lo e o chamaram para dançar com a gente. Ele segurava um copo de bebida na mão e dançava fluindo a música. Olhei de relance para Chris, já sem a loira, me encarando.

- Seu nome? - falei sobre a música e ele se aproximou do meu corpo. Seu perfume era bom.
- Max. Você... Elta! - sorri - Você é bonita.
- Você também. - ele sorriu e agradeceu. Ele pegou minha cintura e eu estranhei. - Vamo ali no canto? - ele era bem rápido, mas Chris estava olhando. Fomos.
- Seu perfume é... - percebi ele tirando um papel do bolso. Uma nota fiscal. Ele me entregou a mensagem: "não sou dramático, sou realista." Revirei os olhos e olhei com raiva para Max. Ele fez sinal de defesa com os ombros.
- Chris é como se fosse universitário, conhece todo mundo daqui. E eu sou gay. - ele saiu me deixando ali sozinha. Olhei para onde ele estava, mas ninguém estava ali. Bufei e voltei para Zu e Cara.
- Você! - Zu me abraçou - Estou muito cansada. Vamos lá pra fora. - assenti e depois puxamos Cara a força.
- Ainnn! Não consigo ficar parada. Vamos voltar. - ela pulava enquanto eu e Zu estávamos sentadas em um amontoado de palets.
- Cara! Se aquieta.
- 15 minutos e voltamos.
- Vocês conhecem o Chris? - elas se entre olharam não entendendo o tiro que eu acabei de dar sem avisar - Penetrator Chris.
- Ahhh - em uníssono - Ele é doidão. Quer dizer, era... - Cara falou sem se importar.
- Como assim?
- Depois que ele descobriu que a vó...
- Pensei que vocês eram minhas amigas. - o bochecha vermelha apareceu com um cigarro na boca.
- Pensei que você não tivesse amigas. - disparei sem pensar. Todos olharam para mim e eu fitava meu sapato.
- Elta... Você conhece o PC? - fitei Cara e depois Chris, arregalando para ele.
- Ev... - ele sorriu maldoso. Estreitei os olhos.
- Eva? Eva? - Zu me encarou - Eva!
- Você é a Eva? - Cara me indagou, mas logo foi arrastada por Zu.
- Vamos deixar isso aqui... - elas me deixaram sozinha com ele. Revirei os olhos para o nada e cruzei meus braços.
- Parabéns, você é quase um universitário...
- Na verdade eu sou mesmo. Falta menos de um mês para eu me formar. 
- Para de ser tão irritante pelo menos um segundo?! - ele bufou junto comigo e se sentou de frente para mim em alguns palets. Tragou um pouco daquela fumaça. - Isso é nojento! - ágil, peguei seu cigarro e joguei-o no chão, depois pisei, o amassando. Ele ficou me encarando e eu odiava isso.- O que a sua vó tem? - eu estou dando muitos disparos hoje.
- Câncer.
- E você está em uma festa? Fumando?
- Não tem nada a ver! Passei esses últimos dias só com ela. - pela primeira vez olhei para ele.
- Você está bem?
- Compaixão dona Eva?
- Cala a boca!
- Certamente não. - revirei os olhos e ele fitava seus joelhos, passando a língua nos lábios - Eu descobri na noite em que você foi comigo pro hospital.
- Você brigou por causa dela também?
- Principalmente.
- Eu acho que você arranjou muitas causas para brigar aquela noite.
- Eu sei. - ri olhando para o nada e ele me fitou.
- Primeira vez que você me conta algo pessoal.
- Também... Depois do seu chilique daquele dia!
- Como se você não tivesse dado um também e ainda, dramaticamente, entrou no carro, cantou pneu e me deixou na chuva. - ele se levantou, se aproximou. Sua mão em minha bochecha, seu hálito de cigarro. Me afastei, ele não entendeu - Eu não suporto cheiro de cigarro. - ele revirou os olhos.
- PC! - olhei assustada para trás. Um gordo cheio de corrente no pescoço estava suado e sorridente - Cara está tendo uma briga épica com Glen... - nem ouvi, sai correndo.

Todos estavam em volta delas. Cara e uma japonesa. Fui me esgueirando até chegar na boca do problema. Do jeito que estava, as duas sairiam carecas dali. Olhei para Zu que me olhou sem saber o que fazer. Me meti no meio.

- CHEGA! - tentei afastar, mas a japonesa veio para cima de novo. Para cima de mim.

Dei um empurrão na sua barriga, fazendo ela se afastar. Ela veio de novo. Levantei meu joelho na altura da sua cabeça, estava prestes a dar o chute quando Chris e mais alguns garotos a varreram dali. Meu queixo caiu ao ver aquilo. Por que ele fez isso?

- Sua pirralha! - ela gritou.
- Melhor ser pirralha do que piranha! - eu não conhecia ela, mas ela brigou com Cara. Ninguém, nunca brigava com cara.
- Vamos embora! - Zu me puxou e eu fui atrás.

- Da para vocês me esperarem? - elas quase corriam na minha frente.
- Odeio mentira. - Cara ainda estava bêbada.
- Eu posso explicar!
- Então explica! - as duas viraram de repente, eu quase me choquei com elas. Respirei fundo, me recompondo.
- Eu só queria deixar de ser a Eva. Por um momento. - elas se entre olharam e depois me olharam com um olhar de mãe.
- Vem aqui pirralha. - nos abraçamos - A gente entende. Só fomos encontrar amigas de verdade na faculdade.
- Mas eu tenho amigas. - não quis falar mais nada para não haver enrolação - E agora eu tenho mais duas.
- Você ainda é Elta para nós. - Zu me abraçou e assim como até seu carro. - Então você é a Eva que laçou PC.
- Oi? - eu gargalhei.
- Dizem que ele parou de ir nas festas por causa da vó e de você. - revirei os olhos.
- Não, só por causa da vó mesmo.
- Nem adianta... Você é a garota clichê que muda a vida do garoto.
- Cala a boca Cara!
- Como eu disse... Ela é bem mais querida quando está bêbada.

Notas finais
Na hora em que eles correm como se estivessem libertos, imaginei a cena de divergente quando a Tris entra na audácia.

Fuck the Shame - SKAM (*CONCLUÍDA*)Onde histórias criam vida. Descubra agora