Capítulo 22

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 Era tarde da noite quando resolvemos dar uma volta, estávamos os dois sem sono e o nosso lugar era o ideal para olharmos as estrelas.

 Sentamos na grande pedra, como de costume e ficamos em silêncio. O som do vento, dos pequenos grilos e nossa respiração era a única coisa que pairava ao nosso redor, até que simplesmente nos encaramos por alguns segundos, sorrimos e nada mais existia, por um momento nada mais importava. Impulsivamente nos aproximamos e quando percebemos estávamos nos beijando. Aquilo foi muito estranho. Até hoje não sei como explicar como aquilo aconteceu, mas aconteceu.

 Quando finalmente resolvemos nos encarar, lá por depois do quarto beijo, nós simplesmente caímos na gargalhada, feito dois idiotas.

- Isso foi... - ele falou ainda rindo

- Estranho - completei tentando parar de ri.

- Ah mas não foi tão ruim, eu beijo muito bem, admita capitã - ele me encarou com um olhar malicioso, erguendo as sobrancelhas várias vezes por alguns segundos.

 Só consegui ri ainda mais.

- Não se ache tanto, Nien. Saiba que já fiquei com garotos que beijam bem melhor que você - Joguei o cabelo sorrindo.

- Noooossa capitã - ele fingiu enfiar uma faca no peito e se jogou para trás - essa foi para matar - falou com uma voz rouca.

- Deixa de ser idiota - sorri e dei um tapa de leve na sua perna.

- Não dá - ele falou levantando - nasci assim, é um dos meus charmes - então jogou o cabelo que escorria por seu rosto e sorrio.

- Trouxa - revirei os olhos sorrindo.

 Depois desse dia, toda vez que eu o chamava o xingava, ele falava a mesma coisa:

"Sou irresistível capitã, nem você resistiu."

E nós ríamos muito, muito mesmo.

~

 Eu sorria feito idiota ao me aproximar da grande pedra, até que percebi que já havia alguém por lá.

 Droga.

 Eu estava perto demais, tinha que sair de fininho para que a pessoa não me notasse.

 Essa era minha ideia.

 Mas quando dei de costas pisei em um galho e fez barulho.

 Merda!

- Quem ta ai? - a voz ecoou por entre as árvores e vi alguém levantar da pedra.

 Eu conhecia aquela voz.

 Mas permaneci calada na esperança de que a pessoa pensasse que era apenas um animal, mas o voz ecoou novamente.

- Eu sei que tem alguém ai, apareça.

 Respirei fundo. Tudo que eu queria era ficar sozinha.

 Missão incompleta, como sempre.

- Me desculpe - falei saindo do escuro, indo até onde a lua cheia pudesse iluminar meu rosto - eu não sabia que tinha alguém por aqui à essa hora.

 Ele se aproximou com os olhos semi cerrados.

- Você é a moça da queda de hoje mais cedo não é?

 Dei de ombros.

- Você está me seguindo? - Ele perguntou colocando as duas mãos na cintura.

 Por um momento quis ter raiva, por que eu estaria o seguindo? Mas então consegui sentir o tom de brincadeira na sua voz e sorri.

- Ah claro, estou sim. É que eu estava pensando se você não poderia esbarrar em mim de novo amanhã, é que eu gosto bastante de cair sabe?! - Entrei no jogo.

 Sorrimos juntos.

- Acho que a balada não estava tão boa hoje - ele olhou para a minha roupa.

 Impulsivamente, baixei um pouco o vestido e percebi o quanto ele ficou constrangido com o que eu poderia estar pensando dele.

- É, eu não gosto muito de baladas - sorri de leve.

 Ele ergueu uma das sobrancelhas, confuso.

- Aí você se pergunta o motivo de eu ter ido a uma sem gostar? - o encarei e ele assentiu - Precisei pegar algo lá - olhei rapidamente para a minha mão, onde estava a carta.

- Ah - ele olhou em direção a carta e assentiu, mas ainda parecia confuso. - Então o que faz por aqui?

- É... - encarei o chão.

- Ai meu Deus - ele arregalou os olhos - você vai encontrar alguém? - rapidamente ele pegou o casaco que estava na pedra - Eu to atrapalhando, que droga, me des...

 Chacoalhei as mãos no alto para que ele parasse de falar.

- Não vou encontrar ninguém - sorri - relaxa.

 Ele suspirou, aliviado.

- Ufa.

 O vento soprou mais forte e eu pude sentir um arrepio do frio que fazia.

 Encolhi os ombros rapidamente.

- Está frio aqui - ele falou e quando percebi, ele já estava perto o suficiente para envolver seu casaco em meus ombros.

- Não precisa, eu...

 Ele me encarou com o indicador colado aos seus lábios.

- Você precisa mais do que eu com esse vestido.

 Sorri agradecendo

- Eu vou indo, acho que você quer ficar sozinha.

 Assenti.

- Boa noite - Ele falou e pude o observar sumir por entre as árvores.

 Finalmente eu estava sozinha.

"Eu estou bem."Onde histórias criam vida. Descubra agora