Caleb

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Caleb

Cheguei em meu apartamento me arrastando, Minhas costelas doiam muito, os nós dos meus dedos estavam em carne viva e ardiam.

Me debrucei no balcão da cozinha, puxei o pano de prato, embebi em sal e vinagre, grunhindo por sentir o vinagre escorrer pelos mes dedos e encostar nos ferimentos, as lágrimas voltaram a escapar dos meus olhos provocado pela dor. Já bati e já apanhei, mas nunca com tanta intencidade, na época da adolecencia era como dar soco no ar, não queria acertar e não queria receber, mas desta vez foi bem diferente.

Me sentei no sofá, tirei a camisa lentamente, minhas costelas do lado direito estavam roxas, peguei o pano com calma e encostei nas costelas e deitei para descançar, mesmo sabendo que devia me levantar e tomar um analgésico.

Fechei os olhos e tive que abri-los imediatamente, a imagem de Audrey desacorda me deixava em pânico.

- Para... Para... Se continuar vai enlouquecer. - Disse para mim mesmo não suportando aquelas imagens na minha cabeça, a reanimação, a palidez em seu rosto, a constatação da pequena rachadura no cranio de Audrey.

Me sentei com dificuldade, bufei cansado, precisava dormir, eu tinha aula no dia seguinte, precisava estar inteiro para isso.

Me arrastei para a cama, tomei dois analgésicos e me deitei. A adrenalina da emoção e da ação começou a baixar, meu corpo além de dolorido passou a tremer, puxei a coberta e acaei dormindo com a roupa que estava, não troquei, não tomei banho, não tinha animo para isso.

Meu sonho foi desordenado e confuso, eu sentia frio e calor, eu brigava com Richard o tempo todo, ele aparecia então rolavamos pelo chão novamente.

Acordei com meu pai segurando a minha mão e com a outra secando o suor da minha testa com o lenço.

- Você está com febre. - Ele disse sorrindo triste.

- Aconteceu alguma coisa com Audrey? - Pisquei várias vezes tentando saber se aquilo era sonho ou realmente estava acontecendo.

- Ela está bem, vai ter alta dentro de algumas horas. - Ele soltou minha mão puxando o ar com força. - Você nao foi para a aula, não ligou para sua mãe, ela pediu para eu vir aqui.

- Como sabem que não fui para a aula? - relaxei na cama, estava dolorido.

- Sua mãe ligou para Samantha.

Desviei o olhar para o teto.

- Suas mãos estão muito machucadas, você se preocupou com Audrey e não se preocupou com você. - Papai se levantou, pegou o banquinho que estava num canto e trouxe para perto, se sentou apoiando os cotovelos nos joelhos e me olhou. - Devia ir ao hospital, ver se está bem, voê está com febre e em vez de pedir ajuda, sentindo que está ruim, se jogou na cama.

- Pai...

- Não sei se eu devia te dar uma surra ou te abraçar. - Papai passou os dedos nos olhos. - Você arriscou a vida por sua prima, somos gratos por isso, Caleb. Sua prima está bem, se recuperando. Mas não pensou no perigo que estava correndo... E se ele estivesse armado? e se te golpeasse com algo e te ferisse mortalmente... Agora seria eu e sua mãe chorando por ter perdido você.

Respirei fundo, sabia que ele tinha razão, mas já tinha acontecido, eu estou em casa apenas sofrendo pelo resultado de uma briga.

- Estou bem... - O encarei. - É sério, eu estou bem.

- Mas eu não estou, sua mãe não está... Estamos todos preocupados com você e não sei se esse seu romance com Audrey vai te levar para algum lugar, até tempos atrás não disse nada, fiquei quieto, deixei que vocês se entendessem, mas não estou seguro...

- Pai... Há... - me sentei com dificuldade, minhas costelas agora doiam mais que antes, relaxei acomodado. - Não quero que se preocupe... Não vou mais atrapalhar a vida de Audrey, ela vai me esquecer com o tempo, você vai ver.

- Eu não estou preocupado com isso, não estou preocupado com Audrey, são os pais dela que tem que parar aquela locomotiva. Estou preocupado com você que é um rapaz sentrado, tem levado uma fama de Don Juan. Seu descontrole tem trasido alguns intentemperes para te desviar do caminho que você escoleu.

Quis protestar, ele levantou a mão pra me calar.

- Estou falando e vai me ouvir, depois você diz.

- Está bem. - Concordei.

- Caleb! Você está na flor da idade, conseguiu o que muitos não conseguiram, adiantar-se nos estudos, entrar de primeira na universidade de medicina, em Harvard... Pense em quantos garotos queriam estar em seu lugar. - Papai me olhava aflito, entendia o que ele queria me dizer. - Aproveite a vida, estude, seja um médico dedicado como você demonstra ser. Deixe para pensar em envolvimento mais tarde... e se Audrey é a mulher que você deseja, então espere ela crescer, amadurecer e se tornar uma mulher sentrada, sem essa explosão de emoções que ela tem. Amo Audrey, ela é inteligente, será uma ótima administradora, mas o que falta nela e o amadurecimento.

- Entendi o que quis me dizer, obrigado, pai. - Segurei em sua mão. - Eu amo Audrey, mas percebi que eu faço mal para ela, não vou mais procura-la, vou ficar no meu canto, estudar e me formar.

- Faça aquilo que seu coração manda, Caleb... Mesmo eu dizendo que não acho que este é o momento para ficar com ela se acha que é obrigado por se sentir responsável por tudo o que aconteceu. Pense com a cabeça.

Apenas concordei com a cabeça, papai me fez me levantar, tomar um banho e ir para casa com ele, não tinha o porque ficar no apartamento se não conseguia nem andar direito.

TODO MEU (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora