Quando o mundo vira de cabeça pra baixo e as coisas mudam completamente é difícil pensar. Meus pensamentos estavam embaralhados, procurava por algo que não encontrava. Eu sabia que tinha algo de errado que não estava percebendo e tentar encontrar isso estava me deixando maluca.
Estava encarando os meu tênis quando o sinal tocou. Era hora de ir pra casa e eu ainda não tinha visto o Nien, o que foi bom.
Eu acho.
Sem o Nien eu era uma qualquer, sem cor, vagando entre todos os outros. Quando estava sozinha ainda conseguia ser eu, mas sem vida, sem alegria, vivendo em um mundo totalmente preto e branco.
Metade daquelas pessoas nem se importavam para as minhas olheiras, ou pelo meu cabelo desarrumado. A outra metade me olhava torto pelo mesmo motivo.- Só quero chegar em casa, só quero chegar em casa - repeti para mim mesma em voz baixa.
No meu quarto, com as minhas lágrimas eu resolveria.
E então ele apareceu...
Estava encostado em seu carro, com seu sorriso insano intacto.
Era só eu que sentia falta.
Passei por sua frente e foi como se eu fosse invisível, até virar o rosto ele virou.
Cretino.
Minha cama andava mais convidativa do que o normal esse dias, então só me joguei nela e permaneci por lá o resto do dia.
Sua janela não se abriu, nenhuma mensagem, nenhum sinal de que sentia minha falta. Talvez aquela fosse a hora de não sentir a dele também. Será que ser sua amiga não bastava? Estar ao seu lado não bastava? Por que ele continuava fazendo aquilo? O que eu tinha feito a ele?
Lágrimas escorreram pelo meu rosto e naquele momento não fui forte o suficiente para segura-las.
Tranquei a porta e surtei.
Os livros que ele tinha arrumado dias antes estavam novamente no chão.
A luz do seu quarto se apagou.
Ele não se importava.
E então sentei no chão deixando as lágrimas transbordarem toda a dor que eu tinha por dentro. Minhas unhas percorriam pelos meus braços deixando várias marcas vermelhas. Eu queria tirar a dor do coração, mas nada funcionava.
Eu estava em crise.
Parte de mim quis morrer naquele momento e então percebi o quão egoísta eu fui só de pensar nisso. Minha mãe só tinha a mim, e percebi naquele momento que eu só tinha a ela, apenas a ela.
Deitei na minha cama e por um milagre adormeci, até acordar ao meio dia do dia seguinte.
Minha mãe pareceu perceber meu estado. Não reclamou por eu ter perdido aula, nem da bagunça que estava no quarto. Passava em no máximo de duas em duas horas para me oferecer comida.
Eu quase nunca aceitava.
Eu estava sem comer a quase vinte e quatro horas. Já era domingo de novo e eu não tinha colocado o rosto para fora do quarto. Meu cabelo estava pior do que pensava e comecei a aparentar desidratação.
Como eu era fraca.
Por isso minha mãe se encarregava de a cada uma hora me trazer algo pra beber, já que tudo que eu tentava comer era colocado pra fora em dois segundos.
Ela insistia em me levar ao hospital, mas eu não estava doente. Eu sabia exatamente o que eu tinha e a cura definitivamente não estava em nenhum hospital.
- Mas Eny são quatro dias assim, você não pode continuar com isso. - ela acariciava minha cabeça e percebi que aquilo não me acalmava mais.
Algo tinha mudado.
- Eu estou bem.
- Não, não está filha. Me deixa cuidar de você.
- Você já faz isso, não se preocupe.
- Vou conversar com o Nien.
- Não ouse - a encarei com um olhar de súplica - eu vou melhorar, prometo.
- Quero a senhorita de pé amanhã para ir para a escola, ou eu vou resolver isso.
- Pode deixar - forcei o maior sorriso que consegui.
Foi então que percebi: ele está bem, aparenta está maravilhoso sem mim e por qual motivo tenho que ficar mal por ele?
Levantei e me olhei no espelho. Realmente estava bem feia a situação, mas era hora de mudar. Era domingo e a noite se aproximava. Eu sabia onde ele iria está...
- E você vai está lá também.
Falei sorrindo e encarando o espelho. Até eu tive certo medo daquele sorriso.
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"Eu estou bem."
Mystery / ThrillerO sonho de toda garota é viver um romance, o de Eny Clar é apenas não viver o drama que é sua vida. Quando criança Eny perdeu o pai e um ano de sua memória em um acidente de carro, mas conheceu seu melhor amigo pela segunda vez. Até então aquilo par...