Era a quinta vez que eu levantava.
Graças a todos os equipamentos eu não tinha nenhum arranhão fora a vermelhidão em minhas mãos.
Mesmo em meio a todas as quedas eu sorria e parecia uma completa idiota, sozinha em uma praça vazia. Apesar de ser um ponto bem visitado, depois das sete da noite a praça costumava estar mais calma.
Quando finalmente na sexta tentativa eu consegui me equilibrar e dar mais do que dois passos me assustei ao ver alguém em minha direção, o mesmo cabelo escuro caído nos ombros e o jeito desengonçado de andar que havia visto a uns dias, então levei a sexta queda.
- Ai meu Deus - ele gritou e correu até mim para me ajudar a levantar.
Comecei a rir descontroladamente deitada no chão.
- Você está bem? - ele me olhou preocupado.
- O Nien é um idiota - coloquei a mão na barriga que já doía de tanto ri.
- Quem? - o moço ergueu uma das sobrancelhas me olhando - e por que você está aqui de pijama? - ele levantou e me estendeu a mão.
Aceitei e levantei.
- Estou experimentando meu novo presente - levantei um dos pés e balancei o patins rosa já empoeirado.
- Ah - ele fingiu entender e então eu percebi que ainda estava segurando sua mão.
- Acho que já deu por hoje - soltei minha mão da dele e fui até um banco tirar o patins.
- Você não explicou o motivo do pijama - falou ele vindo atrás de mim.
Olhei para mim mesma, sorri sozinha e dei de ombros o olhando.
- É tipo uma nova moda que eu ainda não estou sabendo? Porque vou adorar dividir com o mundo minhas pantufas do Bob esponja.
- Você tem uma pantufa do Bob esponja? - o olhei erguendo uma das sobrancelhas e sorri.
- E uma do Patrick.
- Devem ser lindas - baixei o olhar enquanto guardava os patins - bom - levantei - Como eu disse está na minha hora, foi um prazer moço... - estendi a mão para ele.
- Guilherme - ele apertou minha mão.
- Isso! Guilherme - me afastei - Boa noite.
Quando estava a certa distância o ouvir gritar
- Mas você não me disse seu nome.
Me virei e o olhei.
- Isso importa?
- Mas não custa nada. - ele rebateu.
Sorri, dei de ombros virando de costas para seguir o meu caminho e gritei.
- Meu nome é a décima quarta letra do alfabeto.
Pude ouvir ele ditando as letras até o "J", depois não ouvi mais, já estava muito longe.
Passei a noite em claro encarando o teto e pensando como tudo seria diferente se ele não tivesse partido. Meu aniversário estava chegando e no mínimo já tínhamos programado tudo pra fazer na data. Nunca fui de gostar de bolo, muitas pessoas e presentes. Preferia estar ao lado de quem amo, fazendo algo que ficasse na minha mente pra sempre e marcasse a minha vida. Desde sempre é isso que acontece, o Nien planeja algo e nós seguimos seu roteiro. No meu aniversário de sete anos estávamos a caminho da praia e o meu presente foi um acidente, ficar sem meu pai e sem um ano da minha memória, foi o pior aniversário. Desde então passei a odiar viagens de carro.
No meu aniversário de dezessete anos, no ano anterior, nós fomos a um dos restaurantes mais caros da cidade, um que eu sempre quis entrar quando criança, então o Nien me levou lá. Foi um dos melhores dias da minha vida, assim como todos que o Nien estava.
Mas esse ano eu me sentia vazia, a minha única vontade era passar o dia inteiro na cama e eu esperava mesmo fazer isso, até minha mãe bater na porta ás sete da manhã do meu décimo oitavo aniversário.
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"Eu estou bem."
Misterio / SuspensoO sonho de toda garota é viver um romance, o de Eny Clar é apenas não viver o drama que é sua vida. Quando criança Eny perdeu o pai e um ano de sua memória em um acidente de carro, mas conheceu seu melhor amigo pela segunda vez. Até então aquilo par...