Hugo Crawford
Não bastava uma noite horrível de horas a fio sem conseguir atinjir o sono que necessitava e que cada vez que fechasse os olhos sentisse os ponteiros de um relógio ressoarem um fino barulho indicando que o tempo que eu ganhava era o mesmo que pedia.
Que um segundo era tempo o suficiente para uma bala atravessar o crânio do meu Éden e que meu paraíso a partir dali seria só fruto de uma mente frustrada.
E mais tardar quebrada irrevogavelmente se os ponteiros fossem péssimos companheiros.
Quando eu gritei o nome de Fred sem resposta eu sabia que sim o ponteiro era e que também, não bastava.
- Vicente - Disse colocando os pés no chão encurtando a pequena distância de minha cama a sua e chacoalhando com a força proporcional ao desespero.
Sim, eu era só a sombra do homem tranquilo que já fui, o que nessa situação é mais que compreensível...
Assim, pode-se ter uma básica idéia de que o rapaz quase voou da cama ao chão em poucos segundos.
- Qual a desculpa para estar louco? - Foi o primeiro que indagou quando tampou seus olhos do sol que entrava pela janela que nunca fechei.
- Fred sumiu.
Até então o semblante de Vicente que se encontrava irritado, o que era evidente pela testa retesada, começou a atenuar conforme sua mente começava a trabalhar tão cedo da manhã.
- O que você...
- Fred sumiu - Interrompi para dizer e ele passa as mãos nos cabelos antes que no próprio rosto.
- Pode ter simplesmente só ido comprar comida, já verificou - Por ter acordado já atordoado nem mesmo isso me passou pela mente então acabei por sair de seu colchão e simplesmente me guiei até a porta saindo pelos corredores de ladrilho cinza.
Os passos ecoavam pelo espaço devido ao fato de estar vazio, porém permaneço em frente até atingir as escadas onde desço três andares até a cozinha em polvorosa pela hora do café.
Um salão enorme demais era tudo que via a frente sem falar em toda a desorganização que ali imperava.
O jeito foi buscar canto por canto, mesa a mesa, até constatar que não havia nada, menos Fred.
- Quanto tempo mais pensa que preciso para provar que Fred não está na porra do hotel? - Vicente assentiu em concordância e finalmente consegui leva-lo a fora do Plaza hotel.
Dali conversamos com os responsáveis pelo serviço de táxi e fomos informados que o rapaz que batia com a descrição de meu filho simplesmente havia tomado um carro endereçado a Medellín sin Tugurios, bairro que já foi palco do conflito armado entre o Cartel de Medelín e de Cali a tantos anos atrás, hoje ao que parece era território de uma entidade mais discreta e profissional ao molde da idealização italiana, ficou latente assim que pisamos no local.
Não lembrava em nada qualquer imagem que pensávamos quando pisamos nas ruas pouco cuidadas, as pessoas não andavam em demasia nas ruas mas a que o faziam tampouco estavam assustadas.
A certa maneira aquela sucessão de imagens lembrava muito as favelas brasileiras que só vira pelo documentário com exceção da tranquilidade que ao invés de atenuar qualquer coisa mais atrapalhava.
Eu lidava bem com o silêncio, pois este só fazia o tique-taque mais audível.
Não pode ter acontecido...
Nem a ela nem a Fred.
- Pensa ser uma boa idéia nos dividirmos? - Vicente me tira do meu transe e eu apenas aceno com a cabeça.
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O pecado de Hugo
NezařaditelnéHugo Crawford, de 35 anos, tem em si os sete pecados conhecidos e a partir deles criou uma barreira intransponível para tudo, pensava, até Eva Bovoir. Desde que seu olhar parara na jovem, de 17 anos, o magnata soube que não poderia mais voltar atrás...