Capítulo 3

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Sabe quando você é criança e sua mãe deixa você sair pra brincar na chuva é você se sente tão feliz porque ela nunca deixou antes por medo de você adoecer?! Era assim que eu o Nien nos sentíamos todos os dias de chuva, como crianças.

- Você nunca vai me pegar - gritei sorrindo.


Estávamos correndo pelas ruas feito crianças que finalmente encontrou a liberdade. Aquilo era incrível.
Quando ele me alcançou, me agarrou por trás e me girou no ar. Rimos feito idiotas juntos e até quase fomos atropelados. Sorte que ele foi mais rápido e se jogou no gramado junto comigo.

- Você é maluco - gargalhei e me deitei ao seu lado.
-Sério que percebeu isso agora ?

Rimos até nossa barriga doer e então veio o silêncio, o silêncio que eu tanto odeio.

- Preciso te contar uma coisa - ele virou de lado para me olhar e seu sorriso se desfez.
Eu sabia.

- Conta logo - o olhei nos olhos.

Eles continuavam perdidos.

- Precisamos nos secar antes - então ele forçou um meio sorriso e levantou se oferecendo para me ajudar.

Aceitei sua mão e levantei.

- Se chegar por último... - antes de terminar ele correu.
-Seu cretino - corri sorrindo atrás dele , o mais rápido que consegui.

Ele correu até a varanda de sua casa e sentou no nosso banco de balanço tirando as sandálias.
Aquele banco era especial, eu e ele ajudamos o meu pai a construir. Eu não lembro, mas ainda assim é especial.

- Ta devendo uma massagem capitã - mais um sorriso insano.
-Cretino - revirei os olhos e sentei ao seu lado - mas... como você sabe, eu sou a capitã aqui. - ergui as sobrancelhas o encarando.

- Isso não muda a regra - ele me empurrou com o ombro.
- Não é justo, as regras foram criadas por você - Revirei os olhos e cruzei os braços.
- E aprovadas por você, gatinha - ele apertou meu nariz e sorrio.
- Não me chama de gatinha e agora está desaprovado, mude suas leis e eu penso se aprovo - mostrei a língua.
- Tenho uma capitã muito madura - ironizou e sorrio.
- Se mata Nien - revirei os olhos.
- Ai meu Deus, ela quer me ver morto.

Sua voz de drama era engraçada e isso me arrancou algumas gargalhadas.

- Não ouse morrer, Nien Stiu.
-Não ouse pedir isso, Eny Clar.

- Eu sou a capitã, você tem que me obedecer - ergui novamente as sobrancelhas e ele sorrio.

E mais uma vez o silêncio.

- Eu vou viajar - falou e então começou a encarar as próprias mãos.

Tinha algo muito errado ali.

- Viajar ?
-Sim, ordens da capitã...

- Suprema - completei.

Ele suspirou.

- Um primo dela está doente e ela quer vê-lo antes de ele... você sabe... - ele ainda encarava as mãos e então deu de ombros.
- Morrer - sussurrei mais pra mim do que pra ele - sinto muito Nien. - segurei uma de suas mãos.

- Está tudo bem - ele sorrio de leve e finalmente me olhou - são só três dias.
- Okay, eu vou convencer a mamãe, vai ser mais difícil por ser o último mês de aula, mas eu consigo, vai ser...
- Schhhh - ele apertou minha mão de leve e sorriu - você não vai Eny.

Puxei a mão e me afastei.

- Você não pode esta falando sério.

Se eu podesse me ver naquele momento, tenho certeza que veria a frustração estampada em meu rosto.

- A mamãe acha melhor só ir eu e ela, nem a Vic vai, me descul...
-A Vic é uma cadela Nien, eu sou como sua irmã, sempre estamos juntos, para sempre juntos lembra ? Nunca fiquei um dia sem você, como vou aguentar três ?

Ele acariciou minha mão.

- Eu sinto muito, não vai ser tão difícil, eu prometo. Vou sair hoje a noite, volto na terça a tarde, venho te ver e passo a noite contigo, só tenta me entender.

Respirei fundo.

Eu não queria entender, era óbvio, ele estava escondendo algo de mim.

- Tenha uma boa viajem, Nien Stiu.

Levantei e dei passos firmes até está de volta a chuva.

- Me desculpa - ele correu até mim e segurou o meu braço. - Eu só não posso...
-Tudo bem, você quem sabe - encarei sua mão segurando meu braço.

Pude ouvir seu coração se partir, mas mesmo assim ele me soltou.

Nós nunca tinhamos brigado, não que isso tenho sido uma briga, não perto das que viriam.

- Tudo bem - ele suspirou.

Continuei a andar tentando não olhar pra trás. Até onde conseguir perceber ele permaneceu lá, na chuva. Nenhuma batida de porta, nenhum resmungo, nada. Ele estava me deixando ir, e eu estava tendo que aceitar.

"Eu estou bem."Onde histórias criam vida. Descubra agora