La Quimera

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Angel Mondragón

Quimera
substantivo feminino
1. Monstro mitológico com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente .

Ao nascer no seio da maior máfia da Colômbia tem-se um único ensinamento: Para ter sucesso o indivíduo deve ser como uma Quimera;

Forte como um leão, sereno como uma cabra e veloz como uma serpente.

Tudo além disso era parte de um código de honra pessoal como o que eu me estabeleci: Ao matar por vingança devia-se utilizar a última arma de quem foi morto, pois assim, só assim a pessoa estaria devidamente honrada, como se tivesse sido pela mão dela mesma pois fora por sua arma, um bem inestimável na máfia.

Sempre respeitara meu principal ensinamento e esse código, já que são o que me movem a matar e estar vivo... até hoje.

Parecia absolutamente perfeito de acordo com o tipo de confronto que idealizei, algo indireto sem que saiba exatamente o que aconteceu já que de todas as mortes a que me dá mais satisfação era a que gera a surpresa, a que não dá tempo da pessoa sequer reagir, respirar.

A mirada de incompreensão nos olhos bem abertos, as bochechas coradas perdendo a cor, a boca vacilando aos poucos e por fim a expressão retorcendo-se inteira.

Entretanto, houve só um pequeno imprevisto: Eu não respeitei o código.

Para que alguém fosse sereno era necessário que quando se tivesse de usar força e velocidade mantivesse um pensamento claro , de todas as características em alguém que retirava vidas como em quem as dá era necessário entender que era a mais importante, pois era a capacidade de se manter sereno que irá definir no momento crucial a morte ou a vida.

No meu a morte.

Parecia infalível o que me aprontei para fazer: Entregaria uma quantia em dinheiro ao recepcionista só pelo prazer de que ele enviasse as pessoas do quarto em frente um delicioso presente: Vistosos e irrecusáveis camarões com um molho especial: Arsênico, mas só o suficiente para causar turpor por tempo o suficiente para que a menina estivesse desprotegida.

Estava ciente que com três homens seria simples somente tocar a porta e explodir cabeças, porém coloquei por entre o código pessoal que por causa daqueles olhos não poderia ser simples.

Ela exigia mais de mim, nesse aspecto estava disposto a ceder elaborar.

Tateei a foto que peguei ao esticar o braço até a cômoda uns segundos, nesse momento me encontrava acima do edredon fino europeu, pois fora das poucas coisas que se encontrava inteiro no quarto.

De resto, a suíte era um amontoado de tudo que representaria um residencial: Cortinas douradas rasgadas e jogadas sobre o carpete felpudo junto a pedaços de vidro e o líquido das garrafas que arremessei, cadeiras reviradas, gavetas desencaixadas penas de travesseiros caros por todos os lados e um quadro feminino com uma bala no meio da cabeça, sabia que a qualquer momento serei expulso e muito possivelmente terei de pagar pelo feito mas nada é muito perto de trair o ensinamento.

Já que assim que a menina estivesse sozinha eu acompanharia sua feição de terror enquanto o rapaz agonizasse em sua frente e então se encheria pela angústia de saber que na verdade era sua culpa e somente sua e quando nenhuma emoção mais a fizesse tão fraca estaria para ela a surpresa...

Talvez fosse a surpresa o sentimento mais avassalador de um ser humano, mais que o amor ou o ódio, pois eles eram dois que só poderiam ser um e a surpresa era um que pode ser dois.

Pode ser a felicidade de quem recebeu um presente inesperado ou o choro instantâneo congelado no canto do olho ao saber de uma morte, mesmo a sua.

O pecado de Hugo Onde histórias criam vida. Descubra agora