Capítulo 26

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 Era a quinta vez que eu levantava.

 Graças a todos os equipamentos eu não tinha nenhum arranhão fora a vermelhidão em minhas mãos.

 Mesmo em meio a todas as quedas eu sorria e parecia uma completa idiota, sozinha em uma praça vazia. Apesar de ser um ponto bem visitado, depois das sete da noite a praça costumava estar mais calma.

 Quando finalmente na sexta tentativa eu consegui me equilibrar e dar mais do que dois passos me assustei ao ver alguém em minha direção, o mesmo cabelo escuro caído nos ombros e o jeito desengonçado de andar que havia visto a uns dias, então levei a sexta queda.

- Ai meu Deus - ele gritou e correu até mim para me ajudar a levantar.

 Comecei a rir descontroladamente deitada no chão.

- Você está bem? - ele me olhou preocupado.

- O Nien é um idiota - coloquei a mão na barriga que já doía de tanto ri.

- Quem? - o moço ergueu uma das sobrancelhas me olhando - e por que você está aqui de pijama? - ele levantou e me estendeu a mão.

 Aceitei e levantei.

- Estou experimentando meu novo presente - levantei um dos pés e balancei o patins rosa já empoeirado.

- Ah - ele fingiu entender e então eu percebi que ainda estava segurando sua mão. 

- Acho que já deu por hoje - soltei minha mão da dele e fui até um banco tirar o patins.

- Você não explicou o motivo do pijama - falou ele vindo atrás de mim.

 Olhei para mim mesma, sorri sozinha e dei de ombros o olhando.

- É tipo uma nova moda que eu ainda não estou sabendo? Porque vou adorar dividir com o mundo minhas pantufas do Bob esponja.

- Você tem uma pantufa do Bob esponja? - o olhei erguendo uma das sobrancelhas e sorri.

- E uma do Patrick.

- Devem ser lindas - baixei o olhar enquanto guardava os patins - bom - levantei - Como eu disse está na minha hora, foi um prazer moço... - estendi a mão para ele.

- Guilherme - ele apertou minha mão.

- Isso! Guilherme - me afastei - Boa noite.

 Quando estava a certa distância o ouvir gritar

- Mas você não me disse seu nome.

 Me virei e o olhei.

- Isso importa? 

- Mas não custa nada. - ele rebateu.

 Sorri, dei de ombros virando de costas para seguir o meu caminho e gritei.

- Meu nome é a décima quarta letra do alfabeto.

 Pude ouvir ele ditando as letras até o "J", depois não ouvi mais, já estava muito longe.

 Passei a noite em claro encarando o teto e pensando como tudo seria diferente se ele não tivesse partido. Meu aniversário estava chegando e no mínimo já tínhamos programado tudo pra fazer na data. Nunca fui de gostar de bolo, muitas pessoas e presentes. Preferia estar ao lado de quem amo, fazendo algo que ficasse na minha mente pra sempre e marcasse a minha vida. Desde sempre é isso que acontece, o Nien planeja algo e nós seguimos seu roteiro. No meu aniversário de sete anos estávamos a caminho da praia e o meu presente foi um acidente, ficar sem meu pai e sem um ano da minha memória, foi o pior aniversário. Desde então passei a odiar viagens de carro.

 No meu aniversário de dezessete anos, no ano anterior, nós fomos a um dos restaurantes mais caros da cidade, um que eu sempre quis entrar quando criança, então o Nien me levou lá. Foi um dos melhores dias da minha vida, assim como todos que o Nien estava.

Mas esse ano eu me sentia vazia, a minha única vontade era passar o dia inteiro na cama e eu esperava mesmo fazer isso, até minha mãe bater na porta ás sete da manhã do meu décimo oitavo aniversário.

"Eu estou bem."Onde histórias criam vida. Descubra agora