Passei o resto do dia tentando adivinhar onde o Nien poderia ter deixado o bilhete. Fui em mais duas bibliotecas da cidade e nada, nenhum vestígio, nenhuma pista.
Me joguei na cama me sentindo derrotada e eu odeio essa sensação.
Pensa Eny, você deve está esquecendo de alguma coisa - pensei enquanto encarava o teto.
A noite se aproximava, o céu estava em um tom de laranja, quase rosa, do jeito que eu amava. Pude observar pela janela o sol dando lugar a lua e foi ali que me dei conta. A pista era livros, não biblioteca. Olhei para minha estante que dias antes tinha sido arrumada pelo Nien e depois eu tinha bagunçado mais uma vez.
Era ali. Só podia ser ali.
Levantei e comecei a vasculhar os livros um a um. Procurei entre eles, dentro deles, por toda parte e nada.
Sentei no chão, ao lado de todos os meus livros e respirei fundo. Por dois minutos quis desistir, quis jogar tudo pro alto e ligar o foda-se pra tudo mais uma vez, até que vi um livro estranho... ele não era meu, não mais. O peguei e procurei algo... uma pista, um bilhete, palavras sublinhadas, mas não tinha nada. Até que me concentrei no título: "O medo da minha infância".
A tia Suzi, alguns anos atrás tinha me contado uma história. Quando o Nien começou a estudar tinha a mania de chegar em casa e jogar tudo de baixo da cama, o que só dava trabalho para ela. Um dia ela disse pra ele que se ele não arrumasse ia mandar um monstro ficar sempre de baixo da cama dele. Ele não acreditou e simplesmente não arrumou nada, por coincidência naquela mesma noite um rato resolveu passar pelo seu quarto e fez um barulho, ele assustado, lembrando do que a tia tinha falado implorou para que ela mandasse o "monstro" ir embora e ela disse que quando ele arrumasse a bagunça ela faria isso. Ele arrumou o quarto mas simplesmente tomou trauma da cama, passou quase um ano dormindo em rede até que por algum motivo o medo passou.
Me arrastei até próximo a cama e estava lá, uma pequena caixa preta. Dentro dela havia uma carta e um pequeno panfleto que dizia:
"XIV Acampamento para recém-formados."
"Eai, capitã? Foi difícil? Espero que tenha sido.
Então vamos lá... o livro está perto de você? Se não o pegue. Pegou? Okay.
Você já conhece a história do meu medo, mas tem uma história que não conhece. Está vendo esse livro? Está vendo que ele está meio desgastado? Eu o tenho a bastante tempo!
Uma garotinha a qual eu conheci tinha acabado de ganhar ele dos pais, mas não hesitou em me emprestar quando soube do meu medo. Ela era incrível, não havia egoísmo algum em nada que fazia, em nenhuma palavra que dizia, mas eu a perdi. Pouco tempo depois ela sofreu um acidente e esqueceu de mim, esqueceu também que tinha me emprestado um livro maravilhoso e eu com todo meu egoísmo resolvi guardá-lo para mim, quando ela recuperasse a memória eu devolveria para ela, mas isso nunca aconteceu.
Mesmo assim a doçura do seu sorriso ainda estava lá, mesmo que não lembrasse de mim ela ficou triste por não lembrar e me fez contar tudo que tínhamos vivido, e eu contei, só escondi algumas coisas, coisas que meu egoísmo não deixou dividir, mesmo naquela idade, como esse livro e outras coisas que ela ainda vai descobrir.
Ela nunca deixou se abalar com os problemas, ela era meu maior porto seguro, era minha âncora na vida e acredito que eu também era na vida dela. Até que meu egoísmo, ou o egoísmo da vida, quis pagar na mesma moeda. Ela se esqueceu de mim e eu sumiria da vida dela. Mas eu não me deixo vencer fácil, por ela eu ignorei meu egoísmo, eu não deixaria que ela esquecesse de mim mais uma vez, eu nunca permitiria isso e é por isso, que mesmo não estando presente em vida, quero estar presente no coração dela. Espero que ela me entenda, espero que ela entenda o recado do panfleto, espero que ela seja feliz sem mim, por que como ela me disse uma vez 'A minha felicidade depende da sua'."
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"Eu estou bem."
Mystery / ThrillerO sonho de toda garota é viver um romance, o de Eny Clar é apenas não viver o drama que é sua vida. Quando criança Eny perdeu o pai e um ano de sua memória em um acidente de carro, mas conheceu seu melhor amigo pela segunda vez. Até então aquilo par...