Capítulo 20

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 - Mãe chegou correspondência.

 Gritei, coloquei a caixa na mesa a fui correr.

 Desde que as pistas e as cartas pararam de aparecer eu tentava fazer qualquer coisa para me ocupar. Mente vazia atrai lembranças não desejadas.

 O dia não estava quente, mas também não estava frio, apenas agradável. Eram nesses dias que eu e o Nien costumávamos fazer piquenique no parque e são nesses dias que eu decido apenas correr. 

 De manhã cedo não tem muita gente por lá e já que eu procuro trazer um pouco da paz que perdi, ficar em um lugar ao ar livre, com os fones de ouvido e as árvores ajudava muito, pessoas ás vezes só atrapalham.

 O parque era relativamente grande. Havia uma grande parte gramada, ao redor havia também uma trilha em formato redondo para o corredores e as árvores acompanhavam o mesmo formato. Mais á frente um pequeno lago espelhava as crianças que brincavam.

 Dei várias e várias voltas.

 Por mais que não costumasse correr por lá, o Nien dizia que ficava tonto correndo em círculos, então, nós corríamos por entre as árvores ou na pequena floresta que havia por trás das árvores próximo a trilha.

 Outra coisa proibida na corrida com o Nien eram fones de ouvido. Para ele correr era uma forma de pensar, de "alimentar a alma" ele diria. Mas a última coisa que eu precisava naqueles últimos dias era pensar e já que eu estava evitando fazer qualquer coisa que me lembrasse ao Nien - mesmo sendo impossível - eu ignorei a regra idiota dele.


- Aaaiii - soltei um pequeno grito ao sentir um corpo esbarrar ao meu do nada e caí no chão.

- Ai meu Deus, me desculpe. - O garoto, que aparentava ter a mesma idade que eu, com seus cabelos escuros e olhos bizarramente verdes levantou rapidamente e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Aceitei.

- Está tudo bem - suspirei já de pé e limpei um pouco da grama que estava por minha blusa.

- Me desculpa mesmo - ele coçou o pescoço meio envergonhado - eu estava distraído e ...

- Eu também estava - o interrompi - não foi nada - comecei a sair mas ele me interrompeu.

- Você mora aqui por perto?

- Ah, sim, a um quarteirão daqui - o encarei por um momento - é novo por aqui não é?

- Sou sim - ele abriu um sorriso - Cheguei ontem e por falar nisso deveria estar em casa desfazendo uma das caixas ou sei lá - sorrimos juntos - mas ontem quando estávamos chegando eu vi esse lugar e precisei conhecer.

- Ah - sorri desinteressada - então seja bem vindo e aproveite o lugar - me despedi com um aceno e fui para casa.


- Mãe cheguei - anunciei ao entrar em casa e pude a ver na cozinha - já está ai? - sorri.

- Estou - ela me olhou rapidamente sorrindo e depois voltou o olhar para a panela.

- Mas ainda são nove da manhã - me aproximei e beijei sua bochecha.

- Não tem hora pra cozinhar, Eny - ela me olhou e levou a mão ao nariz - aí garotinha, pro banho, agora.

- Ah mas eu estou tão cheirosinha - a abracei e ela se afastou rindo.

- Eny, eu já tomei banho essa semana e você sabe que só tomo banho uma vez.

- Ta, ta - sorri - desculpa versão feminina do Cascão - subi as escadas, mas antes de entrar no quarto a ouvi gritar.

- Chegou uma encomenda pra você, está no criado mudo.

"Eu estou bem."Onde histórias criam vida. Descubra agora