"Eu estou bem."

Capítulo 21

"Olá, capitã.

 Essa carta é para caso você não tenha seguido as pistas ou me ignorado. Eu espero sinceramente como um bom fantasma que você ao menos tenha tentado, não quero ter que puxar seu pé a noite.

 Bom, se você não pegou as outras cartas você não foi ao acampamento, por que essa carta esta tendo uma data exata para chegar até você e ela é pra depois do acampamento, e se você pegou a carta e não foi para o acampamento, eu só posso dizer que já esperava. 

 Eu espero que a caixinha não tenha se perdido. Você já a abriu? Se não, a pegue agora e abra... E ai?.. Gostou? Eu comprei essa pulseira em uma feirinha, espero que a use. Comprei pra mim também, mas a perdi no mesmo dia, então essa daí é única. O vendedor disse que ele mesmo as fez e eu perguntei se haviam outras dessas e ele disse que não, então pedi para que não fizesse mais, queria que fosse unicamente nossa, mas agora é unicamente sua. Vai te dar sorte, espero que a guarde ou use - que use de preferência - com carinho.

 Vamos as dicas da próxima carta? 

É um lugar que você odeia e que eu adorava. Procure alguém careca e ele te dará o que procura.

 Boa sorte e eu te amo, muito.

 - Do seu fantasma, Nien."

 Realmente ele tinha mesmo programado a data da carta. A boate só abria da sexta ao domingo e era uma sexta feira.

 Parabéns, Nien.

 Quando a noite chegou me arrumei, mas não de verdade. Coloquei meu vestido verde que era apenas confortável, prendi o cabelo em um coque, passei um pouco de gloss e um sapato em um salto 8 centímetros. Estava ótimo.

 Desci as escadas e como de costume encontrei a mamãe dormindo no sofá. Desliguei a TV e a cobri.

 A fila estava grande como normalmente, mas eu já sabia o que fazer. Respirei fundo e segui em frente. Quando cheguei na frente do segurança sorri para ele e ele me deixou passar, sem nenhuma dificuldade. Eu já esperava.

 Som alto, muitas pessoas, aquilo definitivamente não era minha praia. Meu olhar disparou a procurar os homens carecas, e esse era o problema.

 Eles eram muitos.

 Quanto mais eu olhava ao redor, mais apareciam, por todo lado. Fui até o bar, pegar uma água e ir embora, eu não iria encontrar o tal careca, o Nien deveria ter sido mais específico. Mas ao chegar no bar, vi um sorriso e mais acima dele uma careca. Bingo, só podia ser ele.

- Era você que eu tinha que achar? - falei um pouco mais alto para que ele pudesse me ouvir.

 Sem falar mais nada ele pegou de baixo do balcão uma pequena carta um pouco amassada e me entregou. Antes que eu pudesse agradecer ele falou.

- Sinto muito por sua perda.

Peguei a carta e sorri para ele como agradecimento. Eu só precisava sair dali e foi o que eu fiz.

 Resisti a vontade de abrir a carta, queria fazer isso em casa, quietinha.

 Enquanto estava dirigindo de volta para casa, passei pelo parque e resolvi parar. Haviam algumas coisas que eu queria realmente ignorar, aquele lugar ou parte dele era um deles, mas eu sentia falta e com a carta, iria parecer que eu estava com ele. Tirei os sapatos e saí do carro descalça com a carta na mão. 

 Observei o grande espaço vazio e agradeci pelo que vi. 

 Caminhar descalça pela grama era uma das sensações bobas que eu adorava e sempre que eu podia fazia isso.

 Entrei por entre as árvores em direção a floresta, seria uma caminhada de dez minutos até a parada final.

 Respirei fundo e segui.

 Quando tínhamos de dez para onze anos eu e o Nien descobrimos esse lugar. Não era nada especial, até nossos momentos o tornarem especial. Depois do nosso banquinho na frente da casa dele, aquele era meu segundo lugar favorito. Lá guardávamos momentos únicos, como da vez que nós compramos umas cinco barras de chocolate e fomos para lá comer todas, só pra não dividir com nossas mães - não nos julguem, vocês fariam o mesmo. - Ou quando ingerimos bebida alcoólica pela primeira vez, assim como nosso primeiro beijo. Nós nunca fomos um casal, mas teve uma época em que confundimos um pouco as coisas e essa é uma história engraçada.