Capítulo 6

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 Aquele era o único lugar em que não íamos juntos. O domingo era o dia de passar a noite vendo minhas séries e a noite do Nien se divertir na balada, como costumava dizer.
 

Ele não gostava que eu fosse lá, não por querer ir sozinho, mas por querer me proteger sempre. Aquele lugar era um ninho de cobras e eu era frágil demais para está ali, ou ele achava que eu era.

 Quando me viu indo até o bar no minimo estava se perguntando como eu tinha entrado. Ainda era de menor, mas nada que alguns contatos não resolvesse. Nem falei nada, só passei pelo segurança sorrindo. Era um conhecido de um conhecido e por aí vai. 

Não me senti nada bem em estar ali, mas não importava. A cara do Nien quando me viu fez todo o esforço valer a pena.

- Eu te pago uma bebida - um cara estranho se aproximou.

 Quando virei e me encostei no balcão percebi que o Nien não tirava o olho de mim.

 O sorriso foi inevitável.

- E eu aceito - sorri.

 Quando finalmente o olhei meu queixo caiu.

 Benett, o queridinho de todos e principalmente de todas.
 

Ele me ofereceu a bebida e tomei em um gole só, acabei decidindo que não tomaria nunca mais.

 Eu detestava ingerir álcool.

 Ele sorrio e me puxou para dançar, então eu fui. Em cada passo que dava até aquela pista de dança pude sentir o olhar de reprovação do Nien e isso só me deu mais coragem para o acompanhar.

 Dançamos uma música atrás da outra.
No intervalo entre as músicas o Benett falava coisas no meu ouvido, coisas as quais eu ignorava, nem ao menos ouvia, estava focada apenas na frustração estampada no rosto do Nien.

 O gosto da vingança é amargo e doce ao mesmo tempo e naquele momento eu não sabia qual sabor preferia. Eu o ignorava, mas ele ainda era mais forte que eu. Esperava que eu o obdecesse, que largasse o Benett e fosse atrás dele.

 Mas coisas mudaram querido amigo e como diria o famoso meme "parece que o jogo virou não é mesmo?"

- Que tal sairmos daqui ? - Benett sussurrou em meu ouvido.

 Concordei, afinal, era o Benett, nada de mal aconteceria.

 Quando finalmente saimos do barulho ele me puxou e me beijou.

 Okay, retribui, não era ruim, não era nada ruim.

 Até que as coisas foram esquentando, mudando de direção. Sua mão estava boba demais e quando tentei recuar ele me impediu.

- Benett, eu não quero - falei tentando me afastar.

 Ele sorria. Como se aquilo fosse apenas um jogo pra ele, como se não me ouvisse.

- Eu falei que não quero. - me afastei o suficiente para ele me largar. Tentei demonstrar em minhas expressões faciais o quanto não queria, mas ele não estava afim de entender.

- Ah não vem com esse jogo princesa, vai se fazer de difícil agora ? - ele sorrio novamente e me puxou pela cintura com certa força.

Naquela altura eu já podia ouvir o meu próprio coração de tão alto que ele batia.

- Eu estou falando sério, me larga - falei em um tom firme, mas cheio de medo.

- Não me faz ter que te machucar garota.

Sua voz ficou mais grave e forte.

Ele estava jogando um jogo no qual pretendia ganhar, não importava as condições ou as regras.

- Me solta Benett - gritei apavorada.

Ele não estava ouvindo, ou estava fingindo muito bem. Enquanto segurava meus pulsos contra a parede continuava descendo seus beijos nojentos por meu pescoço. A essa altura as lágrimas já estavam perto de vir. - me solta - falei novamente, o que foi quase um sussurro.

- Não está ouvindo a garota ? - uma voz ecoou e eu a conhecia muito bem.

 Nien.

Benett ergueu os olhos apenas para ver se realmente tinha alguém ali, mas aquilo pouco importava.

- Não atrapalha garotão, vai procurar o que fazer.

 Estava escuro demais, ele não reconheceu a voz do Nien, mas eu sabia que era ele.

- Solta a garota - sua voz ecoou mais alta, ele se aproximou e finalmente pude ver seu rosto.

 Então meu peito começou a arder e eu percebi que tinha esquecido de respirar.

 Respirei fundo.

- Ahh então é o salvador da pátria - sua voz era puro sarcasmo e seu sorriso não perdia em nada, então ele apertou ainda mais o meu pulso.

 Juntei todas as forças que me restou.

- Me larga seu idiota - chutei entre suas pernas e ele pendeu pra trás de dor, mas não me soltou - eu sei me cuidar sozinha - me voltei para o Nien e meu olhos encontraram os dele.

 Ele sabia que não era verdade, sabia que meus olhos mentiam, ninguém me conhece melhor que ele.

- É a última vez que falo - ele continuou me encarando - solta a garota.

- Vai procurar o que fazer grandão - falou com certa dor na voz, ainda estava se recuperando do meu pequeno presente. - e você... - ele puxou meu cabelo, o que me arrancou um grito agudo.

 Antes que podesse terminar ja estava no chão. Nien tinha o derrubado e estava o batendo como nunca vi fazer com ninguém.

 Me desesperei.

 Gritei para que parassem, tentei separar os dois, pedi ajuda aos gritos, mas nada adiantava. A briga só acabou quando o Benett estava desacordado e o Nien com um olho roxo.

- Pro carro - ele levantou e me encarou - agora.

 Estremeci com seu tom de voz, mas não ia demonstrar a ele.

- Você não manda em mim Nien - o encarei.

 Eu queria dizer que sentia sua falta, que estava doendo. Queria dizer muito obrigada por me ajudar como sempre, mas só conseguia ser aquilo naquele momento, uma pessoa com uma pedra no lugar do coração.

 Ele não respondeu, apenas agarrou meu braço e me arrastou até o carro. Ignorou todos os meus gritos e todas as tapas que dei.

 Ele também tinha uma pedra no lugar do coração.

 Quando chegamos no carro ele abriu a porta e me encarou. Não era um convite para entrar, era uma ordem e eu - infelizmente - obedeci.

"Eu estou bem."Onde histórias criam vida. Descubra agora